"Câmara de Tomar pediu autorização para usar terreno que afinal lhe pertencia", titula O MIRANTE na primeira página. Refere-se ao local antes ocupado pela Messe de Oficiais, que fora cedido pelo município em 1921, com uma cláusula de reversão: Quando deixasse de ser ocupado pela messe de oficiais retornaria à posse da edilidade.
Convém esclarecer que não se trata de caso virgem. Ainda recentemente o executivo, dois anos após o encerramento compulsivo do mercado municipal pela ASAE, requereu a esta entidade autorização para entrar no edifício, com o fim de determinar as obras de requalificação a efectuar. Pelos vistos, apesar de dispor de juristas nos seus quadros e da avença mantida com o advogado síndico, os senhores autarcas desconheciam que, em conformidade com as leis em vigor, designadamente o direito de propriedade, sempre tiveram livre acesso aos pavilhões, que em virtude da interdição da ASAE apenas não podem funcionar como mercado, antes de nova inspecção.
É por estas e por outras, relatadas em textos anteriores, que quando me perguntam de onde sou, começo a ter tendência para dizer que "de próximo de Fátima". Só quando insistem é que ainda me falta a coragem para renegar esta minha amada terra, e lá digo, algo tolhido: Sou de Tomar, mas aquilo ultimamente está muito mal...
No CIDADE DE TOMAR, o mais importante não vem no semanário. Fortemente atingida pela crise, a empresa proprietária está em sérias dificuldades, agravadas pelas assinaturas em atraso e as dívidas dos anunciantes, bem como pela forte redução da publicidade, tudo devido à recessão. Daqui resulta haver salários em atraso há cinco meses, com alguns casos mais dramáticos de casais em que ambos trabalham na sociedade. Segundo as últimas informações, está prevista para a próxima semana uma reunião dos três administradores com todos os empregados, para lhes expor a ingrata conjuntura e as várias saídas possíveis, todas elas bastante gravosas. Tomar a dianteira pode avançar com segurança que até já se encara a hipótese de venda do jornal, bem como despedimentos a muito curto prazo.
Além dos habituais faits-divers, a especialidade da casa, O TEMPLÁRIO desta semana inaugura, graças ao seu director, uma era de interpretação das leis e outras normas em vigor. Na sequência do triste episódio protagonizado por Alexandre Lopes, o responsável do semanário acha que "Mal seria dos jornais se, cada vez que alguém é criticado num artigo de opinião, tivessem de, previamente, ouvir o visado para este se defender. Nunca tal se viu na imprensa, só na cidade de Tomar. O respeito pelo contraditório aplica-se no jornalismo em geral, mas nos casos de artigos de opinião, se alguém se sentir ofendido, pode defender-se através do direito de resposta..." (Página 8) Lindo, não é?
Temos assim que um director de jornal, licenciado em comunicação social e docente do ensino superior, parece ignorar o básico da sua arte. E ler pouca imprensa de qualidade. Para ele, se bem entendi, "O respeito pelo contraditório aplica-se no jornalismo em geral, mas nos casos dos artigos de opinião", nem pensar. Donde resulta que qualquer fulano pode livremente caluniar, difamar, mentir, ofender, que a vítima do dislate só poderá defender-se depois do mal feito e consumado, porque lido por todos. Será isto respeitar a lei e os costumes?
Ademais, no final do mal amanhado texto da semana passada, pode ler-se que o mesmo fora antes censurado pelo jornal CIDADE DE TOMAR. Se o director do TEMPLÁRIO se tivesse dado antes ao trabalho de cumprir com o tal direito ao contraditório, teria bastado um telefonema para a redacção do jornal dirigido por António Madureira para constatar que se tratava de uma falsa acusação. Vir agora pretender que a dita calúnia é da responsabilidade de Alexandre Lopes, tem algo de angélico, sabido como é que o director é sempre co-responsável por todo o conteúdo do jornal.
Ou muito me engano, ou tudo isto ainda terá de vir a ser objecto de debate em sede de poder judicial. Para tirar dúvidas, que as autárquicas são já o ano que vem e não é nada saudável confundir crítica política com má-língua, ou textos de opinião, com peças caluniosas e violadoras dos garantias básicas de qualquer cidadão, designadamente o respeito pela intimidade da vida privada, ou o direito ao bom nome e à reputação, todos deliberadamente violados pelo estrambótico texto alexandrino. Com a cumplicidade objectiva do director do periódico. Aguardemos.
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