quarta-feira, 8 de julho de 2009

HOJE HÁ POESIA...POLÍTICA!

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
Muda-se o ser, muda-se a confiança;
Todo o mundo é composto de mudança,
Tomando sempre novas qualidades.
Continuamente vemos novidades,
Diferentes em tudo da esperança;
Do mal ficam as mágoas na lembrança,
E do bem (se algum houve) as saudades.
O tempo cobre o chão de verde manto,
Que já coberto foi de neve fria,
E, enfim, converte em choro o doce canto.
E, afora este mudar-se cada dia,
Outra mudança faz de mor espanto,
que não se muda já como soia.
Luis de Camões 1525 -1580

Embora possa à primeira vista não parecer, tem tudo a ver com a situação e a política actuais, este conhecido soneto de Camões, que tem andado um pouco esquecido. Um dos melhores conhecedores do mundo da sua época, homem de letras e de acção, do amor e da guerra, o insigne poeta já no seu tempo conseguiu vislumbrar que até a própria mudança ia mudando (Outra mudança faz de mor espanto, que não muda já como mudava). O mesmo sucede agora sob os nossos olhos: a mudança é cada vez mais rápida e nós temos cada vez mais dificuldades na forçada adaptação ao que está e, sobretudo, ao que aí vem, quer queiramos ou não.

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