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Em geral resultado da inseminação dos que cá ficaram, todos tendemos a disfarçar esse dado, proclamando-nos a torto e a direito descendentes dos navegadores de quinhentos. Compreende-se. Foi a única época mais ou menos áurea resultante dos nossos próprios esforços. Infelizmente para os que nasceram depois, a maior parte desses aventureiros, que foram deste lado do Mundo os primeiros turistas de longo raio de acção, nunca mais voltou. Alguns porque resolveram recomeçar a vida em paragens mais acolhedoras; muitos porque as tempestades lhes interromperam os sonhos.
Mais de cinco séculos volvidos, a aventura lusa continua e os mitos pouco mudaram entretanto. Quase quatro décadas após o golpe redentor dos militares de Abril, cansados das guerras africanas, não há autarca ou candidato a sê-lo que resista à indicação do turismo como motor do desenvolvimento local. Apesar de não saber muito bem do que está a falar. Em Tomar então -cuido que devido ao Convento, ligado aos descobrimentos e aos 150 mil turistas anuais que o visitam- a coisa chega chega a ter contornos cómicos. É o caso do actual executivo, fiel executante de projectos anteriores. Na ânsia de protagonismo e de desenvolvimento do turismo, vá de mandar construir e alargar parques de estacionamento lá em cima, junto ao Castelo, enquanto os comerciantes citadinos se vão queixando de que os turistas visitam o Convento, mas não descem à cidade. Um diálogo de surdos, portanto. Entre descendentes dos que cá ficaram, mas se proclamam sucessores dos navegadores de antanho. Imbróglios nabantinos...
Como se isso não bastasse, agora que prematuramente já começou a campanha eleitoral para as autárquicas de Outubro próximo, cada candidato entrevistado pela comunicação social local lá vai garantindo que o nosso desenvolvimento futuro será pelo turismo. Que turismo? A explorar por quem? Com que estruturas e outros recursos? Quais os objectivos? Tudo questões incómodas, que por enquanto não interessam nada. Os candidatos e os candidatos a candidatos apenas vão acrescentando que além do turismo terá de haver também alguma indústria, pelo que é necessário atrair investidores. O que implica a criação de um gabinete especializado nessa área. O qual, a ser alguma vez criado, virá a constituir um excelente armazém de boys e outros apaniguados. Mais um.
E assim continuamos a nossa marcha rumo ao abismo, na maior das tranquilidades, que alguém nos há-de vir salvar, como sempre tem acontecido. Só enquanto não conseguirmos desenvolver o turismo, bem entendido.
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