Segundo um milenar adágio chinês, "Quando o dedo aponta a lua, os pacóvios olham para o dedo". Milénios mais tarde, já em pleno século XXI, é exactamente o que acontece por esse país fora, sobretudo em Tomar. Desde que me lembro, mas com particular ênfase nestes últimos tempos, a culpa nunca é dos prevaricadores. É sempre de quem critica ou acusa, acabando por morrer solteira. No caso Isaltino, por exemplo, a culpa não é dele. É da lentidão da justiça.
No recente encontro a três, organizado pela Rádio Hertz, o presidente da Comissão Política do PSD, José Delgado, não resistiu à tentação. A dada altura, acusou o PS de praticar a política dos blogues. Inculpação injusta, pois os blogues, incluindo Tomar a Dianteira, não administram nem governam. Não podem, por conseguinte, ser responsabilizados pelo estado miserável a que chegou a cidade e o concelho. Convém por isso olhar para a Lua e não para os dedos que têm a coragem de apontar. Que o mesmo é dizer, olhar para os artistas que o PSD conseguiu eleger, e sobretudo para os estragos que têm vindo a causar.
Creio não ser necessário ter uma inteligência acima da média para perceber que há no país várias categorias de municípios, sob o ponto de vista do desempenho do executivo de cada um deles. As variáveis são quase infinitas. Julgo, contudo, ser possível estabelecer, grosso modo, quatro tipos principais. No topo da tabela, aqueles concelhos felizes, cujos municípios têm executivos com projectos adequados, previamente debatidos e sufragados, que vão implementando, ao mesmo tempo que vão despachando depressa e bem os assuntos correntes, assegurando também o permanente diálogo com os eleitores. Óbidos e Santa Maria da Feira são dois bons exemplos.
Logo a seguir aparecem os executivos de liderança forte que, não dispondo de um plano consistente, mesmo sem diálogo com o eleitorado, lá vão procurando realizar os melhoramentos possíveis, assim um pouco a esmo, em simultâneo com o despacho desembaraçado de todos os assuntos correntes. Foi o que tivemos em Tomar com António Paiva e existe agora em Torres Novas e Ourém.
Em terceiro lugar surgem as câmaras que sem planos capazes nem capacidade para resolver atempadamente os assuntos correntes, procuram com coragem ultrapassar as suas carências, designadamente dialogando com a oposição e com os eleitores, informando com verdade e emendando o que está mal. Não aponto casos, que são muitos, para não molestar desnecessariamente, uma vez que não habito em nenhum desses concelhos.
Finalmente, na cauda da tabela, temos o caso tomarense. Não têm qualquer projecto, não asseguram a manutenção do seu património, levam anos e anos para despachar qualquer processo mais complexo, não efectuam sequer de forma capaz os serviços mínimos, como por exemplo a limpeza e a recolha do lixo, mas apesar de tudo isto, os seus eleitos julgam estar a prestar um grande serviço ao concelho. É o cúmulo do pretensiosismo e da basófia, mas é o que temos. Não coiso, nem saem de cima. E depois culpam os blogues e a oposição pelas desgraças que eles próprios vão provocando. Como aqueles bêbados que vão dando cabeçadas nas paredes, culpando-as depois por lhes terem causado "galos".
Quando é que vai acabar semelhante tragicomédia? Ontem já era tarde!
1 comentário:
Sr. Rebelo,
No caso de António Paiva, que dos que cita no 2º grupo, é o único que
conheço bem, parece-me que está a ser pouco rigoroso no significado dos adjectivos que utiliza.
Assim, em minha opinião, deveria ter usado:
Em vez de liderança "forte", deveria estar "autista, obstinada e autoritária", que é coisa bem diferente.
Em vez de "procurando realizar os melhoramentos possíveis", deveria estar "muito contribuiu para as maiores desgraças do concelho - ParqueT, destruição do Estádio Municipal e do Parque Desportivo, encerramento do Mercado Municipal e do Parque de Campismo, esbanjamento de milhões num Parque Escolar sobredimensionado e desadequado da realidade demográfica do concelho, caos dos Serviços do Município, elefante branco da Levada, bloqueio/impedimento ao aparecimento e desenvolvimento de novos quadros, bloqueio objectivo à revisão do PDM, perseguição patológica aos empresários e investidores tomarenses e não só,etc.,etc."
Em vez de " em simultâneo com o despacho desembaraçado de todos os assuntos correntes" deveria estar "elevando a patamares nunca vistos a centralização caudilhista do poder de despacho, tornando-o super-lento e muitas vezes ambíguo, bloqueando o desenvolvimento do concelho e afugentando todas as iniciativas e investimentos que pudessem contribuir para a inversão do processo de decadência em curso".
Com todo o respeito,
Virgílio Lopes
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