Três assuntos merecem referência nesta edição d'O Templário: "Postal do presidente da câmara ao Menino Jesus", na página 16; "Obras no IC3 destroem casas", em manchete; "Morreu Amândio Murta", páginas 8 e 9. Começo pela saborosa "croniqueta" já citada, subscrita enigmaticamente por SC, que interpreto como "Santo da Casa", mas daqueles que fazem o milagre de escrever em português com correnteza e imenso sumo. Tomo a liberdade de transcrever o primeiro parágrafo, dos oito bem nutridos que compõem a peça: "Remetido o autarca ao silêncio, por alegado motivo de doença, resta-nos a simulação de uma carta de Corvêlo de Sousa ao Menino Jesus. Neste caso é apenas um suponhamos, até porque é mais fácil comunicar com o Menino Jesus de forma oral do que escrita." Já está com água na boca? Então toca a ir comprar o jornal, que o Zé Gaio agradece. Há cada vez mais despesas e menos publicidade.
O tema seguinte, as obras no IC3, tem um título algo aleijado. A crua realidade é que o alargamento da referida via vai obrigar a demolir algumas casas, previamente expropriadas e pagas. Tudo normal e legal, por conseguinte. Como de resto se refere em chamada de título. Não há portanto qualquer destruição violenta, inopinada, provocada por acidente ou cataclismo natural. Apenas a compreensível lamúria de pessoas que nunca se habituam à mudança nem aos imponderáveis da vida. Decerto influência da nossa conhecida ascendência árabe.
O falecimento do antigo delegado de saúde e presidente da câmara pela AD, Amândio Murta, constitui o terceiro assunto a comentar. Apesar de o semanário lhe dedicar duas páginas e uma extensa lista de realizações durante os seus dois mandatos, nada consta sobre a que me parece ter sido de longe a mais importante -o estatuto de Património da Humanidade para o Convento de Cristo, cujo processo de candidatura tive a honra de preparar e que defendeu galhardamente em Friburgo (Suiça). Aqui fica a ressalva.
Cidade de Tomar noticia também o desaparecimento de Amândio Murta, a mudança de administração nos hospitais da região e uma série de opiniões de figuras locais sobre a quadra do Natal. Na habitual "distribuição natalícia de livros" do nosso conterrâneo e amigo António Freitas, na página 30, este ano tocou-me "Diz-me quem sou", de Júlia Navarro. Confesso ainda não ter percebido. Julgo porém que as explicações não vão tardar.
Outro tema assaz peculiar é o caso da estação de serviço a construir na A13, à qual a concessionária pretende atribuir a designação de "Área de serviço da Atalaia". Movidos pelo feitio manuelino característico de muitos nabantinos, os senhores autarcas mostram-se indignados com semelhante nome de baptismo. Como se, no actual contexto de globalização, isso tivesse alguma relevância! Além de em qualquer país minimamente moderno as autarquias nada terem a ver com os nomes escolhidos pelas concessionárias de vias rápidas que atravessem a zona. Mas aqui em Tomar os senhores do executivo ainda parecem continuar convencidos de que são donos e pais do concelho e dos seus habitantes ou equiparados. Mercado, ciganos, Convento de Santa Iria, Museu da Levada, défice dos TUT, Estrada do Convento, Saneamento no Núcleo histórico, mazelas na Sinagoga e na ex-biblioteca, agora sede da Assembleia Municipal?!?! Isso agora não interessa nada. Importante é a futura área de serviço, que não pode chamar-se da Atalaia, porque fica na Asseiceira. Francamente!!!
Não faltam as usuais catilinárias a propósito do vereador Luís Ferreira, nesta edição d'O MIRANTE. O seu proprietário parece não dar-se conta do ridículo da sua campanha, que, entre outras consequências, me leva a defender um tomarense em relação a cuja acção política tenho algumas divergências. Simplesmente, temos de concordar ser bastante insólito e descabido zurzir sempre no mesmo autarca, num conjunto de sete. Os outros seis nunca pecam? Ou será apenas que, não sendo amigos de Joaquim Rosa do Céu, estão a salvo da habitual acidez de JAE?
"Autarcas de Tomar temem que processo de extinção de freguesias seja uma guerra", titula o mesmo semanário. Julgo não haver razões para tanto. Nem lá perto. Trata-se apenas de mais uma manifestação da nossa ascendência árabe já antes invocada. Nos anos 60 do século passado, aquando da independência da Argélia, antes governada pela França, uma das grandes questões surgidas foi a de saber se daí em diante as mulheres deviam ou não usar o niqab, o conhecido véu para cobrir parcialmente o rosto. Quando interrogados pelos sociólogos e pelos jornalistas, todos os argelinos disseram o mesmo: Claro que não! Devem continuar a andar todas com a cara destapada, como até aqui! Menos a minha mulher, que já não tem idade para isso."
Assim parecem estar os presidentes de junta. Redução de freguesias? Força! Quanto antes! Mas poupem a minha, que já tem muitos séculos, faz muita falta e cuja supressão pode provocar a revolta violenta da população. Estes aprendizes políticos são cá uns artistas na arte da linguagem perifrástica!!!
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