quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Análise da imprensa regional de hoje


Desta feita decidi começar pelo MIRANTE, por causa de uma crónica assaz intrigante. Está na última página, que é também o seu cabeçalho genérico, com a habitual assinatura de JAE, uma garantia de boa escrita = prosa suculenta. O título desta semana é de molde a arrastar qualquer tomarense para a leitura da peça: "Os turistas trocaram Santarém por Tomar". Expectante, li e reli todo o conteúdo, cujos primeiros dois parágrafos rezam assim: "São três horas da tarde de um dia de Agosto. Não sei se não era melhor estar de barriga vazia à beira do rio Tejo, debaixo de um salgueiro, se bem almoçado e entre quatro paredes, organizando a minha vida e a dos outros.
Conheço certos tipos da minha idade que trabalham na administração pública, que passaram estes anos todos sem fazerem a ponta de um corno. Trabalharam a maior parte do tempo para eles, com os recursos que tinham à mão e abusando da confiança de quem lhes deu rédea larga. As crises também têm o seu lado bom; ajudam a moralizar a vida em sociedade; obrigam os bem instalados a saírem da toca."
Movido pelo natural entusiasmo de tão saboroso início, até acelerei o ritmo, na ânsia de encontrar a concatenação entre o título e o conteúdo da perlenga. Em vão. Apenas esta indicação final: "Nota: o título da crónica é só para lembrar que a principal promessa de Moita Flores, quando veio para Santarém, não foi comprar aquecedores para as criancinhas das escolas. Nem ligar os esgotos e distribuir água ao domicílio. Essa conversa é a da Raul Solnado nos seus melhores tempos."
Confesso não perceber patavina. Mas de uma coisa tenho a certeza: Se os turistas trocaram Santarém por Tomar, aqui na minha adorada terra gualdina, ainda ninguém deu por nada. Será mais um caso saramaguiano de cegueira colectiva?


No semanário dirigido por José Gaio, o destaque vai -como não podia deixar de ser- para a prosa de Luís Pedrosa Graça. Magnífica com sempre, porém desta vez também meticulosa, rigorosa, justa e maviosa. À altura do tomarense ímpar que visa homenagear -o Arquitecto João Pedro da Mota Lima. Dos últimos vultos de uma geração para quem a dedicação à causa pública e ao bem comum era uma constante e um modelo de vida. Servir e não servir-se. Onde isso já vai!
Além da colaboração antes citada, O TEMPLÁRIO consagra a Mota Lima mais duas páginas, ilustradas com fotos da época. A não perder portanto.
Ainda no semanário de Além da Ponte, para os apreciadores, uma detalhada crónica tauromáquica ilustrada e assinada pelo arquitecto José Inácio da Costa Rosa, bem como uma reportagem ilustrada do Festival Bons Sons.


No decano da imprensa tomarense que ainda se publica, a peça que me pareceu mais apetitosa é da mão de António Freitas e versa sobre o futuro parque para autocarros de turismo, no terreiro da antiga Messe de Oficiais, que afinal pertence à autarquia mas o actual executivo não sabia. Foi o presidente da Junta da Junceira que descobriu a verdade, numa velha escritura dos anos vinte do século passado. Refere António Freitas que não se trata de caso único, com toda a razão. Infelizmente são vários os casos de ignorância do mesmo tipo, tanto no concelho como por esse país fora. Basta referir que aqui há três décadas, quando o Convento de Cristo ainda não havia sido transferido para o então ministério da cultura, dependendo da direcção-geral da fazenda pública, um chefe de finanças da época me veio perguntar se eu sabia de quem era o laranjal do Castelo dos Templários...
É no que dá uma administração pública que nem sempre consegue estar à altura das responsabilidades que lhe incumbem. E depois os políticos é que pagam, por vezes injustamente.
Há também a habitual crónica copiada de Tomar a dianteira, esta semana sem essa indicação, sobre a qual mais nada direi, por detestar ser juiz em causa própria.

3 comentários:

templario disse...

DE: Cantoneiro da Borda da Estrada

Tens razão Rebelo. A prosa do Luís Graça é divinal. Pudera! Refiro-o assim com a liberdade de quem com ele participou (não muito tempo) na Sec. Cultural da SFGualdim Pais na década de 60 séc. passado, fazia ele parte dos jovens universitários tomarenses que resolveram dinamizar actividades nas sociedades de cultura e recreio de Tomar, como forma de luta contra a ditadura.

O primeiro texto que li dele foi no "Templário" de há duas ou três semanas, pelo qual fiquei a saber que um tomarense tão singular, por quem tinha a mais profunda estima e admiração, tinha falecido: O Luís Carlos! O meu Cenógrafo. Um artigo elegíaco (julgo que é assim que se diz...), "Os Criativos dos pincéis silenciosos", com belas e justas palavras, escritas com tanto carinho e amizade pelo saudoso Luís, a quem à ultima hora chamava, entregando-lhe um livro para ler, acrescentando tópicos do que queria, para ele conceber e realizar os cenários de umas cenas que então por aí se faziam. Comoveu-me, e, ao mesmo tempo, encheu-me de contentamento, por ver que alguém, sincero amigo do Luís, lhe fez tão sentida e justa homenagem pública. O meu obrigado ao Professor Luiz-Maria.Graça.

Unknown disse...

Acho que o chefe do palacete ai em frente a igreja de sao joao batista anda a brincar com coisas serias, mas coitado quem vive da politica para ter dinheiro ao final do mes nao seria de esperar outra coisa. A minha geracao em tomar encontra-se destruida, pois foram alguns desses senhores nos passos do concelho de tomar, que a arruinaram. Joao alcobia

templario disse...

DE: Cantoneiro da Borda da Estrada

Não leves a mal Rebelo, mas aproveito ser um post sobre a imprensa (local), e como sei que gostas do El País, tomo a liberdade de inserir aqui este texto, que roubei ao melhor blogue da blogosfera política portuguesa, o "Câmara Corporativa".

"UN CAÑON EN EL CULO

• Juan José Millás, O cano de uma pistola pelo cu [publicado no El País em 14 de Agosto de 2012]:
‘Se percebemos bem - e não é fácil, porque somos um bocado tontos -, a economia financeira é a economia real do senhor feudal sobre o servo, do amo sobre o escravo, da metrópole sobre a colónia, do capitalista manchesteriano sobre o trabalhador explorado. A economia financeira é o inimigo da classe da economia real, com a qual brinca como um porco ocidental com corpo de criança num bordel asiático.

Esse porco filho da puta pode, por exemplo, fazer com que a tua produção de trigo se valorize ou desvalorize dois anos antes de sequer ser semeada. Na verdade, pode comprar-te, sem que tu saibas da operação, uma colheita inexistente e vendê-la a um terceiro, que a venderá a um quarto e este a um quinto, e pode conseguir, de acordo com os seus interesses, que durante esse processo delirante o preço desse trigo quimérico dispare ou se afunde sem que tu ganhes mais caso suba, apesar de te deixar na merda se descer.

Se o preço baixar demasiado, talvez não te compense semear, mas ficarás endividado sem ter o que comer ou beber para o resto da tua vida e podes até ser preso ou condenado à forca por isso, dependendo da região geográfica em que estejas - e não há nenhuma segura. É disso que trata a economia financeira."