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"Fraudes e autoridades"
"Em Portugal é difícil desmontar um argumento fraudulento utilizado por qualquer figura de autoridade."
"Conheci pessoalmente Artur Baptista da Silva no passado dia 17 de Novembro, em que ambos fomos convidados para intervir numa palestra, subordinada ao tema "Há alternativas ao Euro?", promovida pelo Movimento Internacional Lusófono. Aquele orador apresentava-se como coordenador do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). A sua intervenção estava pejada de números, metade dos quais estavam errados.
Soube-se há poucos dias que Baptista da Silva, que recebeu uma extraordinária atenção por parte da comunicação social e de outras instituições, não ocupava nenhum dos cargos de que se dizia titular, além de terem sido desenterrados esqueletos do seu passado, da mais diversa índole e gravidade.
Imediatamente foi apodado de "fraude". Mas há aqui duas questões, completamente distintas, que convém analisar. Por um lado, há a fraude óbvia de se fazer passar por algo que não era; por outro, há a fraude do conteúdo das suas afirmações. Em relação à primeira fraude, ela é clara e não merece grande discussão. O segundo aspecto é que merece uma reflexão maior. Imaginemos que esse suposto funcionário da ONU ocupava mesmo o cargo que dizia exercer. Teria algum jornalista contestado os seus erros factuais e os seus "raciocínios"?
Quantas figuras temos nós em Portugal, com cargos muito elevados, que dizem torrentes de disparates que não são sequer verificados pelos jornalistas? Quantas vezes há uma enorme dificuldade de separar o trigo do joio no espaço público? Recordemos três exemplos.
O primeiro e o paradigma máximo é o antigo primeiro-ministro José Sócrates. Ao pé dele Artur Baptista da Silva não passa de um principiante. Não tanto em termos de currículo publicado, em que também havia umas névoas, mas sobretudo pela sua extraordinária capacidade de faltar à verdade e de fazer malabarismos com meias verdades.
O segundo exemplo ocorreu em 2009, ainda antes das eleições legislativas, quando tivemos um duelo público relativo a obras públicas. Foi publicado um primeiro manifesto, de respeitados economistas e ex-ministros das Finanças, a pedir uma reavaliação das obras públicas. Portugal apresentava então não só uma das mais altas taxas de investimento público, como um dos mais baixos crescimentos de produtividade, uma combinação que deveria alarmar qualquer um. (Relembre-se que o crescimento da produtividade é uma condição essencial para o desenvolvimento económico e um requisito imprescindível de crescimento sustentável dos salários reais.)
Houve duas prontas respostas. A primeira também dominada por professores universitários, mas envolvendo ligações à esquerda radical, que nunca pertenceu ao governo nem parece empenhada em fazê-lo, tal o irrealismo das suas propostas. O outro documento pode ser descrito como o "manifesto dos interesses", assinado sobretudo por gestores públicos com fortes ligações ao sector da construção e das obras públicas.
Rapidamente se gerou a maior confusão pública, em que tudo passou a ser equivalente a tudo, tendo sido impossível fazer uma avaliação isenta dos próprios manifestos.
Um outro exemplo é mais recente e diz respeito à extraordinária tese que circula por aí, com imensa audiência, que diz que "a dívida não existe". Mas isso não é afinal uma fraude ao nível de Baptista da Silva? Em Portugal, demasiadas vezes, o princípio da autoridade ganha ao princípio da razão. Lembra-se de como as críticas racionais aos erros de política económica do anterior governo eram descritas como "bota-abaixismo"? O mais terrível foi isso; não a ausência de críticas, mas o menosprezo com que estas foram tratadas.
Este país tem assim dois problemas graves. Em primeiro lugar, dá primazia aos argumentos de autoridade, em detrimento dos argumentos de razão. Em segundo lugar, escolhe líderes maus. Se a prevalência da palavra do chefe sobre a razão já é mau, quando o chefe é medíocre e/ou desonesto, isso é péssimo."
Pedro Braz Teixeira, jornal i, 26/12/2012, página 13
Pedro Braz Teixeira é Director Executivo do "Nova Finance Center - Nova School of Business and Economics" - Universidade Nova de Lisboa
E nas margens do Nabão? Quem é que está a pensar em Pedro Marques, António Paiva, Corvêlo de Sousa, Carlos Carrão, e Companhia? Invejosos! Ressabiados! Línguas venenosas! É tudo gente de primeira água, seus asnos!
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