sexta-feira, 3 de agosto de 2012

O QUE SEPARA BERLIM DE PARIS

Este senhor da foto é alemão e tem por nome Hans-Werner Sinn. Publicou no LE MONDE de 1 de Agosto, na página 17, uma longa análise económica, sobre a qual  tencionava escrever aqui no blogue só em Setembro. Porque é tempo de férias, e por saber que nem eu sou sádico, nem os leitores são masoquistas. Acontece, contudo, que um persistente energúmeno, que tem tanto de obstinado como de ignorante, mal educado e troca-tintas, voltou a atacar esta manhã. Sei de quem se trata, uma vez que assina com um pseudónimo que não engana ninguém. Mas não adianta causticar ainda mais quem demonstra uma vez mais que não anda nada bem de saúde, no que toca à sanidade mental. Não vás ao médico, não!!!
Metendo outra vez as patas no cocho, cismou desta feita alinhar uma série de banalidades sobre o novo governo socialista francês. Assim como quem pretende ensinar a missa ao padre... o que me leva a escrever e publicar aquilo que tinha guardado só para Setembro. Peço desculpa, mas tem de ser. O palonço deve estar convencido que a crise vai acabar antes da feira de Santa Iria. Ou, na pior das hipóteses, lá para o fim do ano.
Seguem-se alguns excertos da supracitada análise, susbcrita pelo cavalheiro da foto.


"Se todos os fundos de auxílio forem utilizados e se a Grécia, a Irlanda, a Itália, a Espanha e Portugal vierem a declarar a insolvência, não reembolsarem nada e abandonarem a zona euro, mas este continuar a existir, a Alemanha perderá mais de 771 mil milhões de euros, o que equivale a 30% do PIB actual.
Na mesma hipótese, a França perderá 579 mil milhões, ou seja 29% do seu PIB. As perdas potenciais poderão ser ainda maiores se os citados países continuarem a fazer parte da zona euro....
...A Grécia já recebeu até agora, em ajuda financeira externa, 460 mil milhões de euros, o que corresponde a 214% do seu PIB. Deste total, a Alemanha assegurou 115 mil milhões, que representam cerca de dez vezes aquilo recebeu no quadro do Plano Marshall, logo a seguir à 2ª guerra mundial.
Daqui resulta que os problemas da zona euro não podem ser solucionados com mais dinheiro a crédito. Seria tentar apagar um incêndio com gasolina. A inflação nos países do sul da Europa foi alimentada pelo afluxo de créditos e a sua competitividade ressentiu-se disso mesmo. Um exemplo: os preços são actualmente 60% mais caros na Grécia que na Turquia, sua vizinha. Com uma tal diferença, de nada serve implementar reformas ou tomar medidas para restaurar a competitividade dos países do sul da Europa, porque o degrau é demasiado alto para se colocarem em igualdade com os seus parceiros comerciais da zona euro.
Existem apenas duas vias possíveis para restaurar a sua competitividade sem provocar um surto inflacionista nos países do centro da zona euro; ou os países afectados saem da união monetária e desvalorizam as suas moedas nacionais; ou continuam na união monetária e aceitam comprometer-se num longo e difícil esforço de redução dos preços. Ambas a soluções são dolorosas, mas a segunda -que os economistas designam como "desvalorização interna"- é sem dúvida a mais perigosa.
Pode provocar fortes instabilidades políticas e mesmo levar alguns países à beira da guerra civil, pois implica uma importante redução dos salários. Por conseguinte, só a saída do euro pode ser considerada como resposta viável. O Mecanismo europeu de estabilidade, ou mesmo os eurobonds apenas conseguirão adiar decisões que deviam ser tomadas hoje mesmo. Quanto mais esperarmos, mais as dívidas de todos os países em crise e as perdas dos países do centro da Europa vão aumentar.
Uma saída temporária da zona euro dos países que estão em situação de crise é portanto desejável, para que possam restabelecer alguma competitividade. Tratar-se-ia de uma espécie de cura de reabilitação para as suas economias, actualmente dependentes do crédito."


Hans-Werner Sinn, Le Monde, 01/08/2012, página 17

Extremamente preocupantes todos estes factos indesmentíveis e respectivas deduções? Então leia agora o currículo do seu autor: "Hans-Werner Sinn é considerado o economista mais influente da Alemanha. É professor de economia e de finanças públicas na Universidade de Munique, onde dirige o Centro de Estudos Económicos. É presidente do think tank CESifo (Sociedade Muniquense para a promoção da investigação científica em economia) e membro do Conselho de especialistas de economia do Ministério da Economia alemão. Preside igualmente ao Instituto internacional para as finanças públicas."
Não será tempo de ir pensando nas consequências que o descrito na análise supra pode acarretar para Tomar, cuja crise é ainda mais grave que a do país?


Os destaques coloridos são de Tomar a dianteira.

10 comentários:

Luis Ferreira disse...

Não sei a que cromo se refere, mas deixe-me que lhe diga, como autarca e dirigente político distrital do PS, que nunca o neo-liberalismo provou até hoje, desde os anos 60, ser capaz de resolver qualquer crise ou problema económico e social. Antes pelo contrário: alimentam a crise, promovem a pobreza e a redução de direitos sociais.

O que este economista nao diz é que há outro caminho: a saída da Alemanha do euro, com inevitável valorização da sua moeda melhorando a inevitável venda de produtos dos outros países da Europa e tornando mais difícil a invasaonda Europa com produtos alemães a preços competitivos (maquinarias por exemplo). A Europa tem sido mais benéfica para a Alemanha di que para os países da periferia. O que ele nao diz, porque é um mero economista, faltando-lhe a visão do "político", é que há ainda outro caminho: o da guerra, aliás mais uma onde a Alemanha se envolvendo perderia de novo. Mas estava para aqui a escrever e lembrei-me que se calhar foi mesmo para isso que foi criada a CEE - para evitar a guerra. Foi inicialmente uma criação económica para cumprir um objetivo político e nao o contrário. Mas sempre com o fito de evitar a guerra. Estamos, quanto a mim, perto do ponto de não retorno. Ou a vaia que a delegação alemã levou no desfile olímpico em Londres foi por acaso? Pois...

Leão_da_Estrela disse...

Caro prof.,

Isso que esses senhor diz é muito bonito (passe a expressão), mas Luis Ferreira tem razão! quem é que tem estado a ganhar à grande e à "alemã" com esta crise? a Alemanha, pois então! e para quem seria desastrosa a morte do Euro? para a Alemanha em primeiríssima posição! em exagero, qualquer dia teríamos o Euro como substituto apenas do Marco, já que os restantes países do norte não estarão disponíveis para acatar o "jugo" alemão. Como muito bem escreveu Luis Ferreira, já estiveram com a pata em cima por duas vezes no séc. passado, isso não acontecerá terceira vez! (aqui o ditado não se cumprirá)
Tem que se tomar medidas para enfrentar a crise, pois claro que tem, tem que se poupar e gastar criteriosamente o pouco dinheiro que temos, claro que sim, mas "há muitas maneiras de matar pulgas" e não será uma política neo-liberal de dentes afiados e espumando da boca, que nos levará "aos amanhãs que cantam"!
Vai-me desculpar a má-criação, mas quem é essa "alimária" para defender redução de salários em Portugal? esse tipo sabe quanto ganha um português médio?
Haja paciência para tanta luminária, que quando a coisa caminhava para o abismo, assobiava para o lado e que de tanta sabedoria, não conseguiu prever para onde isto ia!
(ou será que não interessava alertar?).

Ctos e boas férias (pra mim pelo menos :) )

Unknown disse...

Prezado conterrâneo, transparente vereador e não obstante amigo:

Tens parcialmente razão. Quando a Alemanha esteve mal, no início deste século, foi o então chanceler social-democrata Gerard Schröder que teve a coragem de fazer o "trabalho sujo": redução de prestações sociais, liberalização do mercado de trabalho, aumento da idade da reforma, poupanças a todos os níveis. Por isso perdeu as eleições de 2005.
Tratou-se afinal da mesma receita que a troika encarregou o governo em funções de nos aplicar. Só que no caso da Alemanha ninguém lhes encomendou o sermão. Nem podia!

Bom fim de semana!

Unknown disse...

Seja como for, permanece para todos os países sob assistência externa o cruel e ultraviolento dilema: Saída da zona euro > desvalorização > inflação > acentuada perda de poder de compra? Ou pelo menos dez anos de sacrifícios cada vez mais gravosos, até que se consiga reduzir o binómio salários/preços na ordem dos 30%?

Votos de boas férias! Veja se encontra algumas soluções novas!

Luis Ferreira disse...

Peço desculpa pela insistência, mas ao contrario do que esse e todos os economistas da "escola de Chicago", incluindo o sô Alvaro e o sô Gaspar, o problema nao etá nos salários e bá sua redução em 20/30/40/50%, mas sim na especulação financeira e na economia parasitária que gera.

Ao longo da História varias guerras começaram por "falência dos sistemas" por abuso dos "prestamistas". Penso que só um golpe de génio nos livrará da próxima. Oxalá Holland consiga e nao se transforme no "governo de frente popular" francês dos anos 30, oi do seu equivalente espanhol, pré-guerra civil e pré-segunda guerra mundial.

Só nós, em cada localidade primeiro e depois em cada estado depois poderemos, em eleições, indo negando esse caminho "único" o qual desemboca em guerra. Desde 2001, que as para oiças centrais de contra informação americanas nos andam a intoxicar com propaganda anti-árabe, quando o problema está na Hall Street e na City londrina, passado pelas dezenas de off Shores onde as nossas poupanças se vão esfumando.

Por isso meu caro Prof.Rebelo, aproveite a sua permanente leitura dos jornais franceses e procur aúnas medidas que estão a ser tomadas em França para por os ricos a pagar a crise: é que se eles nao pagarem a bem, acabarão por pagar a mal. É assim em todas as guerras. E esta nao será excepção.

Unknown disse...

Meu caro Luís:
Outra vez o célebre slogan "Os ricos que paguem a crise", lançado pela UDP nos idos de 74/75?
Pessoalmente nunca discordei nem discordo, apesar de a experiência me ter ensinado que não há em nenhum país ricos que cheguem para pagar a crise, pela simples razão que não são parvos e se pisgam fiscalmente, enquanto é tempo, para climas mais clementes, vulgo paraísos fiscais. Tal como acabam de fazer em França...
Quanto à hipótese de guerra, não sejas tão pessimista. Guerra generalizada na Europa? Não quero crer!

Unknown disse...

"...Ao longo da História varias guerras começaram por "falência dos sistemas" por abuso dos "prestamistas". Penso que só um golpe de génio nos livrará da próxima..."
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-Concordo em pleno que a Europa caminha a passos largos para uma muito provável 3ª Guerra mundial.
É notório a falência dos sistemas politicos e económicos vigentes na Europa...

Luis Ferreira disse...

Prof.rebelo

Eu não defendi, nem defendo, que sejam os ricos a pagar a crise. Apenas escrevi que estamos todos a ser roubados pelos "prestamistas" e que os povos têm de tomar opções que acabem com isso. Se não for a bem, será naturalmente através de uma guerra, como historicamente sempre aconteceu. Este hiato de paz na Europa, entre 1945 e 1992 (inicio da guerra da Juguslávia), foi excepcional. E os últimos 20 anos tem sido marcados por varias guerras parciais, de "acerto" que nada resolveram no equilíbrio europeu (com protagonistas como os EUA com a sua Nato e a Rússia e a Turquia).

Agora falta resolver o problema dos "prestamistas".
Na terra Templária convém recordarmos que foi a extinção dos prestamistas templários ajudou a "libertar" uma perigosa tensão económica na Europa do inicio do Séc.XIV, quando o Comercio com o Oriente estava bloqueado pelo "Perigo Turco"...

Mas podemos - o povo - mudar a história. O Séc.XIX e o Séc.XX estão cheios de provas disso. Saibamos perceber os ventos de França e conduzamos os "nossos" povos para a solução...

Unknown disse...

Prezado amigo:

É sábia e coerente a tua análise histórica. Infelizmente, a prosperidade dos prestamistas sempre foi facultada por povos e governos que se colocaram a jeito. E como desta vez são os prestamistas que controlam todos os centros de decisão...

Luis Ferreira disse...

Assim será, até ao inicio da guerra, após o qual, ninguém sabe como acabará...

Convinha mudarmos de rumo antes disso, não?
Ou está, por exemplo, disponível para prescindir de metade da sua aposentação e passar a pagar 2 ou 3% de imposto anual sobre os seus bens imobiliários, para alimentar indirtamentebos prestamistas.

Se calhar quando isso acontecer vai tratar de vir para a rua juntar-se aos jovens desempregados e aos pais e mães de família desesperados porque, trabalhando, nao ganham o suficiente para alimentar a família..., digo eu!

Era se calhar melhor mudar de rumo um bocadinho antes disso, porque ambos sabemos que isso significa que a guerra será real e milhões morrerão por toda a Europa, novamente!