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Sabemos que a crise é sobretudo europeia, mas o Japão também não está nada bem e os Estados Unidos interrogam-se. Enquanto nesta margem do Atlântico, vá-se lá compreender porquê, se continua a negar que o nosso caso seja idêntico ao da Grécia -excesso crónico de despesa pública- por essa Europa fora as camadas pensantes procuram indagar das causas do seu e nosso infortúnio.
O Le Monde solicitou a uma série de personalidades mundiais que explicassem sucintamente a ideia que têm da França actual. Segue-se a posição de Steven Laurence Kaplan, professor de história europeia na Universidade de Cornell (Nova Yorque).
"Vocês estão agarrados a um modelo que já não funciona"
"O que penso da França em síntese? Resposta inevitavelmente esquemática. Começo pelas boas notícias, que agradam aos americanos a viver em França. Globalmente os franceses não são favoráveis ao porte de armas e por isso não têm de enfrentar sucessivos e horríveis massacres. Também não têm de negociar constantemente com Deus, omnipresente nos estádios, nas televisões, nas reuniões públicas ou nos parlamentos. Beneficiam de um largo consenso sobre a protecção social, ancorado no visão da solidariedade e da dignidade do homem, totalmente ausente no meu país. Mesmo sabendo que doravante o Estado não pode fazer tudo, não insistem em rebaixá-lo sistematicamente. Mesmo sem laivos de Robespierre, continuam a acreditar na política. O meu presidente -mais centrista não pode haver- é com frequência acusado de socialista, termo injurioso por estes lados, como sabem. É um risco que o vosso presidente não corre; quando muito será acusado por alguns de social-democrata.
Enfim, no horizonte, se tiverem realmente ânimo para tanto, perfila-se já a perspectiva de uma Europa forte, plenamente integrada, fiscalmente harmonizada (Depardieu e outros que se ponham a pau), um verdadeiro país do mel.
Agora as más notícias. Vocês estão desesperadamente agarrados a um modelo que já não funciona, tanto nas escolas como nos hospitais ou nos arrabaldes. Na escola primária, a aprendizagem da leitura funciona mal; na Universidade têm de repensar totalmente o primeiro ciclo, para não perderem os estudantes; ao nível da investigação avançada têm de abandonar essa obsessão nefasta da tabela de Xangai. Há também grandes dificuldades para assumir a heterogeneidade, nomeadamente cultural e religiosa. O excessivo culto republicano impede a aceleração da formação de burguesias magrebinas e negras. Falsa boa ideia, as 35 horas foram uma catástrofe jacobina que continua a onerar pesadamente a economia. Havia necessidade de um presidente "normal", após a "histerização" do mandato anterior, mas o presidente Hollande parece dirigir o país como geria o PS: com hesitações, prudência excessiva e a ideia fixa da síntese.
A oposição, necessária no jogo democrático, esfarrapa-se publicamente, enquanto que o fiasco de Florange evidencia em simultâneo as divergências no seio do governo e a desindustrialização, drama socio-económico e perigo estratégico.
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Não há em França praticamente crescimento económico e o desemprego é assustador (sobretudo entre os jovens), o que vai obrigar a renunciar a políticas francamente keynesianas, como forma de reduzir o défice público abissal. O que vai ser penoso, pois manifestamente os franceses não estão prontos para as grandes reformas, que de resto os políticos não ousam promulgar.
Seria pouco elegante mencionar a compra do Paris Saint Germain - PSG, por um emir do Qatar, ou do "Château de Gevrey-Chambertin", por um chinês. Não admira por isso que, de acordo com as sondagens, os franceses sejam campeões do mundo de pessimismo. O que se calhar explica os sucessivos récordes de consumo de anxiolíticos, neurolépticos e hipnóticos.
Mesmo não acreditando já nas alvoradas radiosas, o herdeiro das luzes que continua no âmago de cada francês também não o levará tão cedo a cantar o "No futur", dos Sex Pistols."
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