PARAR PARA PENSAR ANTES QUE SEJA TARDE

Na sequência do "post" anterior, tínhamos congeminado um outro, sobre a necessidade de parar para pensar. Para debater serenamente e cara a cara os problemas tomarenses. Não entre eleitos temporariamente profissionais da política, mas entre todos os cidadãos interessados. Reunindo, em local amplo e em igualdade de circunstâncias, eleitos e eleitores, previamente convocados individualmente, em função do que se supõe que tenham para dizer. Para que ninguém se sinta intruso ou excluído.

Foi portanto com surpresa e posterior safisfação que lemos o comentário supra reproduzido, o qual vem mostrar, uma vez mais, a convergência de opiniões entre os cidadãos realmente preocupados com as crescentes dificuldades de todos.

Para além da vasta e pertinente lista de mazelas apontadas pelo nosso leitor (ou leitora), há dois outros aspectos que julgamos importante realçar -a crise e os planos existentes. Em relação ao primeiro, os senhores autarcas continuam a evoluir com se nada tivesse mudado, quando afinal ao dinheiro fácil sucedeu o dinheiro raro e dífícil; ao dinheiro barato sucedeu o dinheiro caro; à folga orçamental sucedeu o aperto cada vez mais acentuado; às transferências garantidas sucedem-se as drásticas reduções, que apenas estão a começar; às admissões sucede o congelamento das contratações de funcionários.

Alheios a tudo isto, os nossos (de quem neles votou...) edis de circunstância continuam a usar exclusivamente o mesmo documento de trabalho: "Tomar 2015 -Uma nova agenda urbana -Documento de trabalho - Janeiro de 2008". Trata-se do já tristemente célebre relatório da CEDRU, fabricado muito antes da crise que nos assola cada vez mis intensamente, e que, para além de outros aspectos, chega até a ser humorístico. Infelizmente. Exemplos: "...segundo a forma de um Programa de Acção que cônjuge (sic) um conjunto de projectos coerente com forte carácter integrado..." (página 7, o negrito é nosso). "Estes projectos contribuiram para a rápida e profunda transformação produtiva de Tomar, caracterizada pela passagem de um modelo económico suportado na indústria transformadora, para uma nova economia urbana de comércio, serviços públicos e turismo". (Página 8, negrito dos autores). "No dealbar do século XXI, Tomar evidencia não só uma vitalidade patente em vários indicadores, como perspectivas para robustecer e diversificar a sua base económica, recuperando-a e actualizando as suas vocações históricas: cidade de serviços, polo de inovação e de competitividade, cidade de cultura e de saber." (Página 8, negrito dos autores). A fechar os exemplos caricatos, esta pérola ímpar: "O crescente potencial da cidade reparte-se por vários domínios, emergindo de forma indelével como novo pilar de desenvolvimento a sua vocação turística..." (Página 8, negrito dos autores)

Para além da óbvia criatividade em matéria de língua pátria, o conceituado relatório apresenta o que julgamos ser uma inovação absoluta a nível europeu e mundial -o desenvolvimento por pilares, coisa em que ainda nenhum especialista tinha pensado. Além de conseguir, ao longo de laboriosas 34 páginas, apresentar um panorama da cidade tal como ela nunca foi, nem é, nem virá a ser. Era difícil, mas foi conseguido. Parabéns!

Numa outra vertente, quiçá ainda mais significativa para o que nos interessa, conquanto ostente o título pomposo "Tomar 2015", manda a verdade dizer que as iniciativas previstas no citado relatório, além de inadequadas porque ultrapassadas, estão praticamente esgotadas, cinco anos antes do seu termo temporal. É obra!

É obra e coloca os senhores autarcas, perante o futuro e em termos de realizações, com uma mão cheia de nada e outra de coisa nenhuma. Mais uma razão para fazer uma pausa e ouvir os tomarenses que tenham algo a dizer, independentemente das suas opções político-partidárias. Enquanto ainda é tempo. Depois já nem valerá a pena. A não ser como elogio fúnebre.