Já votou na sondagem final? >>>
Muitos portugueses já ouviram falar de Champigny e do seu bairro da lata, no qual viveram dezenas de milhares de compatriotas nossos nos anos 60/70 do século passado. Cinquenta anos depois, muita coisa mudou, como relata esta reportagem do Le Monde:
Arquitectura
"Em Champigny-sur-Marne (Val de Marne), as sete casinhas nos telhados deverão receber os primeiros habitantes na próxima Primavera."
"Em Champigny-sur-Marne, na cintura sudeste de Paris, todos conhecem já "as casinhas empoleiradas nos telhados dos prédios". Basta perguntar. Como o antigo imóvel de betão tinha de ser destruído para dar lugar a uma creche, este programa de realojamento social assinado por por Edouard François deu muito que falar na zona. "Parece que andou um cachopo a empilhar Legos e que depois o pai resolveu fazer o mesmo", declarou uma vizinha a um jornal. Pelo contrário, outros moradores mais circunspectos reconhecem que o projecto tem permitido que o bairro dos Mordacs ganhe fama, o que lhes agrada.
O arquitecto, urbanista e designer, escolhido pela sociedade Paris-Habitat, fala de "colagem" e até de "caos urbano". Segundo nos disse, há que imaginar um imenso tsunami, capaz de encavalitar uma "barra" dos anos 1970, estilo Movimento modernista, em cima de uma fiada de prédios arrabaldinos e, finalmente, colocar em equilíbrio no topo um cacho de pavilhões típicos dos anos 1980, com persianas em madeira envernizada e ferragens algo barrocas. Previsto para uma centena de famílias, o programa é uma espécie de resumo histórico das três idades do habitat do século XX. "Foi preciso reconciliar modelos urbanos que em geral não se falam", resume o arquitecto.
Edouard François não foi buscar esses modelos longe dali. Num contexto de arrabalde "nem bonito nem feio e eventualmente sem interesse,o problema de "fazer centro" de modo feliz e positivo exigia portanto uma resposta radical", acrescentou. A proposta, cujo resultado faz rir -o que é muito bom tratando-se de um conjunto arquitectónico habitado- não se resume no entanto a um mero exercício de estilo gratuito. Trata-se, segundo o autor, de estilização. Se o conjunto é composto por uma "barra estilo barra" e "pavilhões estilo pavilhões", a série de construções ao nível da rua foi tratada de modo diferente.
Para "conseguir fazer centro da cidade, há que qualificar os primeiros níveis com matéria", solicitando os peões a cada dez metros e multiplicar as entradas. A partir do passeio são nada menos de seis, algumas prolongadas por escadas que permitem aceder aos andares superiores. Exactamente o oposto do programa da ZAC Rive Gauche, em Paris, na qual por causa do tamanho dos estabelecimentos e da parte administrativa, o movimento urbano tarda em acontecer.
Apesar da sua complexidade, o projecto de Champigny não originou quaisquer problemas de construção. Todos os elementos do conjunto são em betão. O que difere é o tratamento das superfícies exteriores (cinzento para a barra, bege para os pavilhões, revestimento de telhas e/ou zinco para os prédios arrabaldinos) que permite criar a ilusão de um conjunto de construções compósitas.
Apesar de tudo, esta extravagância arquitectónica não ficou mais cara ao dono da obra. Todo o projecto recorreu a acabamentos em conformidade com os custos dos alojamentos sociais. Nada de supérfluo, por conseguinte, mas cada alojamento responde às exigências actuais de conforto e de economia energética. O aquecimento de todo o conjunto é assegurado por meios geotérmicos.
Os alojamentos, todos a atravessar, dispõem nas traseiras de espaços exteriores..."
Jean-Jacques Larrochelle, Le Monde, 19/12/2012, página 29
Sem comentários:
Enviar um comentário