Em noite de Ano Novo, nada melhor que uns recados para os eleitos locais. Pode ser que os leiam ainda antes das doze badaladas. Ou amanhã, procurando curar a ressaca. Entretanto, aproveito para endereçar a todos votos de um 2012 o menos mau possível. Se houver eleições intercalares à beira-Nabão já ficarei satisfeito. E continuo convencido de que são praticamente inevitáveis, entre outros motivos por uma questão de higiene mental.
"Não vale a pena vender ilusões. Muitos ficarão pelo caminho. Mas os outros, os que resistirem, têm a certeza que o futuro pode ser construído em bases sólidas e não em cima de castelos de areia. É por isso que as reformas que aí vêm... ... não podem ser tímidas, feitas por gente com medo de descontentamentos, protestos ou mesmo violentas contestações sociais. Não há lugar para recuos, hesitações, medidas dúbias para agradar a gregos e a troianos. É preciso determinação e coragem. É preciso clarividência para explicar às pessoas que não há outro caminho, que muitos vão ficar sem os direitos adquiridos ao longo de muitos anos e que o Estado não tem dinheiro para socorrer todos os que vão ser atingidos em cheio pela crise e pelos remédios necessários para a ultrapassar o mais rapidamente possível. É preciso dizer a verdade e não esconder as muitas tragédias provocadas por esta aterragem de emergência de uma nave que andou em altos voos sem tripulação à altura e sem dinheiro para pagar o combustível. Os resistentes, os mais fortes, os que aguentarem estoicamente esta violenta ressaca, também devem saber que o futuro não será necessariamente melhor, não depende apenas do seu esforço e da sua vontade. Mas também devem saber que sem isso não há solidariedade europeia e internacional que os salve. O mundo mudou e muito. 2012 vai ser o primeiro ano da nova era em todo o planeta. Nada será como dantes."
António Ribeiro Ferreira, editorial, i, 31/12/2011, página 2"Uma forma infalível de compreender o porquê dos acontecimentos é causá-los. Parece profético mas é um disparate. Ideias como "só me arrependo do que não fiz" revelam uma pobreza de espírito digna de compaixão. Cometemos erros, sim, mas seria muito melhor se não tivéssemos sido autores, actores, espectadores e vítimas de algo...errado.
É ainda pior que esta inconsciência leve os sujeitos a ignorar os primeiros sinais adversos, mais subtis. Nestes casos, ou os acidentes são suficientemente grandes para ultrapassar a anestesia da ignorância, ou nem sequer são percebidos. É possível compreender muitos aspectos da vida sem ser necessário errar. Outros, nem errando. É necessário tempo, domínio de si e uma certa sabedoria. Tempo para percorrer caminhos interiores; domínio de si para não ceder aos gritos da necessidade de conclusões rápidas; e a sabedoria humilde que faz aceitar que existem lógicas mais complexas que as que somos capazes de compreender.
A sabedoria, mais que cumulativa, é subtractiva. Se pensarmos bem, vamos aprendendo o que não fazer, como não fazer, em quem não confiar, etc. O nosso intelecto vai ganhando, progressivamente, capacidade de filtrar o lixo que o povoa.
Um sábio não é alguém que vê o extraordinário, mas sim aquele que conseguiu ficar cego em relação a coisas para as quais os outros olham. Antes disso, é preciso inteligência e confiança para aceitar que aquilo que faz sentido, no fundo, talvez não faça sentido nenhum."
José Luís Nunes Martins, i, 31/12/2011, página 13
1 comentário:
Longa arenga que, espremida, nada pinga.
Digamos que uma rabuscada "punheta" intelectual para tugas lerem(?) e ficarem na mesma...
Com todo o respeito,
Virgílio Lopes
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