sexta-feira, 6 de novembro de 2009

RELVAS, A INTERNET E A REALIDADE

Noticia O TEMPLÁRIO (página 11 da edição de 05/11/09), que o presidente da Assembleia Municipal, Miguel Relvas, já solicitou às duas rádios locais a apresentação de propostas para a transmissão integral via internet das sessões daquele órgão. Como qualquer outro recurso técnico, a internet pode ser excelente, péssima ou completamente inútil. Depende inteiramente daquilo que através dela se faça. Um mau filme não passa a ser excelente só porque é exibido na Eurovisão...
No caso do parlamento tomarense, o problema do seu evidente apagamento e progressiva inutilidade prática, não resulta tanto da falta de difusão das suas actividades, mas também e sobretudo da sua prática reiterada. Anos e anos de maioria absoluta, com eleitos de fraco poder de encaixe e falta de hábitos democráticos, deram no que se sabe: sessões a horas impossíveis para quem trabalha, um regimento abstruso, aplicado de forma rígida, silenciamento das (poucas) vozes discordantes, ordens de trabalhos apenas para cumprir calendário, actuação orientada exclusivamente no sentido de não interpelar o executivo. A tudo isto, a agora pretendida transmissão via internet não dará qualquer solução, caso persista o comportamento incoerente verificado até aqui -dizer um coisa mas desmenti-la na prática.
Conviria por isso ter sempre presente a muito conhecida história da égua do sevilhano, que já vem dos nossos avós. Com a louvável intenção de poupar tanto quanto possível (o que agora o município de Tomar também terá de começar a fazer, voluntariamente ou à força...), um nobre sevilhano, após madura ponderação, resolveu habituar a sua montada a deixar de comer. Ficava-lhe nitidamente mais em conta. Pouco a pouco, foi reduzindo o penso diário (é assim que se diz nas coudelarias) e o animal, coitado, lá foi suportando a sua sorte, cada vez com maior dificuldade. Até que um dia morreu de inanição. De fome, se preferirem. Pois em vez de admitir que procedera mal e provocara deliberadamente a morte da égua com a sua ignorância crassa, o nosso homem, apesar de sevilhano, teve um comportamento muito tomarense. Proclamou, convicto -Coitadinha da égua ! Agora que já estava a ficar habituada é que se finou. É preciso azar !
Pois é ! Nas margens do Nabão também nos vamos habituando. Até quando vamos durar ?

2 comentários:

Anónimo disse...

Bom dia, António Rebelo.

Pois é! Nem tudo será mau se esta pretensão do inefável tomarense Miguel Relvas de fazer passar na internet as sessões da Assembleia Municipal for avante! É que assim, e sem artefactos distrativos, fica exposta ao público a ridicularia em que muitas e muitas vezes cai esse orgão autárquico, pela má condução dos trabalhos, pelo enredo sinuoso (entenda-se tenebroso) em que têm sido tecidas as sessões, e sobretudo porá a nú a excelsa propensão de muitos dos seus actores para a vida política autárquica. Tem sido assim no passsado recente, como muito bem sabe, e assim é esperado que continue porque o circo, apesar do elenco ser ligeiramente diferente, continua o mesmo. Eu tive em tempos uma experiência traumatizante! Fui assistir a uma sessão aberta ao público e sai de lá antes do fim - a minha capacidade de resistência não dá para tanto - e com vontade de fazer uma cura de sono. Passei o resto da semana a ler T.S. Elliot e James Joyce para lavar o espírito, jurando a mim próprio nunca mais me autoflagelar dessa forma.
Costuma dizer-se que o riso é em algumas circunstâncias a capa da ignorância. Eu afirmo que os "fait divers" são quase sempre a capa da incompetência! Será o caso diz-me o meu relativo pessimismo.

Frei Gualdim disse...

Nunca damos Tomar por alcavala a alguém.