quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Suspender = adiar = agravar

A decisão ontem conhecida, segundo a qual o presidente da câmara solicitou a suspensão de funções por 60 dias, é a pior que podia ser tomada, tendo como referência os interesses da cidade e do concelho. Com efeito, na política há sempre dois tipos de problemas -os que se resolvem com o tempo e os que, pelo contrário, quanto mais se adiam, mais se agravam. O problema tomarense é deste último tipo. Arrastados para uma aventura de evidente esbanjamento de recursos, que apenas serviram para obras de fachada, num caso ou outro com alguma utilidade, mas sem retorno negociável, os partidos e os eleitos locais ficaram atordoados quando o então piloto concelhio -António Paiva- apesar da folgadíssima maioria de que dispunha, resolveu abandonar o barco em plena viagem rumo ao desconhecido, dada a ausência de planos de viagem adequados às circunstâncias.
Desde então, a decadência tem sido evidente, constante e cada vez mais acelerada, como qualquer eleitor bem informado e bem intencionado tem podido constatar. Agravada pela absurda mas real crença dos instalados no poder de que estão a prestar um bom serviço aos tomarenses, "que precisam de ser governados". Ou seja, em vez de encararem a situação como ela é na verdade -trágica, inquietante e em constante evolução negativa- agarram-se aos lugares bem pagos que conseguiram, justificando-se com falsos pretextos de circunstância. Um deles, o mais corriqueiro, consiste em segredar aos apaniguados que quem prefere eleições antecipadas apenas almeja alcançar o poder, para depois fazer o mesmo ou pior do que os actuais governantes.
Trata-se como é evidente de uma justificação falaciosa. Por um lado porque ninguém pode saber antecipadamente quais os candidatos, os programas ou os resultados de eleições intercalares, quanto mais agora a forma como o novos eleitos exerceriam o poder. É mais ou menos o mesmo que garantir hoje que vai chover no Dia da Cidade. 
Por outro lado, intitular-se de "autarca" ou de "governante" é na maior parte dos casos um óbvio abuso de linguagem. Melhor seria dizer "ocupante provisório das cadeiras do poder", pois tal como um restaurante só merece a designação quando serve comida e de qualidade, também um eleito só pode ser considerado autarca ou governante quando efectivamente administre capazmente os assuntos que pela comunidade lhe foram confiados, após se ter candidatado e sido eleito.
A culpa é, por conseguinte, dos eleitores? Apenas em certa medida. Os grandes responsáveis são realmente aqueles que, obcecados pela ganância, pela inveja e pela basófia, inchados pelas afigurações, se candidatam a funções para as quais se vem depois a constatar que não tinham nem têm um mínimo de condições. Uma vez que na vida muito se vai sempre aprendendo, menos a inteligência, que ou se tem ou não, seguem-se os desastres e os dramas, do tipo daquele em que agora estamos metidos.
Claro que os tais instalados tudo fazem e farão para manterem, até que seja possível, até que os eleitores consintam, o contacto com a teta do poder. A tal gamela, ou mangedoura, consoante os casos. Compreende-se, uma vez que as mesmas causas produzem sempre os mesmos efeitos. A ganância, a inveja e as afigurações que motorizaram a sua ascensão, impedem que vejam as coisas como elas são, e tomem a decisões que se impõem.
Resta esperar que a oposição, sobretudo os socialistas, que ao abandonarem confortáveis benesses demonstraram elevado sentido de cidadania, bem como todos aqueles que na Assembleia Municipal nunca se cansaram de protestar contra evidentes insanidades, tenham a coragem suficiente para obrigar a relativa maioria a renunciar ao "bem bom", que já ocupa há mais de 14 anos. Com os brilhantes resultados que estão à vista de todos. Será pedir demasiado?

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