Antecipo que o texto seguinte, apesar de ainda o não ter escrito, vai ser bastante impopular. Tal como aconteceu com os sucessivos comentários sobre a crise, aqui publicados desde o início do blogue. Se em qualquer país ter razão antes de tempo nunca é bem aceite, numa terra como a nossa então... Basta recordar o ocorrido há três/quatro anos. Escrevi bastas vezes que a crise não era passageira, que estava para durar, que se ia agravar. Alguém ficou então convencido? Pois agora, a realidade aí está, que não deixa mentir. Alguém consegue prever com algum realismo o fim da crise?
Com o país meio adormecido pelas férias, há já quem cuide que a reforma das freguesias morreu à nascença e que nos municípios ninguém vai ousar mexer. Erro crasso nos dois casos. Quanto às freguesias, por se tratar de algo indispensável para entreter a troika, cujos elementos até já terão percebido que assim é, mas se vão calando por entenderem que vai na boa direcção. A seu tempo se entrará no âmago da questão. Que é a indispensável e cada vez mais inadiável reforma profunda das autarquias. Com alterações importantes em todas elas, tanto no âmbito geográfico (fusões) como na acentuada redução de recursos humanos.
É humanitariamente aceitável que muitos municípios sejam sobretudo a base do sustento de uma boa parte dos munícipes, através de funcionários largamente excedentários, mas infelizmente não vai poder durar muito mais tempo. É inviável. Já aqui foi publicado ultimamente (ver Nos Estados Unidos é assim) algo que não pode deixar de espantar qualquer espírito mais exigente e racional. Na Califórnia, o maior e o mais rico estado americano, que se fosse independente seria a 9ª economia mundial, a cidade de S. Bernardino, com 209 mil habitantes, declarou-se em falência por ter uma dívida global de 46 milhões de dólares = 37 milhões de euros. O que lhe vai permitir, entre outras coisas, racionalizar os quadros municipais, reduzindo drasticamente o pessoal e assim diminuindo as despesas.
Em Tomar, um pobre concelho praticamente sem indústria, situado numa zona em vias de acelerada desertificação, há por agora apenas pouco mais de 40 mil habitantes e uma dívida global superior à de S. Bernardino, da ordem dos 41 milhões de euros. E está tudo bem? Ninguém se preocupa? Acham que se trata de uma situação sustentável durante muito mais tempo? E quem vai pagar? Com que recursos?
Empatar, protelar, ladear, escamotear, nada resolve e só complica ainda mais. Quanto mais tarde, pior maré.
Depois não venham dizer que ninguém avisou. Como no caso da crise, que julgaram ser apenas uma coisita passageira...
4 comentários:
1.Quanto à crise ela está para ficar e continuar a sugar-nos até ao tutano o que ainda resta(se é que ainda resta algo!?)
2.Quanto a Tomar é uma história triste de assistir,e para a qual o futuro é muito sombrio.Estamos a assistir à desertificação da mesma embora de forma mais ou menos lenta.
Temos a acrescentar uma classe politica ao nível local que numa escala de 0 a 20 vale no máximo 0[ZERO].
O passado recente facilmente comprova esta avaliação.
3.Quanto à divida das Câmaras ela terá que ser assumida e paga pelo Estado, e impor aos municípios a partir dessa data endividamento ZERO.(Será que a troika deixaria, através de um 2º pacote de ajuda!?)
4. Sou favorável à forte redução de municípios e freguesias, tal como no nº de vereadores, membros de assembleias, assessores, e toda a panóplia de tachos que existem.
No mesmo sentido o Estado a nível central devia reduzir fortemente o nº de deputados(230 actuais para uns modestos 70)na AR, tal como toda uma panóplia de tachos e tachinhos que se criam nos ministérios serem abolidos.(Apenas com estas reformas poupariam-se anualmente muitos e muitos milhões de euros)
É sempre fácil propor a extinção, fusão, redução, alienação e outros verbos muito em voga atualmente, seja de serviços públicos, de eleitos locais ou nacionais ou de remunerações. Difícil é gerir bem e promovendo mais seviços à comunidade, com o mesmo gasto (investimento)...
Só a título de exemplo sabem quanto representam as remunerações, com todos os subsídios e apoios, que os 230 Deputados recebem do Orçamento da Assembleia da Repiblica? Cerca de 17%. Ou seja a instituição democrática de produção de Leis gasta, com aqueles que sao por nós eleitos, apenas 1€ em cada 6€ de orçamento.
A nível local sabem por exemplo que um vereador a tempo inteiro ganha pouco mais de 200€ acima da generalidade dos dirigentes e 400€ acima de todos técnicos superior no topo da administração? Ou seja, além dos atuais 2 vereadores a tempo inteiro, há mais quase duas dezenas de pessoas que na Camara ganham praticamente o mesmo e não são eleitos... (nem escrutinados pelos eleitores)
E sabem quanto valem todas as mais de 4000 Freguesias existentes em Portugal a nivel de despesa publica? 0,03%
E a totalidade dos 308 Municipios sao responsáveis por apenas 6% da atual divida publica - cerca de 10.000 milhões€, mas tem sido responsáveis por mais de 20%!do investimento feito pelo Estado nos últimos anos.
Por isso, análises simplistas tipo "conversa de café", podem ser muito popularuchas, no imediato, mas não sobrevivem a uma análise um pouco mais profunda.
E sobre as dividas publicas, convém nao esquecer a simplérrima regas de que as mesmas não são para pagar, mas apenas para se gerir, como muito bem nos recordou José Sócrates recentemente. E nenhum economista sério se atreveu a negá-lo.
Por isso meus caros, olhemos para a Floresta e não para a Árvore!
Prezado amigo Luís: Uma vez que insistes na argolada do Sócrates, que provocou risadas na selecta assistência, segundo a imprensa especializada da época, julgo ser do teu interesse este pequeno esclarecimento.
Para que a dívida pública possa ser gerida é necessário que haja no mínimo disponibilidade para assegurar o pagamento dos juros. Sucede que já no tempo do teu ídolo não havia e ele bem o sabia. Donde a necessidade imperiosa de ir recorrendo a empréstimos de curto prazo, para satisfazer os juros dos anteriores e o principal dos que entretanto atingiram a maturidade.
Nas presentes circunstâncias, continuar só a gerir, à maneira socratina, equivale a ir aumentando constantemente a dívida, até que, não havendo memória de alguma árvore ter crescido até ao céu... Vem a bancarrota. Como sucedeu na Argentina, por exemplo. É isso que desejas para o nosso país ou para Tomar?
Olhando para a Floresta, a crise é com toda a certeza muito por culpa de políticos irresponsáveis como José Sócrates e outros que temos na Europa que andaram a gastar e a endividar os Países, fazendo uma gestão danosa, ruinosa do bem público, apesar de também os Bancos terem cota parte de culpa, pois ganham muitos milhões à conta.
b)- Os Países tal como as pessoas NÃO PODEM gastar mais do que têem, pois isso trará graves consequências mais cedo ou mais tarde. Portugal e alguns países da Europa estão agora a pagar essa irresponsabilidade, sem sombra de dúvida. Enquanto isso o Sr Sócrates e amigos vão gozando e vão-se rindo do "belo" trabalho que deixaram, com a agravante que certas pessoas ainda os defendem. Como é possível!!??
c)- Estar a defender a manutenção dos tachos com base no gasto ser uma pequena percentagem do orçamento é mandar areia para os olhos de quem ainda vê algo
c)-O Prof. Rebelo tem toda a razão em dizer que a continuar o regabofe é a falência dura e crua dum País
d)-Quanto à gestão da divida o SR Sócrates não a geriu, apenas a aumentou de forma exponencial, para além claro da esperteza que foi/é as PPP ao agendar a grande fatia dos pagamentos para depois do suposto termino do seu mandato.
e)- Quanto às analises profundas VS conversa de café, garanto-lhe que com a chamada conversa de café o País não estaria falido, enquanto com o pensamento mais profundo de intelectuais sonantes como temos no nosso meio politico(classe politica portuguesa) está como está ou seja falido. E esta hem!!
Enviar um comentário