segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Até no Canadá...

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"Grandes escândalos imobiliários no Québec"

"A comissão Charbonneau denuncia a importância da corrupção nos meios políticos"


"No nono andar de um prédio do centro de Montreal desfilaram durante o Outono dezenas de testemunhas perante a juiz France Charbonneau. A comissão de inquérito sobre as empreitadas de obras públicas, que dirige, adiou agora os seus trabalhos até 21 de Janeiro de 2013.
Até agora, a juiz já ouviu tudo e mais alguma coisa sobre os últimos 15 anos. Funcionários da rede viária, empreiteiros, militantes partidários encarregues de recolher fundos e especialistas da mafia italiana confessaram dia após dia aquilo que sabiam sobre um formidável "sistema", que custou milhões aos contribuintes quebequences entre 1990 e 2000.
"É muito curioso como o sistema se desmoronou logo que houve coragem de o enfrentar", ironizou Jacques Duchesneau, deputado provincial e ex-chefe da polícia de Montreal. Foi graças a ele que se descobriu o escândalo, em 2011, mediante um inquérito sobre irregularidades nas empreitadas de construção e reparação de estradas do Québec, ao qual o primeiro-ministro liberal da época, Jean Charest, concedeu uma aprovação contrariada. O "Relatório Duchesneau" conseguiu provar uma ligação directa entre a indústria, o financiamento oculto dos partidos e a corrupção de funcionários.
A Comissão Charbonneau "já provocou a queda de dois presidentes de câmara", afirma o ex-polícia agora deputado, que espera que a juiz consiga "demonstrar os estratagemas por detrás dos indivíduos". A Unidade permanente anti-corrupção, criada em 2011, investiga o mesmo caso, com o seu exército de verificadores, investigadores e analistas. Há também a "esquadra Marteau", da polícia de Montreal, cuja existência a partir de 2009 terá levado o "cartel dos esgotos" da capital a moderar bastante os empolamentos dos custos das empreitadas. Ultimamente formulou também acusações por fraude e corrupção contra eleitos municipais.
O próximo da lista poderá ser Gilles Vaillancourt, que em meados de Novembro se demitiu de presidente da câmara de Laval, a terceira cidade do Québec. É suspeito de ter recebido luvas sucessivas, como pagamento por várias empreitadas. São também acusados vários engenheiros civis ligados às rodovias de Montreal, assim como vários empreiteiros de origem italiana, entre os quais Tony Accurso (personalidade muito conhecida nos meios da construção civil e obras públicas, suspeito de pertencer à mafia) e Lino Zambito.
Este último causou sensação na Comissão Charbonneau, ao explicar a mecânica do "sistema" de obtenção de empreitadas públicas. Admitiu ter dado durante anos 3% do valor dos contratos conseguidos em Montreal a um intermediário ligado à mafia, que por sua vez entregava o dinheiro à UnionMontréal, o partido do presidente da câmara Gérald Tremblay. Confessou igualmente ter contribuído em 2000 e seguintes com mais de 88 mil dólares canadianos = 68 mil euros, para os partidos provinciais, sobretudo para os liberais então no poder.
Na capital o "sistema" funcionava muito bem. Gilles Surprenant, ex-engenheiro de obras públicas, foi bem claro perante a juíz: em dez anos recebeu de empresas de obras públicas vários presentes, almoços e jantares, viagens turísticas, bilhetes para o hoquei sobre gelo e gratificações num total de 736 mil dólares, em troca de empreitadas nos esgotos, em que empolava os custos. Logo a seguir, um dos organizadores do partido do presidente da câmara, Martin Dumont, acusou-o de ter deliberadamente fechado os olhos sobre um orçamento paralelo que alimentava o partido com dinheiro sujo. Após tais revelações, Gérald Tremblay demitiu-se no início de Novembro, mergulhando Montreal numa complicada crise.
Chantal Rouleau foi uma das primeiras eleitas da capital a alarmar-se. Presidente do Bairo de Rivière des Prairies, a leste da ilha, insurgiu-se em 2010 contra a venda a promotores imobiliários por 1,6 milhões de dólares, em plena bolha imobiliária, de um terreno municipal que fora comprado por 6 milhões. 
Segundo declarou, o processo em curso é "doloroso mas positivo. Estão a limpar a ferida mas há necessidade  de uma unidade de inquérito em Montreal, como forma de evitar o retorno de tais práticas condenáveis. Tal como se faz a limpeza em casa. Com regularidade."
Duchesneau afirma que "funcionários roubaram centenas de milhões de dólares", mas declara-se mais preocupado face ao papel dos eleitos "que estavam ao corrente do estratagema", do qual alguns até se aproveitavam. Estimando em cerca de 70% a percentagem de dinheiro sujo no financiamento das campanhas eleitorais no Québec, propõe uma revisão completa do sistema de adjudicação de empreitadas e do financiamento dos partidos políticos: "Ousar ir até ao fim, com coragem, vai permitir reconstruir a casa com alicerces mais sólidos, com mais leis e mais fiscalização."

Anne Pelouas, Le Monde, 02/12/2012, página 4 

Sem comentários, para não irritar o meu amigo Templário. Antes quero perder uma ocasião do que um amigo, ainda por cima conterrâneo.

3 comentários:

Leão_da_Estrela disse...

Caro professor,

Pois eu comento ( e sem medo de incomodar ):

A conclusão a que chagamos (já chegámos muitos), é que o poder corrompe! e que o exclusivo da corrupção não reside em Portugal, feliz ou infelizmente.
Não cuidei de ir ver a cor política das pessoas envolvidas, mas pelo seu "NÃO comentário", creio perceber-se; mas esse não é mal com exclusividade num grupo, é abrangente, atingindo todo o espectro político. Esta constatação obriga a uma cada vez maior independência e autonomia do poder judicial, blindando-o a pressões, no sentido de "caçar" os prevaricadores e condená-los, se for caso disso, de forma exemplar!

É cada vez mais comummente aceite que grande parte da culpa da crise que nos destrói, tem a sua génese na corrupção desenfreada (ainda ontem uma reportagem da TVI denunciava negócios escuros com colégios privados), que desde os gloriosos tempos de Cavaco 1.º ministro assentou arraiais em Portugal. Este artigo que agora apresenta, a juntar às vigarices gregas, às negociatas de Berlusconi em itália, ao roubo do Estado e dos contribuintes na Islândia, sustenta a teoria...

Completamente vigarizado,

Leão_da_Estrela disse...

E ainda lhe transcrevo, nem de propósito, o artigo de opinião de Paulo Morais, professor universitário, publicado hoje no CM:

"Tolerância zero

Os negócios dominam a vida política. A promiscuidade entre os actores políticos e os grupos económicos é obscena.
Este fenómeno começa por se fazer sentir no Parlamento, mas chega a todo o lado. Há dezenas de deputados que acumulam a função parlamentar com a de administrador, director ou consultor de empresas que desenvolvem grandes negócios com o Estado. Em todas as comissões relevantes há conflitos de interesses, reais ou potenciais. A mais importante, a que acompanha o Programa de Assistência Financeira, tem por funções fiscalizar as medidas previstas no memorando de entendimento com a Troika, nomeadamente as privatizações ou o apoio à Banca. Pois nesta comissão tem assento Miguel Frasquilho que trabalha na Essi, empresa do grupo financeiro BES que, ainda por cima, assessorou os chineses na compra da EDP; a que se junta Adolfo Mesquita Nunes, advogado da poderosa sociedade Morais Leitão, Galvão Teles, Soares da Silva, justamente o escritório de referência da eléctrica. Na comissão de agricultura, o deputado Manuel Isaac fiscaliza um ministério que influencia a atribuição de subsídios à empresa de que é administrador. O presidente da comissão de Segurança Social, José Manuel Canavarro, é consultor do Montepio Geral, banco cuja actividade se de-senvolve na área da solidariedade. Os exemplos sucedem-se.

A promiscuidade contamina até o insuspeito Banco de Portugal, em cujo conselho consultivo têm assento Almerindo Marques, ligado ao BES, ou António de Sousa, até há pouco presidente da Associação de Bancos. O banco central tem a sua actividade vigiada por aqueles que deveria supervisionar.

Pelo lado dos privados, os grupos económicos que beneficiam desta promiscuidade estão sempre disponíveis para acolher os que os favorecem. Não por acaso, ex-ministros das obras públicas transitam para as empresas com maior participação nas parcerias público-privadas. Ferreira do Amaral preside à Lusoponte, Jorge Coelho e Valente de Oliveira administram a Mota-Engil.

Para erradicar esta teia de negócios que domina a política, o Parlamento deve criar um regime de incompatibilidades muito restritivo para os detentores de cargos públicos. Que deve, num período transitório de higienização, ser de exclusividade total."

É afrancesar os nomes e estamos no Canadá do artigo do "Le Monde"...

Cordialmente

Leão_da_Estrela disse...

Bom dia, caro professor,

Lá vai mais uma achega:

http://www.tvi24.iol.pt/503/sociedade/corrupcao-tiac-paulo-morais-corrupcao-em-portugal-indice-de-percecao-da-corrupcao-tvi24/1398941-4071.html


Cordialmente