quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Um livro iconoclasta, desencorajante e agressivo


Eis uma obra que, consoante o ponto de vista, será considerada notável e indispensável ou, pelo contrário, execrável, falhada e inútil. Isto porque o seu autor não só ataca tudo e todos na sua área, como para agravar as coisas usa um estilo directo, "oral", tipo fisga. Dois exemplos: " O PIB português é de 17.000€ por ano por cada português. Isto quer dizer que uma família de quatro pessoas tem um rendimento de 4.570€/mês. Mas não, a realidade é muito inferior, o que traduz que há parcelas que são contadas mais do que uma vez no PIB.
Depois ouvi o Louçã repetir isto. Ele é economista e deveria saber a verdade, mas aceita-se num político esquerdista demagógico. Mais estranho fiquei ao ouvir este número em colegas meus. Pensei: estes gajos estão malucos. Mais uns esquerdistas, broquistas, sindicalistas, demagógicos." (Página 33)
"Mas esses políticos sabem que o acesso aos bens materiais é de primordial importância para a felicidade de cada um de nós. Mesmo o candidato esquerdista a Presidente da República que dizia ser a poesia o mais importante na vida, nunca atacou os outros com um poema. "A crise é total, até acabaram com as quadras de Natal/Acabaram com os trovadores, com os poetas e com os otários/Nem sabe quantos cantos fez Camões, só se preocupa com aviários/ A mim ninguém me cala, mas é melhor pôr a viola na mala." (Página179)
Além deste estilo solto, avulta a arrogância deliberada, provocadora: "Apesar de o Stiglitz e o Krugman serem Prémio Nobel e eu (ainda) não, vou procurar demonstrar que ambas estas teorias estão erradas. ... ... ... José, pá, Paulo, pá, se estais a ler este livro, desculpai-me, mas vocês só podem defender estas teorias num momento de loucura." (Página 37)
... ... ..."Se formos a um banco e pedirmos um milhão de euros, dizem-nos que não. No entanto, se levarmos como avalista, por exemplo, o Sr. Eng. Belmiro de Azevedo, eles não só nos emprestam como ainda nos trazem um cafezinho." (página 134)
Em suma, um livro a ler quanto antes -ia a escrever enquanto é tempo- pois embora desencorajante, agressivo e com peculiar estilo, o seu autor tem a coragem de enumerar as verdades mais incomodativas e inconvenientes, do tipo "Os cubanos da Europa não nos vem salvar" (página 140)

Pedro Cosme Vieira, Acabou-se a festa: soluções ousadas para Portugal, Edições Vogais, contactos@vogais.pt, 1ª edição Outubro 2011, 255 páginas, 15 euros. Boa leitura divertida!

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