Após a leitura da mensagem anterior, alguns leitores mais sensíveis alvitraram ser demasiado deselegante apodar de ignorantes os nossos autarcas. Têm razão, mas não foi isso que se escreveu. Com a crescente complexidade do mundo, em cujo seio somos forçados a viver, ignorantes somos nós todos. Há, todavia, dois grandes grupos - 1 - Os que sabem que não sabem; 2 - Os que nem isso sabem.
Os primeiros têm a honestidade, a franqueza e a humildade necessárias para confessar a ignorância e pedir esclarecimentos a quem saiba. Nada mais natural. É para isso que servem os quadros superiores, os assessores, os conselheiros, os especialistas, os consultores, etc. Os outros têm o hábito de se fechar na sua torre de marfim, fingindo que sabem tudo e nada perguntando. Aqueles vão aprendendo; estes cada vez sabem menos.
Regra geral, os eleitos que temos, salvo uma ou outra rara excepção, pertencem ao segundo grupo. Infelizmente para eles, desgraçadamente para nós todos. Porque na verdade até são pessoas sãs, normalmente inteligentes, socialmente frequentáveis e politicamente válidos, conquanto criticáveis, como todos nós. O problema é que uma vez sentados na cadeira do poder, têm tendência a perder o Norte, a considerar que fazem parte de um escol, a resvalar para a esperteza saloia. Acontece que, como é sabido, um esperto é apenas um inteligente de curto raio de acção. Não alcança para além de uma certa distância física ou temporal. Donde os peculiares problemas do país e da nossa cidade, como por exemplo a crise e o paredão-Muro das lamentações.
A provar o que acaba de ser dito -que os autarcas tendem a resvalar para a esperteza saloia- trazemos para aqui uma iniciativa autárquica tomarense de Julho do ano passado. Nessa altura a Câmara contratou, por 9355 euros + IVA = 1.871 contos, almoços e lanches para o "Passeio dos Idosos". O tema foi aqui abordado, tendo alguns dos nossos leitores opinado que os velhotes têm direito a essas coisas gratuitas, oferecidas tanto pela Câmara como pelas Juntas de Freguesia, após uma vida inteira de trabalho e de problemas. É o chamado "raciocínio à grega". O povo tem todos os direitos e nenhuma obrigação. Infaustamente, os helenos acabam de ser privados, de uma assentada, do 13º e do 14º meses. É a crise. E os nossos conterrâneos e demais compatriotas que se vão pondo a jeito. Os ventos rudes sopram agora na nossa direcção.
Face às acima referidas excursões e outros passeios, há um outro grupo, mais cínico, que diz em privado não ser nada caro comprar votos entre dez e quinze euros cada um, uma vez que quem paga são os contribuintes. Trata-se de mais um erro de perspectiva; da tal esperteza saloia. Ao custo dos almoços e lanches há que somar o aluguer dos autocarros privados, o combustível, o desgaste de material e o motorista do da Câmara e os prejuízos evidentes das agências de viagens, pagadoras de impostos, que evidentemente perdem muitos clientes com essas saídas tudo pago, à custa dos contribuintes.
A isto os senhoras autarcas responderão que há neles uma real preocupação com a terceira idade e com os casos sociais. Que nem sequer pensaram alguma vez na compra de votos. Pois ! Mas o Sousa continua a viver nas retretes, o talibã morreu numa casa abandonada, a Sandra também, e o Albergue nocturno da Calçada dos cavaleiros continua em ruínas...
Reconheça-se, no entanto, que a autarquia é a única, neste momento, a poder levar de borla os idosos de carrinho com o Carrão. Pois então !
10 comentários:
Bom dia António Rebelo,
Para onde vão os nossos importos???!!! Ó senhor Rebelo, ou está a armar-se em ingénuo e é mau actor ou então lançou para o ar mais um título provocativo!
Para onde vão os nossos impostos? Até o mais desatento sabe que vão para os Mexias, os Granadeiros, Os Bavas, as Fundações XPTO, etc, etc, etc, e toda essa cáfila de criminosos que se apoderou do governo e que a cada dia que passa faz mais um assalto ao orçamento de Estado.
É a democracia na sua plenitude! Muitos ou quase todos, portanto o povo, a pagar para meia dúzia...bem medida!!!
Compreendo a sua reacção. A situação vai de mal e pior, o que não ajuda nada a ter uma visão equilibrada das coisas. A verdade, porém, é só uma. Doa a quem doer, custe a quem custar. Há abusos ? Certamente. Todavia, manda a realidade dizer que nos casos citados está enganado. Os nomes que indicou são de gestores de sociedades privadas, nas quais o estado (e não o governo) detém uma quota minoritária. Essas sociedades pagam impostos e uma percentagem dos lucros ao sócio estado. Têm, por conseguinte, a liberdade de pagar aos seus administradores como entendem, posto que não se trata de dinheiro dos impostos cobrados aos contribuintes. Podemos ou não concordar com tais remunerações, que alguns até já apodam de "pornográficas", mas a democracia também é isso. Acresce que, por exemplo, no escandaloso caso dos 3,5 milhões anuais auferidos pelo Mexia, o fisco arrecada agora 42% e 45% a partir do ano que vem. Caso a EDP ficasse com essa mesma soma como lucro, em vez de a pagar como honorários, o fisco arrecadaria apenas 25%, de acordo com a lei. Está mal ? É provável, mas então o erro já não é só do governo. É também, e sobretudo, da Assembleia da República, onde como sabe a oposição tem a maioria desde as últimas eleições.
Pelo contrário, os quase dois mil contos que foram papados pelos idosos, durante o seu passeio de 2009, ao almoço e ao lanche, vieram direitinhos dos nossos bolsos. E poderiam e deveriam ter sido utilizados com outro critério e tendo em conta outras prioridades.
É sempre mau deixar-se desorientar pela inveja. As coisas são o que são. Sonhar pode ser bom, desde que nunca se perca de vista a realidade.
Os meus impostos vão para a contribuição de uns pobrezinhos, Mexia e companhia lda...
O Prof.Rebelo é uma pessoa informada. Esclarecida. Inteligente e sabedora. Por isso não se lhe perdoa como sendo erro ou gaffe, o facto de não relevar que a EDP detém (até agora) o exclusivo fornecimento de electricidade aos consumidores ! E quem, para ter os lucros que o MExia diz ser mérito dele, fomos nós que lhe pagámos as tarifas mais caras dos países do sul da Europa!!! No caso, o Mexia mexeu muito nos nossos bolsos, para "justificar" agora os prémios. E já prometeu que mexe mais: os contadores digitais, vão ser pagos por nós!! Não vão ser custo da EDP!!!
O Prof. Rebelo ataca tanto os homens dos SMAS cá do burgo, por causa das tarifas, e agora "legitima" estes prémios, verdadeiramente roubos aos consumidores, porquê???? Às empresas (mesmo privadas) que prestam serviços públicos, deve ser permitido "taxar" para ganhar lucros, para depois se auto-premiarem, gestores e accionistas??? O Estado deve aqui ficar, quedo e mudo como ficou??? O povinho pagante, devia fazer greve ao pagamento das contas.... Ia ver para onde iam os prémios do Mexia....
Alice Marques
Como é habitual, escrevemos uma coisa e os leitores entendem outra. O português é realmente uma língua demasiado ambígua, como dizia o Prof Yorkievitch, no século passado. No caso presente, lamenta-se o estado das coisas mas não se legitimou a EDP, a PT, a GALP, ou qualquer outra.
O problema de monopólio, que coloca no seu escrito,tem mais a ver com o facto de sermos a periferia da periferia da Europa, e com a política dos sucessivos governos, do que com as benesses dos gestores e outros administradores.
Há depois, também, a questão das causas e dos efeitos, que convém não confundir. Se as referidas empresas já pertenceram ao estado e foram por ele privatizadas, porque terá sido ? Porque será que a TVI e SIC, que são privadas, geram lucros, e a RTP, que é do Estado e financiada por todos nós, tem cada vez mas prejuízos ?
Os modelos políticos ideais são muito tentadores. Todavia, são tal e qual como os automóveis, por exemplo. Só depois de testados no terreno é que se fica a saber da sua real qualidade.
E que o futuro nos livre do pensamente único !
Será que proporcionar um dia diferente àqueles, que na sua maioria auferem pensões de pouco mais de duzentos euros e que na sua vida foram quem mais sacrificios passaram, trabalhando muitos deles de sol a sol, ganhando aquilo que não chegava para comer é crime?
É uma ipocrisia pensar que oito ou dez mil euros por ano, fazem assim a diferença, perante àqueles que recebem aos milhare sem grande esforço e por todos os esbanjados...
Concordo plenamente com o anónimo da 20.13 horas, porque com a importância referida não se faria qualquer obra. Depois por todos os gastos supérflus em todas as áreas,no país, isto é uma gota de água, quanto a mim bem aproveitada.
É muito mais desastroso continuarmos a ter priviligiados com grandes aposentações e continuarem a trabalhar, outros com duas e três aposentações,outros que ainda vão estando ao serviço, com brutos salários, cujo valor é o que eles não têm, enfim mordomias que se conhecem, mas que ninguém fala. É mais fácil atacar os mais fracos.
Haja bom senso!
Para 20:13 e 23:24
A vossa posição resulta de respeitáveis sentimentos de caridade, entreajuda, solidariedade, e por aí adiante.Pecam porém num detalhe, que faz toda a diferença -Todos esses sentimentos são muito estimáveis desde que exercidos com dinheiros próprios, metendo a mãozinha ao bolso. No caso em debate,Faz o inverso: usa-se o dinheiro dos contribuintes para comprar votos de forma despudorada.
E não adianta vir com a usual argumentação dos coitadinhos, das pensões baixas, das vidas de trabalho, etc., que em muitos casos nem sequer correspondem à verdade.
É exactamente essa maneira de pensar e de agir que os usuais países pagadores da Europa do Norte nos reprovam. Estão fartos do coitadinhos dos velhinhos, coitadinhos dos cineastas, coitadinhos dos desportistas, coitadinhos dos artistas, coitadinhos dos desempregados, coitadinhos dos estudantes, etc. etc., que na Grécia está a dar os resultados que se conhecem. E em Portugal não tarda. É só dar tempo ao tempo. Grão a grão enche a galinha o papo.É verdade. Todavia, da mesma forma, grão a grão despeja a autarquia o saco.E o estado então nem se fala...
Essa forma de argumentar é muito dúbia, porque esses discursos vêm de há muito de vários quadrantes, mas que não passam disso mesmo. Muitas vezes falam para disfarçar, para não serem apontados dos seus defeitos, sendo a melhor defesa o ataque.Relativamente há compra de votos, parece-nos que "com papas e bolos não se enganam mais os tolos". Por conseguinte essa é uma falsa questão, porque se os votos se compram também se afastam com mentiras e muitas falsas questões e que para isso muitas vezes também é preciso o dinheiro dos contribuintes.
É evidente que se a câmara pagasse viagens à Tailândia ou à ilha dos cabeçudos tudo estaria bem. Como não é assim há por aí muita azia.
Enviar um comentário