quarta-feira, 25 de abril de 2012

Até que finalmente os militares...

Foto 1 - O caminho para a Porta da Almedina ou do Sangue.

 Foto 2 - Restos de um dos cubelos da muralha derrocada no século XIX.

Foto 3 - Outro vestígio da muralha que desabou no século XIX

Foto 4 - A lápide certificando ter sido o 2º conde de Tomar a custear a obra de restauro da muralha que desabou.

Foto 5 - Uma perspectiva da antiga porta da Almedina, até agora impossível de obter, devido à vegetação existente.

Os mais novos não sabem e por isso vale a pena contar. Durante os 48 anos de ditadura, as oposições civis não estiveram inactivas. Tentaram por diversas vezes conseguir a queda do regime. Sem sucesso. Até que os militares do MFA venceram logo à segunda revolta. A primeira fora em 16 de Março. Uma coluna motorizada de Infantaria 5 avançou do seu aquartelamento, nas Calda da Rainha, até à entrada de Lisboa. Aí resolveram regressar ao ponto de partida. Saiu então de Tomar uma outra coluna militar pró-governamental, que foi cercar o quartel dos revoltosos, tendo conseguido a sua rendição.
Após o sucesso do 25 de Abril, disse-se que a intentona falhada das Caldas da Rainha mais não fora que um ensaio geral da depois chamada Revolução dos Cravos. Contudo, numa recente entrevista, o general Garcia dos Santos, encarregado das transmissões durante a revolta liderada pelo MFA, garantiu ter-se tratado apenas de um falhanço devido à habitual improvisação portuguesa.
Já o 25 de Abril foi planeado, segundo a mesma fonte, em conformidade com as normas NATO ou, como diriam os médicos, de acordo com as melhores práticas, sendo liderado por militares curtidos por várias comissões em África, com noites ao relento, rações de combate, roupa no corpo durante semanas, aquartelamentos em madeira e bidons a servir de chuveiros... Por isso, glória aos militares que ousaram revoltar-se! 25 de Abril sempre! Mas nada de novas aventuras. Agora temos um governo com origem em eleições livres e justas, que não deixa de ser legítimo só por implementar medidas demasiado severas. É dos livros que, enquanto houver liberdade de opinião, pluralismo partidário, imprensa livre e eleições não contestáveis, as armas devem manter-se nos quartéis. Mesmo se Otelo Saraiva de Carvalho, o estratega  do movimento militar vitorioso, pensa de modo diferente...
Todas estas considerações para chegar a uma analogia. Sem o MFA, muito provavelmente ainda hoje estaríamos a aguardar que a oposição civil conseguisse finalmente encarreirar. Da mesma forma, após mais de 50 anos de ineficazes protestos orais e escritos, tive hoje -finalmente!- a grande alegria de visitar a zona da Porta da Almedina ou do Sangue, limpa dos silvados como nunca esteve (Foto 1). Até já se conseguem identificar vestígios da antiga muralha templária, que derrocou no século XIX, devido às infiltrações originadas pela rega do actual laranjal (fotos 2 e 3). Vale a pena lá ir, para observar aquele troço sem alambor, ainda com os escombros da derrocada, cujos estragos foram parcialmente reparados pelo 2º conde de Tomar (foto 4). É também possível sacar novas perspectivas da outrora principal porta de acesso à povoação muralhada = almedina em árabe. Tudo isto porque finalmente os militares do RI 15 decidiram redignificar aquela parte do castelo onde, encimando a Porta da Almedina, se pode ver a mais antiga cruz templária nabantina, que é também o emblema do regimento aquartelado em Tomar.
Bem hajam portanto os briosos servidores das Forças Armadas, que mais uma vez se mostraram dignos do lema templário "Non nobis...(" Não por nós..."). Já Camões louvava há cinco séculos "Aqueles que por obras valorosas se vão da lei da morte libertando". Não consta porém que se tenha referido aos papagaios daquela época...

4 comentários:

Leão_da_Estrela disse...

Caro professor, não sei onde andou o meu amigo durante os 48 anos de escuridão, mas está a esquecer aqueles que passaram anos da sua vida na cadeia sem culpa formada, apenas porque sim e ainda os que foram assassinados...

Pois é, eram comunistas, quase todos, não interessa nada, não é?

Cumprimentos

Anónimo disse...

Está a ser injusto e parece-me que tresleu aquilo que escrevi. É claro que conheço bem a enorme coragem e os incontáveis sacrifícios de todos os que ousaram opor-se de forma activa ao regime anterior. Com destaque para os comunistas vítimas da polícia política, que merecem todo o meu respeito. Nunca disse nem nunca direi o contrário. Apenas assinalei que durante longuérrimos 48 anos, nunca a oposição civil, liderada de facto pelo PCP, logrou derrubar o poder ditatorial e castrador. Contra factos...

Leão_da_Estrela disse...

...não há argumentos, claro!

Mas não queira o meu amigo, permita que o trate assim, fazer de mim "tótó". O que quis dizer, ainda que lá não esteja, é que a oposição não foi capaz de dar a volta à coisa, por manifesta falta de capacidade, quando o que não faltava era organização. De resto, golpes de estado, liderados por civis, quantos aconteceram no último século?

Depois, não esqueça que "descamisados", sem apoio das elites, nunca conseguiram mudanças radicais nas sociedades e se atentar aos membros do MFA, estão lá todos os estratos da sociedade, desde os filhos dos cavadores, até aos filhos dos abastados, dos alferes milicianos aos generais e assim terá sido mais fácil, ou menos complicado, se quiser (recorde como se posicionou Spínola, p.e.).

Ainda assim, não fora a adesão espontânea do Povo logo no primeiro instante e provavelmente a bravura do Maia não teria acabado como acabou.

Mas tem razão, a sociedade civil não logrou derrubar o poder...

Cumprimentos

Anónimo disse...

Concordo consigo. Não faltava organização, mas também nunca houve entrosamento nem humildade nem solidariedade, suficientes para conseguir o grande objectivo pretendido. Exactamente como agora.
Já não me lembro quem escreveu que a história não passa afinal de uma longa cadeia de repetições...