quarta-feira, 1 de agosto de 2012

CULTURA VERSUS CERVEJA

Ao contrário dos mais velhos, os cidadãos da idade das vacas gordas terão ouvido dizer durante muitos anos que "Casa onde não há pão, todos ralham e ninguém tem razão", sem poderem aferir na realidade quotidiana a justeza do aforismo. Tarde é o que nunca vem: aí temos outra vez, infelizmente, a época da penúria de pão (em sentido figurado, bem entendido). Aqueles que se habituaram a confundir em simultâneo o município com Nossa Senhora do Amparo, a Virgem do Leite e a mãe de todas a complicações, terão agora forçosamente que rever os seus horizontes.
A lei dos compromissos, o desporto e a cultura forneceram o caldo que a actual gerência nabantina não tardou em entornar. A coisa começou com a atribuição de quatro mil euros de subsídio para a Festa da Cerveja. Pouco tempo depois, os tomarenses frequentadores da biblioteca municipal foram informados de que não haveria mais jornais nem revistas, por nos termos da lei já referida, a câmara não poder assumir compromissos sem dispor de dinheiro em caixa. Ou seja, graças à admirável gestão da actual maioria relativa, não há em caixa 150 euros mensais para a compra diária de jornais e semanal de revistas. Mas há ou havia para atribuir quatro mil euros visando promover um festa de emborcar canecas, pois no fundo é disso que se trata.
O Diabo foi que -pressionado até mais não pelos do costume- Carlos Carrão resolveu atribuir a citada benesse, mas pouco depois declarou que até pode vir a acontecer que nunca haja dinheiro em caixa para honrar a promessa feita...
Notoriamente pouco habituado aos meandros muito peculiares da política local, o cidadão agora presidente do União de Tomar começou por considerar um provocação o facto da vizinha colectividade de Santa Cita organizar na mesma data a sua Festa da Cerveja, ao que se sabe sem subsídio, nem terreno, nem luz, nem água, nem instalações sanitárias à custa da autarquia. Logo a seguir, decerto com as costas quentes por terem estado na inauguração da sua festa de emborca três vereadores (quase metade do actual executivo!), vá de desancar na Vaca Leiteira do Costume, acusando-a de dar pouco leite, de má vontade, tarde e a más horas... Toma lá, que é para aprenderem!
Se ainda estivesse neste mundo, Marx não deixaria de lamentar os alienados, não no sentido médico do termo, mas no âmbito sociológico -aqueles que não conseguem atinar com a realidade social em que estão inseridos, sempre em mudança e a um ritmo cada vez mais alucinante.
Termino constatando que sete cabeças pensantes, reunidas à volta de uma mesa e estipendiadas para pensar e decidir, acharam normal acabar com os jornais e revistas na biblioteca, devido à falta de verba. Mas acharam igualmente normal atribuir 4 mil euros para emborcar umas canecas, apesar de também não haver verba. Afinal em que ficamos? Quatro mil euros sempre davam para continuar a comprar os jornais e revistas do costume durante mais dois anos e dois meses. Com evidentes vantagens para a cultura, para a informação e para o fígado dos adeptos unionistas da copaneira. Muitas esposas e mães não deixariam de agradecer...

4 comentários:

Unknown disse...

O texto escrito pelo Prof. Rebelo só vem mais uma vez constatar o que é obvio.- Falta de lucidez e total desorientação na condução dos assuntos por parte da Câmara.
Isto de atribuir 4 mil euros a uma festa da cerveja e por outro lado cortar a leitura dos jornais e revistas aos leitores da biblioteca municipal só mesmo de politicos totalmente abstraidos da realidade

Anónimo disse...

Com a agravante de, segundo consta, um dos argumentos para sacar os ditos quatro mil euros ter sido o facto de que o recente Festival do frango assado também teve direito a um subsídio desse montante. Coitados dos contribuintes que, mesmo sem serem frangos, todos procuram depenar...

Unknown disse...

"...Termino constatando que sete cabeças pensantes, reunidas à volta de uma mesa e estipendiadas para pensar e decidir, acharam normal acabar com os jornais e revistas na biblioteca, devido à falta de verba...."

- E depois eu é que sou o Burro!! (parafraseando o Mr scolari)
-Sou sincero, é muito dificil conseguir fazer "melhor"
-Os autarcas de Tomar deveriam ser distinguidos com uma medalha, pelos "excelentes" serviços prestados à comunidade. :))

Luis Ferreira disse...

Concordando em absoluto com a critica do texto, permita-me um esclarecimento:
A decisão de proibir a compra dos jornais e revistas da Biblioteca foi tomada, como quase tudo o que a Sra. faz, sem passar cavaco a ninguém, pela Vereadora Rosário Simões. Eu apesar de ser vereador, soube exatamente ao mesmo tempo que qualquer cidadão e deixe-me dizer que não concordo com a medida.