ACOSSADOS E ACAGAÇADOS

De passado estamos bem, que ele resiste aos séculos. O presente é que é preocupante.


Jerónimo Foice


Aqui da capital, tem-se uma visão mais ampla e mais serena da santa terrinha dos tomarenses. A pouco mais de seis meses das autárquicas, o panorama nabantino é sombrio. Por um lado, os eleitores, usualmente avessos à mudança e arrastados para o futuro sempre a olhar para o passado, estão desnorteados. Ignoram totalmente o que se está a passar e o que os espera daqui para o futuro. Procuram referências de sempre, que deixaram de existir com a crise, e sentem-se cada vez mais ameaçados pela insegurança, pelo desemprego e pela perda de poder de compra. Esperam que surja alguém, algum grupo, alguma entidade, que lhes garanta pelo menos a manutenção do estatuto que tiveram até agora. Acossados por uma situação totalmente nova, estão outra vez acagaçados, como sucedeu aquando do 25 de Abril. Agora com a agravante de ignorarem completamente a maior parte dos factos que irão condicionar duradouramente o futuro de todos. Quer queiram ou não.
Por outro lado, os eleitos e as forças políticas locais, estando na mesma situação dos eleitores, sentem-se ainda mais acossados. Habituados a um contexto sócio-económico relativamente estável, confrontam-se agora com algo que não foram preparados para entender. Como se a crise não bastasse, apareceram vozes àcidamente críticas e livres na blogosfera, a demonstrar que já não chega condicionar os jornais locais. Neste novo contexto, vão tentando repetir, uns mais do que outros, encenações do passado, mas verificam alarmados que já não surtem os efeitos pretendidos. Por isso estão cada vez mais acagaçados e sem saberem para onde se virar e para fazer o quê.
Conforme já foi assinalado aqui no blogue, com excepção do Cristóvão e do Luis Ferreira, que escrevem e dão os textos para o candidato que escolheram, todos os outros têm mantido um silêncio sepulcral, que começa a incomodar de forma grave algum eleitorado urbano. O que se entende perfeitamente, quando se tem em conta o que acima foi escrito. Buscando indicações que possam conduzir a um porto de abrigo para o futuro, por enquanto os tomarenses apenas ouvem o pesado silêncio e algum palavrório, nitidamente só para mobilar as circunstâncias.
Com o CDS, que seria a inclinação natural de alguns, já viram que não podem contar. Não tem ninguém a nível local e o mais provável é que não apresente candidatos. O BE e a CDU são formações de protesto, com alguns quadros válidos, mas sem peso eleitoral, o que os condena a serem novamente, após as próximas autárquicas, simples "animadores de pista", para gáudio de alguns, mais frustrados pelo ocorrido nos últimos anos, que confundem chapinhar com nadar e marcar passo com marchar...
No PSD, a situação nunca foi tão má. Sem programa nem gente habituada a redigir tal coisa. Sem liderança partidária. Sem candidato credível. Sem uma ideia original e portadora de futuro. Acossado por vários militantes influentes, que de modo algum querem perder as eleições, por não terem outro meio de vida tão bem pago e com estatuto equivalente. Têm tentado, dissimuladamente, várias cartadas, que até agora se têm revelado furadas.
Fazem a festa, deitam os foguetes, vão apanhar as canas, varrem o recinto, reciclam os foguetes que voltam a deitar, alguns poucos socialistas são pau para toda a obra, em nome do trabalho colectivo, tão do agrado do camarada Jerónimo. Já perceberam que o candidato escolhido nunca foi nem é para grandes tarefas, grandes ideias, ou grandes discursos. E logo agora que os eleitores, influenciados pelo fenómeno Obama, sentem cada vez mais a necessidade de alguém que com simplicidade não fingida lhes saiba explicar a crise, a situação local e como mudar de rumo com sucesso. "Para melhor está bem, está bem. Para pior já basta assim" é demasiado tosco e bimbo para lema eleitoral, além de não ser original nem fornecer qualquer pista sobre o rumo a tomar ou o caminho a percorrer.
Restam os Independentes por Tomar, que me parecem em evidente perda de velocidade e de popularidade, não só por não conseguirem transmitir à população aquilo que eventualmente tenham feito para tentar reverter a catastrófica situação local, mas também porque estarão igualmente a ser acossados pelas circunstâncias e acagaçados perante a falta de candidatas e, sobretudo, de um programa substantivo. O abandono de Fernando de Oliveira, o ideólogo do grupo, notou-se sobremaneira e nunca foi ultrapassado de forma satisfatória. Face ao que antecede, não ficaria surpreendido caso os IpT não concorressem ou, fazendo-o, apenas conseguissem eleger um vereador, ou nem isso.
Teremos portanto em Outubro o usual despique PSD/PS, apesar de tudo com nítida vantagem para os sociais democratas, se nada de realmente inesperado acontecer até lá. Tendo apresentado há quatro anos um candidato manifestamente só para entreter o eleitorado, uma vez que o actual indigitado cabeça de lista não teve coragem para afrontar António Paiva, o PS demonstrou que não respeita os tomarenses quando isso lhe convém. Rancorosos, os eleitores ainda ofendidos não lhe perdoarão uma vez mais, pelo que a abstenção, os brancos e os nulos poderão atingir proporções inéditas. Cá estaremos para ver e comentar. De longe!