quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Estátuas vivas?

Com o já famoso Festival Bons Sons a iniciar mais uma edição, para a qual, segundo informação colhida no local, já foram vendidos 45 mil bilhetes, o que só pode resultar da  inquestionável categoria daquela realização numa simples aldeia do concelho, o próximo evento cultural de relevo será o citadino  Festival de Estátuas Vivas, no próximo mês.
Organizado pela Câmara Municipal, o acontecimento beneficia de um orçamento avantajado -80 mil euros do QREN e 20 mil da autarquia. Quer-me parecer que é muito dinheiro, 20 mil contos para um espectáculo sem retorno directo, uma vez que não há entradas pagas. Posso porém estar a ver mal, influenciado pelo meu espírito tacanho, de quem ao longo da vida sempre procurou governar-se sem recurso ao crédito nem aos subsídios. Adiante...
Onde tenciona o executivo ir arranjar os 20 mil euros = 4 mil contos para a dita festança, é para mim um mistério, sabido como é que não há orçamento aprovado, nem perspectivas de vir a haver. Mas pronto, siga a dança, pagando os do costume. Através do orçamento nacional ou das verbas europeias. O problema vai ser no próximo ano -e logo quando estão previstas eleições autárquicas: ao que consta, a participação do QREN foi concedida apenas para três anos, pelo que... E então agora, com cada vez mais apertos e com as verbas europeias a serem reorientadas para actividades empresariais geradoras de valor acrescentado directo, não sei como vai ser. Mas estou convencido de que a vereadora Rosário Simões, que dirige a coisa, terá de certeza uma solução na manga. Só falta saber qual. Aguardemos.
Em todo o caso, é para mim penoso constatar que, cidadãos outrora arautos de uma sociedade mais livre, mais justa e mais fraterna, estejam agora reduzidos a contestar a política governamental imposta pela troika, abstendo-se cuidadosamente de enunciar alternativas. Preferem ir enumerando as tristes consequências da austeridade. 
Só o adorável Tozé Seguro, paradoxalmente cada vez mais inseguro, é que arrisca avançar com um simulacro de alternativa, consubstanciado na já célebre fórmula marqueteira "Há outro caminho!" Pois há. O problema é que não temos recursos para ir por aí, uma vez que passa por aumentar a despesa do Estado, com incentivos para aqui e mais para acolá. Decerto sabedor disso, o aparelho PS resolveu pôr alguma água na fervura, esclarecendo que no fundo se trataria do mesmo caminho imposto pela troika, mas percorrido mais devagar. O que implicaria mais juros e mais capital circulante = mais negociações e mais custos.
Em resumo, o problema continua a ser de mentalidades. Enquanto na Europa do Norte há acordo societal para desencadear o crescimento graças à redução dos custos de produção (como ousou fazer o governo alemão do SPD em 2001), aqui pelo sul continuamos a acreditar que sem uns volumosos incentivos estatais, nada feito. E como não há dinheiro em caixa para isso, a oposição vai continuando a reclamar medidas de crescimento. Como festivais de estátuas vivas, por exemplo; ou elefantes brancos tipo Levada, que nem dentro de dez anos estará concluído. Somos assim e pronto. Música!

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