HAVERÁ TURISTAS SUFICIENTES???

António Rebelo

Os que habitualmente lêem este blogue não ignoram que crise é grave e vai continuar a piorar, pelo menos até ao fim do ano. Na melhor das hipóteses! Como sempre acontece aquando das grandes crises, a propagação em cadeia, o chamado "efeito bola de neve", não poupa praticamente qualquer sector de actividade. Assim sucede agora. Na área do turismo, transportes, alojamento, restauração, animação, a situação é muito delicada. Passou-se do clássico "Hora a hora Deus melhora", para "Hora a hora isto piora".

Nos três principais destinos turísticos portugueses, Lisboa, Algarve e Madeira, já há, desde o início do ano, hotéis que encerram para obras, férias antecipadas para os empregados, dispensa dos trabalhadores a prazo. A TAP já anulou 2400 voos desde Janeiro, e prepara-se para anular outros tantos até ao final de Junho. A Ibéria e a Alitália estão em falência técnica. O grupo Air France KLM, o maior transportista aéreo europeu, anunciou o despedimento de 3.000 empregados. Três mil. Mesmo quem não queira de modo algum ser alarmista, terá de concluir que a situação da indústria turística, no sentido amplo, está longe de ser brilhante. Só a TAP já acumulou 258 milhões de euros de prejuízos desde Janeiro, quando em 2008 tinha registado um lucro líquido de 32 milhões de euros.

É neste contexto nacional e internacional que o Expresso publica, na edição de hoje, um "Dossiê Especial" com o título "Distrito de Santarém". É quase certo que poucos leitores daquele semanário terão pachorra para sequer folhearem esse tal dossiê. Os que assim procederem vão perder uma excelente oportunidade de conhecer melhor as opções dos seus autarcas.

Assim à primeira vista, os presidentes de câmara da Barquinha, Chamusca, Golegã e Ourém guardaram o prudente silêncio, que é a atitude mais sábia nos tempos que correm. Todos os outros, e são muitos, disseram o que lhes vai na alma. Na impossibilidade prática de reproduzir aqui todas essas declarações, vou limitar-me aos excertos que considerei mais significativos, recomendado aos mais interessados nestas questões a leitura do citado dossiê.

O presidente da Câmara de Alcanena começou por referir "As potencialidades turísticas, um dos sectores em que a localidade aposta para se desenvolver." O de Almeirim disse que "Outra das respostas a eventuais dificuldades económicas no concelho, é o desenvolvimento do turismo."

"Este património (Casa dos Patudos e espólio de José Relvas) servirá também para dinamizar o turismo no concelho," declarou Vanda Nunes, sucessora de Rosa do Céu na autarquia de Alpiarça. Por sua vez, em Abrantes, Nelson Carvalho informou que "A formação e o turismo são as duas principais apostas da Câmara..."

Paulo Caldas, do Cartaxo, foi objectivo: "Para o desenvolvimento do concelho, também é importante o vector turístico." Posição praticamente partilhada pelo presidente de Benavente, para quem "O aproveitamento turístico do concelho, pode e deve fazer-se." Menos vago é o seu colega de Coruche, ao informar que o concelho está a "ser muito procurado para investimentos turísticos."

Jaime Ramos, o autarca da terra dos fenómenos, parece ser um bom publicitário: "Na terra do turismo ferroviário." Outra opinião tem o nosso vizinho de Ferreira do Zêzere, Luis Ribeiro Pereira, para quem "No turismo, apesar das potencialidades excelentes, com uma albufeira invejável", "o autarca teme que em breve a população deixe de poder desfrutar dela." "Essas vias viriam reforçar um conjunto de potencialidades importantes para o desenvolvimento de Mação, como as que existem no plano turístico", declarou o presidente Saldanha Rocha.

Silvino Sequeira também está muito optimista, ou pelo menos assim aparenta: "A par do turismo desportivo, Rio Maior também dispõe de potencialidades para desenvolver projectos de turismo da natureza, que é uma aposta emergente." Quanto ao Sardoal, escreveu o jornalista que "O turismo é outra das apostas do presidente da Câmara."

Perguntará o leitor, já impaciente -Então e Tomar? Que disse Corvêlo de Sousa? Em síntese isto: "A estratégia de desenvolvimento do concelho de Tomar assenta principalmente no turismo."

"A grande aposta de Corvêlo de Sousa para contrariar as dificuldades e dinamizar a economia é o turismo."

Para não me alongar demasiado, apenas duas notas mais: 1 -Em relação ao distrito, "Quem não sabe é como quem não vê". 2 - Em relação a Tomar, cada vez estou mais convencido que estamos bem entregues... 3 - Nota final: Após os centros culturais, os cinemas, as rotundas e os decks, chegou a vez do turismo. É fartar vilanagem!