"Espanha hesita"
"Espanha é a primeira fonte de incertezas e de stress evocada pela maior parte dos economistas. Consideram que o país, atolado na recessão e no desemprego de massa, vai ter muitas dificuldades para ultrapassar a crise, sem solicitar o resgate europeu.
São raros os analistas que consideram que a Espanha possa atingir os objectivos de redução do défice. Temem também surpresas desagradáveis oriundas das regiões autónomas espanholas, responsáveis pela derrapagem orçamental de 2011.
Há já vários meses que Mariano Rajoy (Partido Popular, direita) dá a ideia de estar a tentar retardar ao máximo o pedido de resgate, como forma de preservar a sua integridade e evitar a imposição de novas reformas por Bruxelas.
"A Espanha corre o risco de aguardar demasiado", previne Gilles Moëc, do Deutsch Bank. Logo em Janeiro, Madrid tem de reembolsar 21 mil milhões de euros de juros e de capital que atinge a maturidade. Para o fazer, o governo Rajoy vai solicitar os mercados, indica a mesma fonte, que acrescenta: "Caso os investidores duvidem da solidez financeira de Espanha, a dita operação pode correr mal." Nesse caso, "as negociações do resgate europeu podem muito bem fazer-se tipo carga de cavalaria."
"A ameaça Berlusconi em Itália"
"Para Roberto Benigni, autor farsante do filme "A vida é bela", o fim do mundo prognosticado para 21 de Dezembro foi um pequeno detalhe, comparado com a ameaça do regresso à política de Sílvio Berlusconi. "Tenham dó!" implorou o actor na televisão italiana há alguns dias.
Os investidores e os dirigentes europeus não se afastam muito do mesmo raciocínio. Se o fim do mundo não aconteceu, a candidatura do "Cavaliere", ou até a sua vitória nas eleições legislativas de 24 e 25 de Fevereiro, é uma hipótese assustadora. Berlusconi usa um discurso anti-euro e anti-Alemanha, susceptível de comprometer as reformas iniciadas pelo actual presidente do Conselho, Mário Monti.
Mesmo se a vitória de Berlusconi, pouco estimado pela comunidade internacional, parece improvável, o resultado que alcançar pode vir a perturbar o bom funcionamento do próximo governo. E complicar assim a retoma italiana."
"A França sob vigilância"
"A França não será com toda a certeza a "bomba-relógio" anunciada pelo semanário britânico "The Economist", em Novembro. Mas o país, até agora poupado pela crise e estranhamente apreciado pelos mercados - os juros dos empréstimos de Estado são historicamente baixos, apesar de um défice elevado e de uma dívida igualmente importante- vai ter de demonstrar a sua solidez económica e financeira. Paris tem de continuar com as reformas já iniciadas (pacto de competitividade) para evitar que a possível derrapagem das contas públicas -segundo o FMI, o défice de 3% em 2013 não vai ser cumprido- possa suscitar a ira de Bruxelas e o nervosismo dos mercados.
Agilizar o mercado laboral faz parte dos processos que, de acordo com alguns economistas, vão facilitar o futuro crescimento económico. As negociações em curso entre o patronato e os sindicatos vão ser observadas à lupa. "Até agora, a França beneficiou da dúvida. Mas já perdeu o direito de errar novamente", afirma M. Moëc."
"Os desafios de Portugal e Irlanda"
"A Irlanda e Portugal estão ambos sob assistência da troika, prevendo-se que possam voltar aos mercados no final de 2013, para poderem financiar sem ajuda europeia os seus défices públicos respectivos e recuperar a sua independência. Mas se Dublin parece bem encaminhada, Lisboa suscita mais dúvidas. A disciplinada e pontual implementação das medidas de austeridade e das reformas impostas, nem sempre produziu os resultados esperados. A dívida continua pletórica e a recessão prolonga-se.
Portugal poderá por conseguinte vir a recorrer ao apoio do BCE e do Mecanismo Europeu de Estabilidade, para tornar mais seguro o seu regresso ao mercado. A menos que a Europa e o FMI lhe concedam entretanto mais tempo para atingir os objectivos previstos."
"O risco social grego e o espinho cipriota"
"Em 2013 a Grécia já não será "o" problema da zona euro. O novo auxílio financeiro, concedido pelos europeus neste final de 2012, forneceu um pouco de oxigénio ao país. Mas, há mesmo assim um mas. Uma longa lista de reformas e de cortes orçamentais terá de ser implementada em 2013. Acontece que, após cinco anos seguidos de recessão, a população grega, saturada, pode "explodir". E derrubar o governo, abrindo assim caminho à ascensão dos partidos extremistas.
Se não for a Grécia, é o seu vizinho cipriota que poderá vir a preocupar seriamente os dirigentes europeus. Arruinado, o pequeno país já não pode obter empréstimos nos mercados desde meados de 2011.
Após um empréstimo da Rússia, aguarda-se um ajuda europeia e do FMI. Mas a negociações sobre as condições deste apoio parecem delicadas com o governo cipriota comunista. Espera-se que possam estar concluídas até à reunião do Eurogrupo, programada para 21 de Janeiro.
Claire Gatinois, Le Monde, 29/12/2012, página 11
Comentário de Tomar a dianteira
Então não querem lá ver que os camaradas do PC de Chipre também não rejeitam o "Pacto de Agressão", mesmo com um empréstimo de Moscovo!!! Ingratos!!!
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