quinta-feira, 2 de agosto de 2012

A França -esse modelo político...

Visivelmente exausta de ideias práticas, a esquerda portuguesa aplaudiu com entusiasmo a eleição do socialista François Hollande à chefia do Estado francês. Cuidou encontrar nele a solução para os problemas que nos afligem, como alternativa ao odiado modelo nórdico/alemão, que implica a morte anunciada das grandes conquistas de Abril. Infelizmente.
Cem dias após a sua entrada no Eliseu, o que se diz dele? Quais são as expectativas?
Convém ler e meditar, porque se há dois séculos, segundo Eça, as novidades políticas nos chegavam de Paris prontas a usar, pelo Sud Express, hoje em dia vêm de avião. Sobretudo de Berlim.


Christophe Barbier, director e principal comentador político da revista L'EXPRESS (centro-esquerda) é directo e claro: "O Hipnotizador adia as reformas e adormece os franceses..." 
Com o seu optimismo que nada justifica, até parece o Sócrates. Muito mais experiente, mais recatado e sem cenários Armani.

"É o presidente de todas as solicitações, de todas as proximidades. Mas será um presidente com soluções? No lugar que agora ocupa, ninguém tem hoje em dia o direito de ser pacato, nem sequer de ser optimista. A não ser que esteja apenas a fingir...
Aos que votaram nele, o novo chefe de Estado já enviou alguns sinais tangíveis, embora onerosos, como a reforma aos 60 anos para as carreiras longas, ou o aumento de lugares na educação nacional. É uma questão de coerência política, que já rendeu dividendos nas recentes legislativas, de fimeza ideológica (utilizável a nível internacional) e de continuidade mediática (vendável como continuidade da campanha eleitoral). 
Aos que não votaram nele, o presidente Hollande mostra-se uma personagem preocupada com a sobriedade no exercício do poder, a disciplina governamental e a seriedade em todos os escalões políticos. Mesmo que as decisões já tomadas não sejam do agrado deste eleitorado, o estilo é apreciado favoravelmente. Eis o país sossegado, entregue ao torpor das férias, sem pensar nas dificuldades que aí vêm. Com este presidente, a França está sob o efeito de tranquilizantes. Hollande é um anestesista, o hollandismo é uma hipnose.
É por conseguinte  um grande mal entendido, ou  uma terrível desgraça, que estão em preparação. Um mal entendido se Hollande está apenas a esconder o seu jogo, preparando para o próximo outono um violento regresso à realidade. A hipnose pode muito bem ser uma técnica para operar o doente de surpresa, limitando a dor... Neste caso, o presidente anunciará às classes populares e às categorias médias que, tal como os mais ricos, vão ter de pagar o necessário para reequilibrar as contas públicas, perdendo poder de compra e prestações sociais. Anunciará aos funcionários públicos que a garantia de emprego vitalício, para não ser posta em causa,  exige em simultâneo uma redução salarial e um aumento de produtividade. Confessará, enfim, aos reformados, pensionistas e aposentados que o seu nível de vida vai baixar de forma durável.
Vai ser impopular e a violência do ressentimento dos que nele votaram será igual às esperanças defraudadas, multiplicadas pelo tempo perdido antes de anunciar a verdade. Porque só então o presidente estará a ser realista e sólido."...


Christophe Barbier, L'EXPRESS, 25/07/2012, página 14/15


As cores são da responsabilidade de Tomar a dianteira. Para se perceber melhor, uma vez que quando a França começar mesmo a tossir, por estas bandas vamos estar todos constipados.

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