terça-feira, 20 de dezembro de 2011

NA QUESTÃO DA EMIGRAÇÃO PASSOS COELHO TEM RAZÃO

 LE MONDE, 18/19 de Dezembro, 1ª página: Escola - O mapa dos 14 mil lugares do quadro suprimidos.

 LE MONDE, 18/19 de Dezembro, página 12: O Ministério da Educação acelera o anúncio da supressão de lugares do quadro. O tema é sensível, quando faltam quatro meses para a eleição presidencial.

LE MONDE, 18/19 de Dezembro, página 12: Redução geral dos professores efectivos - Evolução do total de lugares do quadro por academia. Círculos à esquerda = ensino básico; círculos à direita = ensino secundário. Paris e região parisiense à esquerda do mapa. Fonte: Ministério francês da educação.

Fazendo exactamente aquilo que se espera de um primeiro-ministro -que diga o faz e faça o que diz- Passos Coelho foi sincero e frontal. Ousou dizer que os professores que já estão ou irão ficar desempregados, caso não queiram mudar de profissão, devem procurar colocação nos países de expressão portuguesa. Nomeadamente Angola, Brasil e Moçambique. Ainda habituados às patranhas e outras visões fantasistas do para alguns saudoso Sócrates, os arautos da esquerda e dos amanhãs que um dia hão-de cantar (só não se sabe quando!), cairam-lhe todos em cima. Até usaram a habitual frase-machadada: "em vez de mandar os outros, vá ele!" Esqueceram-se que o actual primeiro-ministro já viveu durante alguns anos em Angola. O que lhe permitiu observar o quintal ibérico de fora e de longe, exercício indispensável para compreender certas coisas. Quem nunca emigrou, nem sabe o perdeu.
Na vanguarda dos contestatários, como habitualmente, o incontornável sindicalista CGTP, Carvalho da Silva, agora também doutor em sociologia e professor do ensino superior. Que saberá certamente não poder o governo garantir emprego a todos os novos candidatos, ou mesmo aos que já estão colocados, dado que o total de alunos é cada vez menor. Nos países da ex-órbita soviética fez-se durante dezenas de anos a experiência de arranjar empregos para todos e o resultado foi aquele que se viu. Como havia empregos a mais e produção de valor acrescentado a menos, tudo aquilo implodiu a dada altura. E mais de 20 anos depois ainda não retomou a normalidade. Foram os russos, ucranianos, búlgaros, moldavos, polacos, etc. etc, que emigraram para Ocidente, nomeadamente para Portugal e não o contrário. É isso que se pretende para nós? Certamente que não. Mas então para quê tanta "música"?
As ilustrações supra são bastante claras. Até em França, tradicional farol da esquerda da Europa do Sul, mesmo a quatro meses da eleição presidencial, a direita vê-se obrigada a anunciar cortes drásticos no ensino. Entre os quais, a supressão de 15 mil lugares dos quadros de professores. Por conseguinte, talvez fosse melhor a malta de esquerda, em vez de propalar balelas e outras bojardas, ir pensando na chamada força de inércia. De moto, esqui, bicicleta ou patins, quando se tem de mudar de direcção, é obrigatório dar o corpo à curva. Caso contrário é-se cuspido. A crise obriga-nos a mudar de direcção, quer queiramos, quer não. Alguém deseja vir a ser projectado pela borda fora?
Concluindo: Pode-se concordar ou não com as opções do actual governo, liderado por Passos Coelho. Forçoso é contudo constatar duas coisas: 1 - Ao contrário do anterior, o actual primeiro-ministro é sincero, realista, honesto e  frontal. Nunca procurou nem procura intrujar os portugueses com promessas falaciosas. 2 -Nesta questão da emigração tem toda a razão. Não foi Fernando Pessoa, um produto da diáspora portuguesa na África do Sul, que escreveu algures "A minha pátria é a língua portuguesa"? Então deixem-se de lamúrias e de críticas injustas. Façam-se ao largo, como os navegadores de quinhentos. Cedo verão que a brisa marítima refresca as ideias e permite ver o país e o mundo de outro modo. Mesmo quando o sindicalismo a tempo inteiro nos permitiu o doutoramento em sociologia.

Post Scriptum:
O que tem tudo isto a ver com Tomar?!? Pouco ou nada. É só por dizer que temos por agora cerca de 700 professores no concelho, que também por aqui os alunos são cada vez menos, que há cada vez mais licenciados desempregados e/ou à procura do primeiro emprego. É só por dizer que a autarquia tem chefes a mais mas falta de trabalhadores, nomeadamente cantoneiros, operadores de máquinas, jardineiros, varredores... mas o dinheiro não chega para tudo. E cada vez pior!

4 comentários:

Tomar Tótó disse...

Depois do comentário do autor do blogue que, como sempre se sente mais viajado que outros, ou que julga que quem não "viveu no estrangeiro"- lugar comum de pacóvio- tem "tem mundo", o Comissário Europeu Asuntos Sociais disse "ESTAR PREOCUPADO E QUE A EMIGRAÇÂO DE JOVENS NÃO PODE CONTINUAR, PORQUE A EUROPA VAI PERDER UMA GERAÇÂO, COM ENORMES CUSTOS FINANCEIROS FUTUROS. A SANGRIA GERACIONAL TEM QUE SER TRAVADA". Ve-se que este Comissário não tem a sorte de privar com o sr. Coelho ou o sr. Relvas. Mas sempre foi assim: houve quem lutasse para dar um futuro aos filhos e houve os que punham os filhos a servir enquanto bebiam uns copos na taberna.

Anónimo disse...

Quer-me parecer, salvo melhor opinião, que perdeu duas excelentes ocasiões. Uma que seria ficar calado, outra que consistiria em dar um bocadinho mais de verniz à sua escrita, que o tempo dos carroceiros já lá vai. Adiante. Indo ao cerne da questão. O autor do blogue não "se sente mais viajado que outros". É muito mais viajado que outros e conheceu "mundo" que já nem sequer existe. Também não "julga que quem não viveu no estrangeiro..." Tem a certeza de que quem nunca viveu e trabalhou durante uns anitos no estrangeiro, não tem mundo nem recuo para perceber o país onde vive.
Finalmente, o que o respeitável comissário lastimou foi a emigração para fora da União Europeia. Só. Sobre descendência, é melhor não argumentar. Eu também tenho filhos e não estão nada mal na vida. Sem cunhas nem ajudas espúrias da minha parte.
Desejo-lhe um bom Natal e um Ano Novo na medida do possível, mas olhe que a época dos Tótós já está a dar o berro.

Tomar Tótó disse...

Não desconverse, caro dr.. Os "filhos" e os "pais" referidos no comentário não tem nada a ver com a sua família, como bem sabe. São os portugueses e o actual governo que estão em causa. Nunca se viu um governo querer ver-se livre dos cidadãos tão às claras. Já se sabe que não os quer nas urgencias e centros de saúde, não os quer na função pública mas dizer para sairem do País...Quanto ao Comissário é precisamente a emigração para Brasil, Moçambique e Angola que o preocupa. Porque será? Somos é governados por meia dúzia de académicos estrangeirados a que se juntam uns vadios. De gravata, mas vadios como o sr. conhece. Lamenta-se o seu abandono dos ideais social-democratas para defender esta direita de novos-ricos.

Anónimo disse...

Pode crer que não estava a desconversar, coisa que nunca cultivei, por me parecer indigno. Acredite outrossim que tão pouco estou a defender A ou B. Apenas tento repor as coisas no seu sítio. Goste-se ou não de PP Coelho, forçoso é reconhecer que nesta questão da emigração foi honesto e frontal. E não mandou ninguém emigrar! Apenas deu uma opinião em forma de "dica".
Já o comissário europeu que citou, é mais um moço do recados da senhora Merkel, que não me consta que seja social-democrata. Como anda aflita por essa Europa fora, tentando recrutar emigrantes qualificados para a sua Alemanha, designadamente engenheiros, médicos e enfermeiros, vá de dar as suas ordens: Evitem que essa gente emigre para fora da União Europeia!
Acontece que para nós portugueses, o problema pode ser reduzido a uma única pergunta: Tendo em conta o clima, a comida, a língua, o salário, as férias e o ritmo de trabalho, será melhor para um português marchar para Berlim, ou para Luanda, Maputo, Brasília?
Por outras palavras, você tem mais afinidades com os europeus, particularmente com os alemães, ou com os povos que falam português e partilham muitos dos nossos valores?
Tudo isto para tentar demonstrar-lhe que, nestas coisas da política, por vezes um comboio esconde outro comboio, como nas linha férreas muito movimentadas...