quinta-feira, 9 de abril de 2009

OUTRAS LATITUDES, OUTRAS ATITUDES




Aqui em Portugal, qualquer amador acha que os bons resultados dependem quase exclusivamente do bom material. Por isso encontramos por aí fotógrafos de fim de semana com máquinas fotográficas para profissionais, ciclistas ocasionais com material de competição da última geração, pescadores desportivos com uma panóplia de apetrechos de fazer inveja aos profissionais, e assim sucessivamente. Tudo isto apesar de nos considerarmos um país de gente desenrascada, a tal ponto que até chegamos a considerar o desenrascanço como uma das nossas características atávicas. Pois na China, o maior país do mundo, alegremente a caminho dos mil e quinhentos ou mil e seiscentos milhões de habitantes, ninguém sabe ao certo, a realidade é bem diferente. Para edificarem gigantescos arranha-céus continuam a servir-se do método tradicional nos andaimes.
Vão atando canas de bambú umas às outras, até atingirem a altura pretendida, conforme mostra a fotografia. Só o monta-cargas e as respectivas calhas técnicas é que são metálicas, por motivos óbvios.
Outro tanto acontece na sinalização rodoviária horizontal. Em vez de usarem tinta branca ou amarela, que desaparece após alguns meses, como acontece por cá, recorrem à reciclagem. Colam no pavimento,com alcatrão, milhares de pequenos fragmentos de porcelana, provenientes dos desperdícios das fábricas. É uma prática que exige muita mão de obra, mas segundo o guia que nos acompanhou, isso não constitui qualquer problema, visto que são os condenados dos campos de reeducação que executam estas tarefas, devidamente vigiados pelo exército.
Para quem possa ficar chocado com tal prática, é oportuno lembrar que na China ainda há pena de morte; que os condenados são executados publicamente com um tiro na nuca; e que os descendentes directos são obrigados a pagar a bala usada na execução. Costumes bárbaros? Sem dúvida alguma. Outras latitudes, outras atitudes. E bem podem os ocidentais ir reclamando mais respeito pelos direitos humanos, noção praticamente ignorada por aquelas bandas, que os chineses continuarão a desconfiar que o objectivo real não sejam os proclamados direitos humanos, mas sim o inevitável aumento dos custos de produção que daí resultaria. Dado que foram os ocidentais os mestres deles em matéria de capitalismo, que poderão agora responder a tal suspeita, de forma acabar com ela? Mais uma das chamadas contradições do sistema.


5 comentários:

Anónimo disse...

Dr. António Rebelo gostaria de saber se concorda com João César das Neves e Silva Lopes sobre o congelamento dos salários dos funcionários públicos. Eu sou uma delas mas fico muito triste porque trabalho à 25 anos para o país e ultimamente a minha família tem sentido na pele esse congelamento. Foi o défice a 1.ª desculpa e agora a crise como a 2.º desculpa. Não percebo muito de economia mas pode elucidar-se se será mais sacrifício em vão? É que a história do défice é temporária pois está a agravar-se outra vez. Que lhe parece sr. Dr. António Rebelo? Sou muito desconfiada dos actuais actores políticos. Obrigada pela atenção.

Uma sua admiradora

Sebastião Barros disse...

O grande problema do nosso país reside, basicamente, no facto de tanto as pessoas como as instituições, incluindo o governo, viverem acima dos seus recursos. Foi por isso que quando estávamos a ser sacrificados em prol da redução do défice das contas públicas, fomos apanhados em contraciclo pela necessidade de ajudar à retoma da economia, devido à crise desencadeada nos Estados Unidos. Daqui vai resultar um acentuado agravamento do défice das contas públicas, pelo que, seja qual for o vencedor das legislativas, em princípio haverá um severo "apertar do cinto" a partir de Janeiro 2010, o mais tardar. No entanto, caso a crise se agrave e se torne por assim dizer crónica, como no Japão desde 1998, poderá acontecer, com muita probabilidade, que a UE seja bastante tolerante com os défices dos países da zona euro, salvo se algum deles for forçado a declarar-se em cessação de pagamentos (Irlanda e Grécia na primeira linha, Portugal e Itália logo a seguir). De uma maneira ou de outra, não há almoços grátis, como gosta de escrever César da Neves.Alguém terá de pagar os nossos défices públicos, que são iguais a dívidas. Respondendo mais directamente à sua pergunta, vou ser um pouco agreste. No meu entender, qualquer que seja a evolução da economia nacional e internacional, chegará a todos a hora da verdade. E aí, o governo não se contentará com o congelamento de vencimentos da função pública. Haverá reduções pela certa. Directamente ou de forma encapotada. Uma das hipóteses actualmente na agenda governamental é a supressão do 14º mês e, eventualmente,do 13º se as coisas ficarem mesmo muito feias. Pedindo antecipadamente desculpa por ser forçado a alongar-me, rogo-lhe um pouco de paciência para a leitura do que segue, publicado no Le Monde de hoje: "A Irlanda adopta medidas de austeridade para reduzir o défice. Os empresários podem, por enquanto, dormir descansados, pois os impostos das empresas na vão ser aumentados. O imposto sobre os lucros continuará a ser de 12,5%. Em contrapartida, os cidadãos vão padecer um bocado:aumento para o dobro do IRS, aumento do imposto sobre as mais-valias financeiras, alargamento da matéria colectável... Até os que recebem o salário mínimo vão passar a ter um desconto obrigatório de 7 euros por semana. Perante tudo isto, os irlandeses manifestam-se contra as opções governamentais. Na manifestação de 21 de Fevereiro desfilaram 120 mil pessoas (a Irlanda tem menos de metade da população portuguesa),na maior parte funcionários públicos, furiosos por lhes terem reduzido os vencimentos..." Como diz o nosso povo, "Quando vires as barbas do vizinho a arder, vai pondo as tuas de molho". Espero ter respondido à sua pergunta. Caso subsista alguma dúvida, não hesite em colocá-la no blogue. Desejo-lhe uma Páscoa Feliz.

António Rebelo

Anónimo disse...

Congelamento de salários à função pública excepto políticos...convem frisar, porque esses, coitadinhos, são sempre muito mal pagos.

Anónimo disse...

congelem (e reduzam mesmo) os ganhos daqueles que, com muito pouco trabalho, sacam balúrdios à conta do zé parolo.

comecem pelos chefes, banqueiros, políticos, derivados e afins, esses é que precisam de ganhar menos para não gastarem tanto

se fizerem assim não é preciso lixarem os do costume1

Anónimo disse...

Muito obrigada Dr. António Rebelo pela sua atenção, paciência e amabilidade.
Cá em casa já disse ao meu marido para raciocinarmos em termos dos aumentos dos nossos rendimentos anuais como sendo transitórios e não permanentes de forma a anteciparmos aquilo que o Dr. António Rebelo prognostica: um apertar do cinto para breve.
Uma Santa Páscoa para si também de,

Uma admiradora