"O PRECEDENTE AMERICANO"
"Longe de mim a ideia de pretender rejeitar globalmente qualquer consolidação da solidariedade económica no seio da zona euro. Pelo contrário, recomendo vivamente que nos inspiremos do modelo americano para criarmos os Estados Unidos da Europa.
Mas, para lá chegarmos, os países europeus devem em primeiro lugar formar uma só e mesma nação, capaz de garantir agora aos credores que poderão ajudá-los, se um dia vierem a precisar. A nação europeia deverá dotar-se de uma Constituição, de uma estrutura judicial, de um poder único assegurando o respeito pela Lei e de umas forças armadas comuns para se defender no exterior.
A União Europeia beneficiou de um longo período de estabilidade, evitando implementar políticas de redistribuição. Tal estabilidade encontra-se agora ameaçada por este projecto de partilha de riquezas. Sem verdadeiros Estados Unidos da Europa, as rivalidades políticas provocadas pelos sistemas de redistribuição ameaçam a estabilidade do continente.
Infelizmente, as condições prévias para o nascimento de uma nação europeia não estarão reunidas enquanto os países do continente -particularmente a França- se mostrarem avessos à ideia de abandonar uma parte da sua soberania, a favor do todo europeu.
Contudo, é meu entendimento que mesmo uma nação europeia não deverá mutualizar a sua dívida. É o ensinamento que podemos tirar da experiência vivida pelos americanos no século XIX. Em 1792, quando o primeiro secretário de Estado do Tesouro, Alexander Hamilton, criou a dívida pública nacional, juntando as dívidas de guerra que até então incumbiam aos Estados da União, reforçou simultaneamente a expectativa de uma mutualização ulterior.
Como resultado desta decisão, vários Estados começaram a contrair empréstimos muito para além das suas capacidades. Nas primeiras décadas do século XIX, as tensões políticas daí resultantes ameaçaram severamente a estabilidade da jovem nação. Foi necessário que oito Estados declarassem falência, entre 1830 e 1840, para que os Estados Unidos acabassem com a mutualização da dívida pública.
Ainda hoje tal decisão se encontra em vigor. Mesmo com a Califórnia -o mais importante Estado americano que, se fosse independente, seria a 9ª potência económica mundial- à beira da falência, ninguém é de opinião que deve ser salva. Acham que deve encontrar um solução por si própria, sem recorrer ao nível federal. No mesmo sentido, quando em 1975 Nova Iorque declarou falência, foi obrigada a comprometer-se a entregar aos credores os seus futuros rendimentos."
Hans-Werner Sinn, Le Monde, 01/08/2012, página 17
Nota final
Mais claro do que isto, é praticamente impossível. Resta-nos agora irmo-nos preparando todos para o violento embate que mais tarde ou mais cedo vai acontecer. Quer queiramos, quer não!
Ou saímos da zona euro e regressamos ao escudo das sucessivas desvalorizações, com a subsequente inflação e o resto, que não é pouco; ou vamos para pelo menos dez anos de "sangue suor e lágrimas", como diria Churchill.
Vamos estar na dramática situação daquele condenado à morte, a quem perguntaram se queria ser enforcado ou fuzilado. -Mas eu não quero morrer! exclamou ele. Pois, mas a pergunta não foi essa! Fuzilado ou enforcado?
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