quarta-feira, 15 de julho de 2009

SOBRE TURISMO DE QUALIDADE



António Rebelo
Começo por confessar que o texto seguinte é daqueles que preferia não subscrever. Acontece, todavia, que se trata de um excelente exemplo daquilo que pretendo demonstrar. Ocorre igualmente que a empresa visada é em parte financiada por dinheiros públicos, através do NERSANT e da ADIRN, logo sujeita às críticas dos contribuintes. Portanto aqui vai.
A ideia de organizar visitas guiadas é excelente e deve ser continuada. Mas numa terra e num país onde muito se fala de turismo de qualidade, todos os cuidados são poucos. Viajando cá dentro e pelo mundo, há muito que constato as enormes diferenças, para pior, que nos separam da Europa à qual geograficamente pertencemos. Apregoamos qualidade, que realmente apenas existe em unidades hoteleiras de 4 estrelas ou mais, bem como em raros outros casos. E há também o clima, que não depende de nós, e ainda bem! Regra geral, em matéria de acessos, sinalização, organização, horários, alimentação, atendimento, etc etc. é aquilo que todos sabemos, embora nem sempre o admitamos, por orgulho e porque não nos agrada.
Na verdade, podemos muito bem estar confrontados com uma situação assaz complicada. Ninguém nasce ensinado, é claro, mas para aprender é preciso paciência e, de preferência, quem ensine. Toda a gente aceita isto, menos aqui em Portugal, onde todos julgam saber de tudo. Daqui resulta que os nossos profissionais de turismo, mesmo os devidamente diplomados, são muitas vezes de parca qualidade. Não só por culpa própria, mas também e sobretudo porque quem os ensinou, ou julga que ensinou, também não sabia. Assim vamos indo...
As ilustrações acima documentam um caso actual do turismo tomarense. Na primeira, opino eu, o local escolhido para afixação não será o mais adequado. Dá uma ideia de desmazelo, desorganização, decadência, miséria, falta de limpeza. Na outra, o cartaz enferma de uma razoável quantidade de mazelas, que passo a enumerar. Não se trata, neste caso, de opinião mas de factos verificáveis na referida publicidade.
1 - Não é muito correcto esquecer-se de incluir um título em português. A maior parte dos turistas são portugueses e espanhóis, que naturalmente entenderão melhor o idioma de Camões.
2 - É uma prova de servilismo, encapotado por uma pretensa modernidade, usar letras mais pequenas em português e maiores em inglês.
3 - Old bridge = Igreja? Será Nossa Senhora dos Patos? dos Peixes? da Ponte Velha? Dos Patos Bravos? Ou da Asneira?
4 - Os horários indicados estão tão bem feitos que mesmo eu, habituado a tudo um pouco por esse mundo fora, ainda não os consegui entender cabalmente.
5 - Afinal qual é o meio de transporte para visita? A pé? De charrete? De bicicleta?
6 - "Regional snack and wine taste" não tiveram direito a tradução, duração, composição ou indicação do local, porquê?
7 - Manda a boa educação que se use linguagem adequada sempre que possível. Neste caso, para quê 2 PAX, que poucos entenderão, em vez de 2 pessoas?
8 - "Guia credenciado". Quem é? Quais são as credenciais? Concedidas por quem?
9 - As crianças portuguesas até aos 12 anos não beneficiam do desconto de 50%? É ilegal, porque discriminatório. Mas então, porque motivo não foi escrito igualmente em português o texto em questão?
10 - As igrejas anunciadas no programa são para visitar interiormente? Só para ver de fora? Cada visita dura quanto tempo? Às segundas-feiras, quando a Igreja de S. João está fechada, como é que tencionam proceder, uma vez que o programa menciona "Todos os dias"?
E por aqui me fico, com o velho dito segundo o qual o turismo é uma actividade demasiado complicada para ser deixada ao cuidado dos turistas. Turismo de qualidade? Pois pois!!!

Sem comentários: