domingo, 16 de dezembro de 2012

Uma provocação infantil

O PAEL foi uma oportuna iniciativa governamental para obstar a sequelas ainda mais gravosas das medidas de austeridade. Permitiu a muitos municípios conseguir empréstimos vantajosos para liquidar compromissos com fornecedores, assim contribuindo para animar as economias locais. O problema, como quase sempre ocorre, é que de boas intenções está o inferno pavimentado. Se na maioria dos casos o PAEL vai servir mesmo para o fim a que foi destinado, outros há em que determinados malabarismos contabilísticos provocaram o desacordo da oposição. Foi o que sucedeu em Tomar, conforme se pode ler aqui.
Com uma parte da oposição a votar contra e outra a abandonar a sala antes do voto, a AM inviabilizou o recurso do executivo ao PAEL, à luz do entendimento jurídico mais terra a terra. Alegando pareceres especializados em sentido oposto, o presidente Carrão avançou. Apesar de o ter feito já depois de esgotado o prazo legal estabelecido, o pedido foi aceite e o empréstimo concedido, sob protesto do PS local, que anunciou ir recorrer ao tribunal competente.
Numa atitude inaceitável em democracia, alguém terá decidido uma acção de retorsão para tentar achincalhar a fraca e dividida oposição nabantina. Foi resolvido solenizar a assinatura do empréstimo, realizando-a no salão nobre dos Paços do Concelho, com a presença do secretário de Estado do sector e convidando todos os eleitos para o evento. Uma provocação infantil! Uma celebração de duvidosa legalidade no preciso local onde o parlamento municipal manifestou a sua discordância! Se por hipótese o tribunal competente vier a decidir que a oposição tem razão, pelo que o empréstimo é ilegal, que saída airosa irão encontrar? Farão de conta que não sabem de nada? 
No seu estado cada vez mais calamitoso, com duas bandas de música, dois clubes, dois jornais, duas rádios... Tomar necessita com a urgência possível de actos que unam os seus habitantes. Não de infelizes dislates que agravem ainda mais a nossa já trágica situação. 
Mas tudo isto existe, tudo isto é triste, tudo isto é fado (na versão original e/ou com as vogais trocadas).

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