Em França como em Portugal, que como dizia o Eça é a sua sucursal mais a ocidente, o grande anseio da esquerda toda, incluindo a mais moderada, é o relançamento da economia pela procura. Ou, noutros termos, a retoma pelo consumo. Mais sofisticado, o candidato socialista francês François Hollande, o mais provável vencedor da 2ª volta das presidenciais, conseguiu agregar em apenas duas medidas toda uma gama de implícitas esperanças para o povo de esquerda. Por um lado, confortando os que ainda continuam a ver no estado o generoso paizinho de todos os cidadãos menos favorecidos, anunciou a criação de mais 60 mil lugares para professores, naturalmente no quadro do Ministério da Educação, que um anterior ministro da pasta -o socialista Claude Allegre- alcunhou de "o Mamute". Naturalmente, o enarca socialista favorito para o próximo dia 6 de Maio esqueceu-se de indicar de onde virão os recursos para pagar aos novos funcionários docentes. Numa conjuntura em que o governo francês procura pelo contrário reduzir despesas na ordem dos 20 mil milhões de euros. Uma ninharia...
Na mesma linha de pensamento, porém jogando quiçá inadvertidamente com a tradicional inveja do eleitorado, avançou que, uma vez eleito, implementará uma nova taxa de 75% no IRS, para todos os contribuintes com rendimentos anuais superiores a um milhão de euros. É claro que, sobretudo os mais desprotegidos, os chamados ganha-pouco, já esfregam as mãos de contentes, enquanto vão salivando a nova fartura anunciada, que bem entendido será equitativamente distribuída através do tradicional maná estadual.
Infelizmente, Hollande não terá medido bem o alcance da medida fiscal anunciada. Assustados com semelhante espoliação, os detentores das grandes fortunas já tomaram as suas providências, aproveitando a situação geográfica da França. Bastou-lhes transferir os respectivos domicílios fiscais para Andorra, Mónaco, Alemanha, Bélgica, Itália, Espanha, Suiça ou Luxemburgo, todos com fronteira comum. A esta hora, além das transferências electrónicas, já milhares de malas de euros procuraram climas mais clementes, cruzando fronteiras praticamente sem controle.
Imitando Paris, a esquerda lisboeta navega nas mesmas águas dos socialistas gauleses. De forma menos sofisticada e convincente, é certo, porque não estamos em campanha eleitoral, mas sobretudo porque um escol político de qualidade não se consegue formar em apenas 38 anos de democracia plena. Veja-se o triste exemplo recente da Associação 25 de Abril e, mais surpreendente, de Mário Soares e Manuel Alegre, conhecidos francófilos.
Ainda assim, enquanto na Assembleia da República, Louçã, Jerónimo e Seguro vão clamando por medidas de relançamento, a CGTP aproveita a mobilização para o 1º de Maio para de forma mais explícita exigir aumentos. Aumento dos salários, aumento do salário mínimo, aumento das reformas e aumento das pensões. Além, claro está, do usual "trabalho com direitos".
Era bom era! E o dinheiro para custear tudo isso? Aumentando a produção? De quê e para vender onde e a quem? E a competitividade a nível internacional? O tempo dos milagres já passou. Agora já todos sabemos que, tal como as árvores nunca cresceram nem crescem até ao céu, também os salários e outros rendimentos...
Haja por isso humildade, haja decência, haja honestidade, haja sentido da realidade, haja bom senso!
3 comentários:
Meu caro professor, mas diga-me lá, não é um relançamento que o País precisa?
Acha, sinceramente, que é com estas medidas que lá chegamos?
É minha convicção que chegaremos ao final do ano e mais medidas de austeridade nos serão apresentadas! o aumento do desemprego, consequência lógica do desinvestimento nas empresas, com a consequente assumpção de mais encargos por parte do Estado, a isso conduzirão.
Não sei se o caminho é este, o que a esquerda defende, só sei é que este que a direita está a aplicar não é certamente! este há-de levar-nos ao definhamento, agora que já não temos praticamente nada, obra tão exemplarmente executada pelo plenipotenciário António Borges, que vai vendendo, ao sabor das conveniências, o País a retalho.
Tudo por causa dos trabalhadores, esses tipos que nada fazem e têm direitos em barda! é o que se ouve em conversas à boca fechada entre os Dias Loureiros, Os Armandos Varas, os Costas, os gajos dos submarinos, os Miguéis Cadilhes, os Duartes Limas e um indeterminado número de tipos que se consideram injustiçados, liderados pelos Berardos e CIA.
Oh professor, assim não vamos lá!
Cumprimentos
Tem razão; por este caminho também não me parece que vamos conseguir. Sobretudo porque este governo, em vez de fazer o que dele se esperava e espera -reduzir drasticamente a despesa do Estado- resolveu fazer o mesmo que o Mário Soares em tempos idos -aumentar impostos e taxas.
Dado que com tal volume de encargos fiscais os patrões não se aguentam e/ou não investem, enquanto os trabalhadores estão cada vez mais desmotivados, a situação geral só pode piorar.Mas quais são as alternativas e com que recursos, se estamos falidos? Sem investimento e com cada vez menos produção, espera-nos a penúria generalizada.
Como se esta crise não bastasse, o candidato socialista Hollande -que na minha opinião vai ganhar no domingo e ainda bem- resolveu sair-se com aquela bacorada da taxa de 75% de IRS para quem tenha um rendimento anual superior a um milhão de euros! Temos assim que os aqueles que garantem a alimentação, o alojamento e a assistência médica gratuita, mesmo aos piores criminosos a cumprir pena,são os mesmos que resolvem espoliar os que criam riqueza. Isto está mesmo lindo!
Concordo consigo que a vitória de Hollande poderá ser positiva, mais não seja para tentar pôr a Angela no sítio; e também concordo que essa taxa estapafúrdia de 75% não lembraria ao diabo...
Quanto à crise de valores, infelizmente já não é de agora.
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