sábado, 4 de abril de 2009

AVISO AOS AMADORES INTERESSADOS...



António Rebelo


Essa história dos hotéis de charme, dos campos de golfe e similares, cheira-me a promoção politiqueira. Posso estar equivocado, e se estou realmente, desde já peço desculpa, pois não tenho qualquer intenção de prejudicar o desenvolvimento desta terra que me viu nascer e crescer. A minha impressão é que tanta hipótese de investimento na área do turismo, logo este ano que haverá autárquicas, seria excelente caso não fosse demasiado oportuno para ser verdade. Para mais, nos três casos mais badalados (Santa Iria, Pegões e Quinta da Granja), os protagonistas são praticamente sempre os mesmos -Câmara, Gente e instituições ligadas ao PSD, jornal Cidade de Tomar. Não será demasiada coincidência?

De acordo com o noticiado até agora, vamos ter, na melhor das hipóteses, um hotel de 5 estrelas e um percurso de golfe, nos Pegões, um hotel de charme de quatro estrelas ("no mínimo", segundo o presidente da autarquia), no Convento de Santa Iria, um hotel de charme de 4 estrelas, na Casa das Mouzinhas, um hotel de charme de cinco estrelas, um spa, um hotel de 4 estrelas, um resort, um percurso de golfe e um parque temático, tudo na Quinta da Granja. Perante este maná, urgente e indispensável se torna formular a pergunta maldita -Com que dinheiros? Isto, porque a frase mais corriqueira nos meios ligados ao investimento tem sido "Para que nos servem as baixas taxas de juro, se os bancos se recusam a emprestar?"

Numa outra vertente do mesmo problema, conviria saber igualmente se foram feitos estudos de mercado e por quem, sendo claro que ninguém ousará arriscar milhões de euros numa cidadezeca de província, sem aeroporto próprio e a mais de 100 quilómetros do mais próximo. É claro que poderão argumentar com o chavão do "Convento de Cristo Património da Humanidade". Será, porém, conveniente moderar muito o entusiasmo, dado que tal classificação tem efeitos sobretudo no mercado interno, sendo muito relativa no mercado internacional. A título comparativo, Ravena, a antiga capital o Império Romano do Ocidente, 150 mil habitantes, a duas horas de Milão, com SEIS MONUMENTOS Património da Humanidade, é hoje uma cidade...sobretudo industrial. Cautela, portanto, que como os caldos de galinha, nunca fez mal a ninguém.

E depois há a época que atravessamos e continuaremos a atravessar, ninguém sabe até quando. A reprodução acima mostra uma das suas consequências. Cabrita Neto, empresário hoteleiro e ex-secretário de Estado do Turismo num governo PSD, mostra uma outra. Em declarações ao Expresso (4/4/09, pág. 21) "Lembra que a actual crise leva a questionar a forte expansão do golfe, apontado como principal trunfo de combate à sazonalidade. Também o golfe está a demonstrar que não é a arma absoluta. O golfe corre o risco de deixar de ser um negócio no Algarve, e já temos golfes parados no Inverno."

Mais recomendações para quê? Até provas em contrário, os investimentos anunciados não passam de meras encenações para engodar eleitores, pouco satisfeitos com a pobre actuação da maioria PSD na autarquia tomarense.

7 comentários:

Anónimo disse...

Caro amigo Rebelo
Neste ponto estou de acordo consigo. Já "comi" uma do parque temático, que afinal não passou de engodo eleitoral.
Agora como S. Tomé: "ver para crer".
Já são hotéis a mais, e logo por azar em tempo de crise?! UH... UH... Cheira-me a campanha...!

Isabel Miliciano

Sebastião Barros disse...

Ficamos aguardando que quem de direito desça ao relvado e c onfirme ou desminta esta suspeita. Obrigado Isabel.
A.R.

templario disse...

Um bom texto para reflexão muito séria. Trabalhei uma vida (34 anos) na maior agência de viagens do país mas não sou entendido na matéria, trabalhava no sector transportes aéreos internacionais de mercadorias. Pesco umas coisas que não me dão autoridade para falar sobre o assunto. Mas acho a reflexão do Sr. A. Rebelo muito pertinente.

É bom lembrar que, recentemente,
Manuel Agrellos, presidente da Federação Portuguesa de Golfe, admitiu que a modalidade também se ressente da crise mundial.

Isto vem a propósito para dizer que estou a ter uma experiência que se encaixa muito na visão cautelosa de A.Rebelo. Há 40 anos que a minha companhia da guerra colonial realiza encontros anualmente e este ano coube-me a mim organizá-lo, estive para o fazer em Tomar, mas optei depois por Sintra onde vivo. Como se realiza no dia 2 de Maio (feriado antes e domingo depois) tenho estado a receber muitos pedidos de alojamento a preços módicos. e nessa disposição de satisfazê-los contactei hotéis, residênciais, hospedarias, etc.. Primeiro os hotéis diziam que em Maio estavam quase sempre cheios e não baixavam dos 60, 70 e 80 euros diária para duplos. Propunha 45 e 50 E e riam-se. Descobri residenciais e hospedarias de muita boa qualidade para essa data que me fizeram 30, 35 e 45 euros (preço especial), algumas sem pequeno almoço. E por aí estou a resolver o problema.

O caricato é estar agora a receber alguns telefonemas desses hotéis que contactei a propor-me 45 E para duplos e 55 E para triplos, dois deles à beira-mar. Num deles já fiz duas reservas para uns ex-camaradas mais exigentes...

É bom lembrar que, "Sintra oferece uma grande concentração de campos de golfe, a maior parte dos quais desenhados por projectistas de grande renome, o que proporciona uma vasta e aliciante escolha de percursos, que contempla todos os graus de dificuldade, até ao mais elevado nível internacional. Tanto a amenidade do clima, que permite a prática deste desporto 12 meses por ano, como a paisagem envolvente, onde a Serra abraça o Oceano Atlântico, fazem de Sintra um dos locais mais aprazíveis para a prática do Golfe" (copiado de publicidade internet). Acrescento, e todos o sabem, Sintra tem uma oferta de monumentos históricos e outros atractivos invulgares e Sintra, ela mesma, Património Mundial, para além de ficar colada a Lisboa e a 35 minutos de avião do Algarve.

Este meu comentário vale o que vale (não vale nada), mas os empresários competentes não prescindem de bons estudos de mercado e tudo poderá dar certo e oxalá que sim. Mas uma autarquia, ou candidatura à mesma, embadeirar com estes financiamentos e iniciativas económicas que não dependem dela cheira a caça ao voto.
Eu diria... como soe dizer-se agora, que o momento não está para vendedores da banha da corda.

Mas não custa nada dar o benefício da dúvida... O Sr. A. Rebelo tem razão em levantá-las.

templario disse...

"banha da cobra", leia-se.

Anónimo disse...

Para anónimo em Templário disse:

Agradeço-lhe as sua serenas palavras de apoio e aproveito para lhe endereçar um abraço de camarada para camarada de armas (Angola, CCAÇ 593, 1962/65). Mais uma vez se constata que quem já viveu uma guerra e uma vida, vê a terrinha, o país e o mundo de outra maneira.
Sobre as achegas que fez o favor de avançar para eventual discussão, será porventura igualmente útil lembrar que Sintra, pela sua proximidade com Lisboa, dispõe de recursos humanos qualificados na área da hotelaria e do turismo, enquanto que aqui por Tomar...
Continue a opinar, que as opiniões ponderadas fazem sempre falta.
A.R.

Anónimo disse...

Loucos: se não se investe, nem se fala de investimento é porque não. Se se fala é porque sim.

Em que ficamos?

Anónimo disse...

Ficamos em que uma coisa é investir, outra muito diferente é tentar intrujar os eleitores com projectos mirobolantes, altamente improváveis em termos práticos nos tempos que correm. Por isso, louco talvez, ingénuos de certeza que não