ANÁLISE DA IMPRENSA LOCAL E REGIONAL

Redacção de Tomar a dianteira Colaboração CLIPNETO

Uma vez não é costume. Ultimamente quase mudo em relação a Tomar, O RIBATEJO esta semana esmerou-se. Publica duas notícias que são um exemplo de jornalismo de grande qualidade. Daquele que dá muito trabalho, mas procura, apesar disso, ir ao fundo das questões, para depois as colocar em perspectiva, condição basilar para os leitores ficarem a compreender alguma coisa.

Os que seguem este blogue com interesse farão bem se decidirem ler, no referido semanário, a notícia sobre os 750 mil euros pagos pela Câmara de Tomar à Bragaparques, na página19, bem como a descrição da crise na Platex, na página 28. Após essas leituras, façam-nos um favor -comparem com iguais temas tratados na imprensa tomarense. Assim ficarão a perceber e a sentir a diferença entre a pura lã, o puro algodão, e os tecidos sintéticos. Condição prévia para entenderem o que se pretende dizer aqui em Tomar a dianteira, quando se fala de qualidade e alguns se irritam e produzem prosa indignada, quando deviam reflectir enquanto é tempo...

Na mesma perspectiva, O MIRANTE, agora com menos notícias da nossa terra, incluiu ainda assim uma notícia a merecer destaque da nossa parte, por obedecer aos critérios acima enunciados. Vem na página 18 e refere-se ao triste problema do nosso conterrâneo que vive há vários meses numa das sentinas públicas de S. Gregório, assunto já denunciado por diversas vezes neste blogue e na imprensa local.

Até agora sempre se considerou em Tomar a dianteira, na base de informações prestadas pelo próprio, que o interessado não queria abandonar aquele local porque não lhe arranjavam alojamento mais consentâneo na área da cidade antiga, onde sempre viveu. Ter-lhe-iam proposto o Lar de S. José, na Estrada do Carrascal, mas o "Zé Bazaruco", como é conhecido no meio popular nabantino, achava que era o desterro. Ao abordar agora, uma vez mais, o assunto, O MIRANTE faculta outro entendimento da situação. De acordo com o semanário, a autarquia já propôs àquele tomarense um alojamento na Rua da Saboaria, que ele tem recusado sistematicamente, pelo que a vereadora responsável, Rosário Simões, encara agora a hipótese de desencadear um processo tendente a facultar ao munícipe em causa adequado tratamento psiquiátrico.

Que sejam semanários sem sede em Tomar a contribuir decisivamente para que os habitantes do concelho passem a ter outra perspectiva destes problemas, mostra bem, na nossa opinião a profundidade do buraco onde estamos metidos em termos de comunicação social. E noutros.

Nos dois semanários tomarenses, CIDADE DE TOMAR e O TEMPLÁRIO, a única notícia relevante, na parte que nos interessa, é a das declarações e iniciativas do sr. Deputado Miguel Relvas àcerca da situação crítica da PLATEX - IFM. Tanto num jornal como no outro, imperou o "pensamento único". O sr. parlamentar falou e os jornalistas tomaram notas, quando tomaram. Nada de perguntas, muito menos perguntas inconvenientes. A imprensa regional tem de viver e os anúncios da Assembleia Municipal são sempre bem-vindos.

Há depois o problema da falta de entranhados hábitos democráticos. Estamos numa terra e num país onde raramente se consegue dialogar de igual para igual. Regra geral, ou se fala de cima para baixo (caso do sr. parlamentar), ou de baixo para cima, como antigamente com o barrete na mão (caso dos jornalistas e da população em geral). É desagradável ler isto? Pois calculamos que deva ser. Mas se é a pura verdade, que havemos de fazer? Continuar a assobiar para o lado, fingindo que não se percebe nada? Será esse o melhor caminho para tentar sair da crise?

Regressando ao "Caso Platex", é óbvio que a actuação dos jornalistas em questão impede que os cidadãos que não leiam O RIBATEJO venham a compreender cabalmente os principais aspectos do problema. Isto porque se limitaram a repetir aquilo que foi dito pelo parlamentar e autarca, não cuidando de tentar apurar, através de perguntas objectivas e oportunas, as culpas de cada sector: administração, gestão, organização, marqueting, produção. E sem isso pouco ou nada se pode fazer em termos práticos.

Não é este o local para sindicar a actuação do sr. deputado e autarca no caso em apreço. Todavia, dado que quem devia assumir esse papel não o tem feito, decidimos avançar apenas em relação a um ponto concreto. Na interpelação ao governo, que o sr. deputado Relvas subscreveu em conjunto com os srs. deputados Vasco Cunha e Mário Albuquerque, e que CIDADE DE TOMAR reproduz, escreve-se que "a unidade industrial IFM -Indústria de Fibras da Madeira, SA... ...emprega 240 pessoas, sendo a maior empregadora concelho." Os jornalistas locais leram e/ou ouviram, certamente, mas não ousaram ou não julgaram oportuno repôr a verdade, que neste caso, como quase sempre acontece, é importante. E a verdade é esta: O primeiro empregador do concelho é o Ministério da Educação, o segundo é a autarquia, e isto em termos de trabalho activo. Porque ao considerar-se o conjunto das remunerações, falta apurar se as pensões de reforma e de aposentação não serão de longe as mais numerosas.

Os senhores deputados terão pretendido sublinhar a importância da empresa em causa no contexto local. Mas esqueceram-se de ter em conta que,no interior do país, se assiste pouco a pouco à "alentejanização" da economia: além da administração central, regional e local, que são todas pagas pelo Orçamento Geral do Estado, cada vez há menos actividade económica, rentável e pagadora de contribuições e impostos. E sem isso, a festa não pode durar muito mais tempo. Alguém vai ter de pagar os foguetes e os artistas.

Que a IFM seja talvez a principal empregadora privada do concelho, é uma realidade provável. Que o seja em absoluto, é uma falsidade. Os cidadãos têm o direito de esperar mais rigor e mais eficácia, tanto aos deputados como aos jornalistas, pois com tais prática nunca mais vamos conseguir sair do actual pântano, que a crise internacional apenas veio tornar um pouco mais mal cheiroso.