sábado, 28 de novembro de 2009

LAMENTÁVEL CEGUEIRA POLÍTICA

Nunca, até agora, aqui se comentou a política nacional. Entre outros motivos, por entendermos que o nosso sistema eleitoral transforma os representantes eleitos em simples membros do rebanho, incondicionalmente obedientes aos pastores respectivos. Pouco ou nada adianta por isso criticá-los, uma vez que apenas respondem perante o partido e não aos eleitores. Desta vez, contudo, abre-se uma excepção, dada a gravidade dos acontecimentos. Uma convergência de circunstância, unindo no voto forças partidárias tão próximas como o CDS e o Bloco de Esquerda, passando pelo PCP, derrotou a maioria relativa do PS em sucessivas votações na Assembleia da República. Aconteceu ontem e, ou muito nos enganamos, ou há-de ficar na história parlamentar como o princípio do fim deste governo Sócrates. É só dar tempo ao tempo...
Alheios à coerência política, à gravidade económica da conjuntura e à manifesta ausência de soluções alternativas, tanto de governo como de ultrapassagem da nossa crónica crise, Paulo Portas, Ferreira Leite, Jerónimo de Sousa e Francisco Louçã votaram unidos para retirar ao governo avultadas verbas, sem as quais os vários défices só poderão agravar-se. Isto enquanto vão acusando o mesmo governo de ser despesista e de nada fazer para reduzir o exagerado défice de 8%. Lindo ! Sobretudo para Ferreira Leite e Francisco Louçã, conhecidos economistas da nossa sociedade. É, por assim dizer, se nos permitem a comparação, o mesmo que acusar alguém de estar cheio de nódoas negras, depois de lhe ter dado uma valente sova.
Perante tão óbvia e lamentável cegueira política, pois ninguém estará a ver um governo CDS/PSD/PCP/BE como solução alternativa, somos forçados a constatar que tinha razão Miguel de Unamuno, ao escrever que "os portugueses são um povo de suicidas." Disse-o na primeira metade do século passado, mas continua muito actual, a julgar por exemplos deste tipo. Tudo indica que estamos confrontados com uma facécia de carnaval antecipado, levada a cabo por um bando de criaturas politicamente imaturas. Que somos forçados a remunerar como se fossem de primeira qualidade. Triste sina a nossa !

4 comentários:

Anónimo disse...

Pois é: assistimos ontem ao descer dos primeiros degraus do Governo!
A partir de agora, fica-nos a ideia de poderemos ter eleições, a curto prazo, tendo em conta os prazos que o PR tem para dissolver a Assembleia!
Sócrates está "mortinho" para arranjar um pretêxto, o Ministro das Finanças também (deve estar mais que farto do cargo e não deve estar para aturar muito mais coisas destas)...
Somos oriundos dos Lusitanos, o tal povo que não se governa nem se deixa governar!

Anónimo disse...

Não é tanto assim, meu caro antónio. A tua clarividência, que sempre merece apluaso, não pode ser obliterada pelos tons rosa deste Governo. Então, queres ignorar o seu mau despesismo? E a insuportavel carga fiscal sobre uma população massacrada por taxas e impostos? E o autoritarismo fiscal e a arrogância da legislatura anterior?
Acabou o tempo da maioria absoluta: governar, agora sim, é arte...o teu sentido de justiça deveria reconhecê-lo!

Anónimo disse...

O Doutor António Rebelo terá alguma razão, mas também poderia perguntar porque foram nomeados 28 (salvo erro)secretários de Estado após as últimas eleições. Quanto custam? Um País, pequeno como o nosso, precisa de tanta gente no Governo? Não esquecer que além dos ministros e secretários de Estado, vêm depois carradas de secretários e secretárias, assessores, adjuntos, etc, etc. Só aqui, poupa
-se-ia dinheiro para fazer muitas coisas que fazem falta ao País... Hoje mesmo, temos espalhadios de norte a sul dezenas de voluntários a pedir ajuda para milhares que passam fome...
Zé do Castelo

Sebastião Barros disse...

Razão parecem ter os que afirmam que das mesmas massas, nas mesmas formas, cozidas nos mesmos fornos, resultam sempre os mesmos bolos.
A ver se nos entendemos. Caso contrário cairemos no mesmo erro dos respeitáveis pastores de deputados da A.R.
Não estava nem está em causa o mérito ou falta dele no que se refere ao anterior ou a este governo. Apenas a evidente infantilidade das várias forças oposicionistas, que só se unem para prejudicar a maioria relativa. Quanto ao resto: Têm alguma solução governativa alternativa? Não ! Têm alguma proposta de solução para a crise ? Não ! Viram alguma das suas propostas susceptível de contribuir para a redução do défice chumbada pelo PS ? Não
Nestas condições, os que agora vêm com os muitos defeitos do governo, como a excessiva nomeação de afilhados, ou a passada arrogância, estão apenas a servir-se de desculpas de mau pagador. Aliás, basta ler as análises da imprensa de hoje (que só fui comprar e ler após ter redigido e publicado o meu texto, conforme podem conferir pela hora afixada), para verificar que dizem sensivelmente a mesma coisa. Isto para já não falar da habitual
crónica de V.P.V no PÚBLICO, que deveria fazer corar qualquer parlamentar. Escreve ele que os senhores deputados reclamam contra a marcação de faltas, a proibição dos "desdobramentos" e outras "habilidades", mas jamais se insurgiram contra quem lhes manda votar assim ou assado. Está tudo dito. Por isso somos como somos. Por isso estamos como estamos. Pobre país que tais filhos tem !