sexta-feira, 17 de agosto de 2012

A GRÉCIA MAFIOSA

O jornalista do LE MONDE Yann Plougastel conversou em Atenas com Petros Markaris, 75 anos, "grego de origem arménia, nascido em Instambul (Turquia) e educado em Viena (Áustria), onde estudou economia, autor de peças de teatro, tradutor de Brecht e de Goethe, guionista para a TV e argumentista de cinema, foi ele que escreveu a maior parte dos filmes de Théo Angelopoulos, recentemente falecido. É igualmente encenador, autor de livros policiais, com largas tiragens tanto na Grécia como na Alemanha, e comentador político muito reputado no seu país."
Eis alguns excertos da referida conversa:
"Para ele a crise económica actual mais não é que o resultado da crise do sistema político e esta tem as suas raízes nos anos 80, a partir do momento em que os governantes gregos resolveram sacar o dinheiro europeu. Os responsáveis são sobretudo os membros da nova geração do PASOK (Partido Socialista Grego), que chegou ao poder em 1981: "Destruiram este país. Queriam edificar uma nova Grécia, servindo-se de uma fraseologia de esquerda e falharam. Os que eram sérios e rigorosos retiraram-se então, para proteger a sua reputação. Os outros tornaram-se políticos profissionais. Fizeram grandes negociatas graças ao sistema montado, ou conseguiram empregos bem remunerados no topo da burocracia estatal."
"Actualmente, Petros Markaris, escondido atrás das suas considerações sarcásticas, é um cidadão muito descontente e sem papas na língua: "O Estado grego é a única mafia do mundo que conseguiu falir... ...Trata-se de um monstro que não funciona. A única hipótese de o reformar é destruí-lo", diz em tom amargurado este homem que ousou resistir à ditadura dos coronéis e presidiu durante muito tempo à Sociedade Grega de Escritores. Considera-se profundamente de esquerda e pró-europeu, mas não se reconhece no PASOK nem no  SYRIZA, a esquerda radical liderada por Alexis Tsipras.
A terminar recordou-nos, em tom fatalista, um milenar provérbio grego: "Qualquer situação vai sempre melhorando à medida que se vai agravando."

Le Monde, 15/08/2012, página 11

1 comentário:

templario disse...

DE Cantoneiro da Borda da Estrada

"Para ele a crise económica actual mais não é que o resultado da crise do sistema político".

Até pode ser, se considerarmos (e consideraríamos corretamente) que a crise do sitema político decorre da crise, a bem dizer permanente, do sistema capitalista.

Sempre a velha questão: é a política ou o capitalismo financeiro internacional que controla o jogo neste momento? É o poder político ou o poder económico que manda nos estados e na economia?

Nã são os bancos em Portugal (e a nível internacional) os responsáveis de parte da crise económica e política portuguesas? Que está cá a fazer a troika que não seja acudir às jogatanas arriscadas dos bancos, sabendo estes que se a coisa corresse mal me vinham confiscar, a mim e aos outros, salários e pensões? Para isso era preciso encontrar uns estarolas à altura.

Mas a coisa parece estar a mudar. Uma sondagem do "Expresso" informa que estão a rebolar por aí fora, pelas encostas abaixo, fazendo, em estertor, os maiores estragos possíveis até levarem o devido corretivo. E isso é que é pena. Por isso a pressa em fazer certos negócios. Afinal foi para isso que os puseram lá.

Vamos ver.Vamos ter calma. Estou convencido que o centro-esquerda vai triunfar mais depressa do que pensava, embora não goste de nenhum dos seus actuais líderes.

É o meu lado. É o lado dos trabalhadores, dos explorados.

A democracia triunfará! A esquerda triunfará!

O povo vencerá!
(não muito, é certo, mas sempre dormirei melhor)

Hoje estou cheio de esperança. E ela é legítima e justificada.