segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Facilitismo, a raíz do problema

Agora que amainou nos media a "tempestade Relvas", intencionalmente projectada por mera canalhice interesseira, começa a ser tempo de recolocar as coisas no seu sítio. Enquanto que o agora influente ministro se limitou a procurar, numa altura em que apenas era presidente da AM tomarense e cidadão com muita bagagem, certificação para o seu vasto savoir-faire político, que todos concordam, incluindo os seus piores inimigos, ser sólido, útil e de muito valor, há cada vez mais honrados cidadãos sem mácula deste país em busca do inverso -um "canudo" que em teoria certifique, sem margem para dúvidas, porque emitido por uma fonte mais ou menos prestigiada, aquilo que na realidade o seu titular não sabe. É esta, no meu humilde etendimento, a raíz do nosso problema -o facilitismo.
A coisa começa logo no básico, ao longo do qual, como todos os docentes bem sabem, o mais difícil sempre foi e continua a ser cada vez mais "chumbar" um aluno, por muito incapaz que seja. As razões são múltiplas. Enumerá-las aqui tornaria o texto demasiado indigesto. Por isso, bastará uma única, quiçá a principal: No básico não convém chumbar alunos, porque isso iria complicar singularmente a posterior formação de turmas, uma vez que as salas de aula estão previstas para 28/30 alunos, no máximo. Logo, seria impossível incluir dois ou três repetentes numa turma em que todos os alunos "transitaram". Segue-se que os menos dotados e os menos adaptados depressa interiorizam a vantagem do sistema: não vale a pena esforçar-se porque se passa na mesma.
Com professores fortemente desmotivados e em muitos casos já "produtos" de tal sistema, nada indica que no secundário e no superior as coisas sejam muito diferentes. Nas grandes urbes, por não ser tarefa fácil avaliar com algum rigor tanta gente; por essa província fora porque aluno chumbado é aluno perdido, com tudo o que isso implica...
E assim chegamos ao mundo profissional, à vida tal como ela é. Sem nunca terem sido rigorosamente seleccionados, os candidatos a empregos encontram na função pública nacional, regional e local a avenida rumo ao emprego vitalício e às promoções por antiguidade. Exames selectivos nunca há, com algumas raras excepções, como na magistratura, e os tão apregoados concursos não passam afinal de simulacros com fotografia. Antes das provas já se sabe em geral quem vai ser admitido.
Desaparecidos ao longo dos anos os antigos funcionários que eram realmente servidores do Estado e detentores de enorme saber de experiência feito, temos agora o panorama que está à vista de quem não seja deliberadamente miope, ou mesmo invisual. No topo da estrutura governamental ou autárquica estão os eleitos, na maioria dos casos gente que nunca soube fazer outra coisa como deve ser; seguem-se os técnicos superiores e intermédios, para alí projectados amiúde pelo facilitismo, o amiguismo e o clubismo político. O que não os impede, antes os incentiva -uma vez percebida a evidente fragilidade e incompetência dos políticos- a tomarem as rédeas da carripana onde operam, assustando os eleitos com regulamentos, portarias, despachos e outras minudências, contraditórios entre si e que por isso dão para quase tudo. E mais alguma coisa...
São já abundantes em Tomar, e decerto por esse país fora, os tristes resultados de tal conúbio políticos incapazes/funcionários incompetentes. Projectos particulares que aguardam despacho durante meses e anos; processos sensíveis que são deliberadamente escamoteados; obras públicas mal idealizadas, mal projectadas e mal calculadas; ausência de qualquer planeamento digno desse nome, com um quadro fundamentado de prioridades; adjudicação prematura de empreitadas por mera ganância e oportunismo.
Exemplos tomarenses: a ridícula barraquinha do Mouchão; o paredão-mijatório; as três edições da rotunda; o marginal "muro de Berlim"; a deliberada destruição do estádio; a mal calculada requalificação do pavilhão municipal; a ponte do Flecheiro, inutilmente "torcida" em relação ao eixo da Av. dos Combatentes e sem rotunda no cruzamento desta com as avenidas Nun'Álvares e Torres Pinheiro; aquela desgraça da Estrada do Convento, que fica pior depois das obras. E o cúmulo da pouca vergonha: o Elefante Branco da Levada. Posto a concurso, adjudicado e iniciado sem projecto, chegou-se agora à conclusão que não só havia necessidade de detalhadas escavações arqueológicas prévias, como ainda por cima pelo menos os previstos museus da electricidade e da moagem correm o risco de nunca passarem de intenções, devido à manifesta impossíbilidade de os agenciar, respeitando todas as normas europeias, designadamente corredores de visita, plataformas para grupos, vias e outros meios de evacuação rápida, portas corta/fogos, etc.
Como é que vamos conseguir descalçar todos estes pares de botas? Os senhores políticos no activo é que devem saber. Ou não?! Afinal, desde que há eleições, têm sido eles os sapateiros. Bem acompanhados, de resto...

3 comentários:

templario disse...

DE: Cantoneiro da Borda da Estrada

No Portal da Educação (http://www.educare.pt/educare/Atualidade.Noticia.aspx?), com data de 20 de Agosto de 2012 (Site EDUCARE.PT), aliás bem divulgado pela imprensa há semanas ou meses (eu li no "Público") podes constatar, se leste ou vieres a ler, que o que defendes aqui sobre avaliação dos alunos e a atitude para com os mesmos é a demonstração de que defendes teorias cheias de bolor, que, consciente ou inconscientemente, são extremamente reacionárias, a demonstrar cabalmente o que sempre aconteceu e continua a acontecer hoje: na Educação sempre se travou e trava uma feroz luta de classes, como sempre aconteceu no passado. O texto baseia-se num recente relatório sobre o Ensino divulgado pela OCDE, que contraria tudo e mais alguma coisa do que aqui escreveste. Estás redondamente enganado, embora me pareça que estejas deliberada e definitivamente na barricada desta direita, como em muitas outras coisas ultimamente. E direita, soe dizer-se , é a barricada dos grandes interesses económicos, capitalistas, da propriedade privada. Depois de Abril 74, foi em torno do Ensino que se travou a mais nítida expressão da luta de classes em Portugal. Não foi por acaso que nesse ministério se bateu o record de ministros desde o 25 de Abril.

Nada disso que defendes é prática nos países mais avançados da Europa. O que incomodou a direita portuguesa e o PCP e o BE, foi o caminho da massificação no acesso às universidades (como estes partidos se uniram em torno desta questão contra as ex-ministras Rodrigues e Alçada e J. Sócrates!!!). Entraram em pânico, primeiro, perante exigências de avaliação de professores, depois, perante a realidade de os filhos do pintor da construção civil, do motorista, do senhor Zé das hortaliças, da senhora da limpeza, etc., começarem a sair diplomados aos milhares, sem cunhas nem creditações vigaristas, capazes de competirem com os filhos dos instalados na "Nomenklatura" Lusitana, com os filhos dos poderosos na administração pública, nas grandes empresas, até na política, em equipas de investigação científica, etc., etc.. Uma sociedade portuguesa que privilegiava, finalmente, o Conhecimento, a Competência, o Saber Fazer foi para eles e para os instalados o fim da macacada.... Novas e modernas Elites floreciam!

José Sócrates era de mais para esta ortodoxia habituada a mamar nas tetas da Vaca Nacional. Encontramos momentos parecidos na nossa História passada.

Faço uma tentativa para leres ou releres esse documento e outros sobre esta constante oposição de interesses.

Já quanto a Miguel Relvas, não perco tempo com essa miserável creditação de competências, pois sei que casos como o dele são aos milhares de há 60 anos a esta parte. Conheci dezenas de doutores da mula ruça, não me perco nessa instituição facilitista e amiguista manhosa, cagona e ordinária, que começa a ter os dias contados.

De Miguel Relvas interessa-me mais os interesses económicos que estão por detrás dele, e que ele representa no governo, as suas ligações às polícias secretas e à imprensa portuguesa, porque aqui sim, toca com a democracia portuguesa, com a dignidade do nosso povo, com o futuro de Portugal.

C O N T I N U A .........

templario disse...

DE: Cantoneiro da Borda da Estrada

........C O N T I N U A Ç Ã O

Qualquer rotineiro sacana tinha já dado o cava de funções públicas. E se não o fez ainda é porque tem o apoio tácito da malandragem habitual, do PCP, BE, PSD, CDS, que se uniram na concretização de um crime hodiondo contra o povo português, para defenderem a sua canalha à volta das tetas da Vaca Nacional. Esse crime foi a recusa do PEC IV, que nos colocava hoje numa situação privilegiada no contexto da crise internacional. Afinal é o que vão beneficiar outros Estados com as calças na mão, enquanto nós continuaremos a ser vexados por um governo de tecnocratas internacionais a darem ordens nos gabinetes dos governantes portugueses. Foram aqueles partidos que colocaram estes aldrabões e incompetentes no governo. Agora tentam disfarçar, como se não tivessem nada a ver....

Há quem tenha perdido de todo a vergonha. O que dizes de Relvas neste post é simplesmente vergonhoso.

O único partido neste momento em Portugal com vergonha na cara é o Partido Socialista, ainda que não vá, de maneira nenhuma, com o actual líder.

Unknown disse...

Eu não acredito de todo naquilo que defendes. Mas concedo-te o benefício da dúvida. Aguardemos melhores dias.
O que digo do Relvas "é simplesmente vergonhoso"? Seja. Mas é também para isso que pago altos impostos. Para poder escrever aquilo que penso, mesmo se ao arrepio do pensamento dominante do rebanho.