segunda-feira, 6 de agosto de 2012

A Crise e os fujões

Para quem como eu teve paciência para ler os clássicos da especialidade, é desolador verificar que agora, perante a maior crise de sempre, os analistas de esquerda, muitos deles marxistas ou ex-marxistas endossam a camisola de fujões = aqueles que fogem em vez de enfrentarem a realidade. Apoquentados por não acharem soluções alternativas, refugiam-se em questões laterais, de detalhe, por vezes até sem qualquer relação com a crise, como no deliberadamente empolado "caso Relvas". Um dos  melhores exemplos dessa tendência é o anónimo autor do blogue O Jumento, que ignoro quem seja.
Numa escrita fluída e de leitura muito agradável, auxiliado por basta série de recortes de jornais e outros acessórios, vai criticando Gaspar por ser um pequeno Salazar em potência, Passos Coelho e o seu vocabulário pouco escolhido, Álvaro Pereira e a sua apologia dos pastéis de nata, Relvas e o seu diploma, Teixeira Pinto e os seus desaguisados com Marinho Pinto, e por aí fora. É o chamado jornalismo de escapatória corrosiva.
Quiçá desesperados com a pouco ou nenhuma eficácia de tal metodologia, recorrem agora a um argumento-marreta: A ciência económica não é uma ciência exacta, dura, rigorosa; apenas um conglomerado de posições ideológicas com bastante pragmatismo aglutinado. O que até é verdade. Trata-se de uma ciência mole, uma ciência social, cujos postulados são em geral condicionados por tantas variáveis, que raramente sobrevivem incólumes. Donde a conhecida sentença segundo a qual o economista é um indivíduo que tenta prever o futuro no presente, recorrendo a dados do passado. Assim a modos que parecido com quem intenta ganhar o euromilhões levando em linha de conta "chaves" antes premiadas.
Ciência mole, a velha Economia Política, depois Ciência Económica e mais recentemente Ciências Empresariais, postula mesmo assim muita coisa indesmentível e facilmente demonstrável. Exemplo: A crise do Euro -Trata-se afinal de uma crise do sistema capitalista, a que por comodidade ideológica e geográfica demos aquela designação. Marrocos acaba de obter ajuda do FMI, o Egipto e o Perú tencionam fazer o mesmo. Crise do euro? Consequência?
Na mesma linha, não é necessário que a ciência económica seja exacta, ou sequer saber alguma coisa dela para constatar que desde sempre é impossível a qualquer pessoa, qualquer família, qualquer empresa ou qualquer governo gastar mais do que recebe durante muito tempo, sem recorrer aos prestamistas. Ou que estes aumentam os juros inversamente às garantias de reembolso oferecidas por quem pede. Quanto menos garantias reais, mais altas são as taxas. Os spreads, como agora se usa.
É também uma evidência o que proclamam aqueles que afirmam ser necessário que haja crescimento económico e os aumentos de remunerações que dele dependem, para que indivíduos, famílias, empresas e governos possam honrar os seus compromissos, tendo em conta que, impossibilitados anteriormente de "se governarem" sem recurso ao crédito, uma vez este conseguido são forçados a reembolsar empréstimo + juros, posição ainda mais gravosa.
Para fazer face a tão injusta situação, em que, quanto menos se pode pagar, mais se tem de desembolsar, devido ao tal spread inversamente proporcional, os grandes especialistas-gestores-ideólogos do Estado Social vão arranjando argumentação mais ou menos consequente, que possa contribuir para ir adiando o mais possível o inevitável -a acentuada redução do peso económico do estado, o que implica o despedimento de centenas de milhares de funcionários públicos. As últimas trouvailles são "exportações", "inovação", "especialização", "aumento do valor acrescentado", "redução dos custos de produção", "flexibilidade laboral", "reescalonamento". Pois! O problema é que a Califórnia, o maior estado americano, que se fosse independente seria a 9ª potência económica mundial, tem vindo a praticar isso tudo em larga escala e continua à beira do abismo, praticamente falida e já a despedir polícias, professores, bombeiros...
A malta da esquerda festiva -e os outros, claro!- que vão pensando nisto. Sobretudo a nível municipal, uma vez que no âmbito nacional, na prática, não somos vistos nem achados. Infelizmente.
Olhem para a Lua, caraças! Deixem em paz o dedo que a aponta!

3 comentários:

Alfredo Guedes disse...

É muito mais jumento que um verdadeiro jumento, todo aquele ser humano que atira uma pedra e esconde a mão! O verdadeiro jumento tem muitos préstimos... É invariavelmente um animal sociável, muito dócil e está sempre disponível para o trabalho do respectivo dono. Já os do estilo do jumento do blogue, não passam de cobardes e não prestam para mesmo para nada!

Luis Ferreira disse...

Tss tss tss

Há outro caminho meus caros. Há outro caminho...

Alfredo Guedes disse...

Ai há outro caminho? Vinda de quem vem a sujestão, esse caminho só pode ser aquele sombrio beco sem saída em que nos deixaram os socialistas!!! Boas e santas tardes...