António Rebelo
É sabido que os eleitores em geral têm a memória curta, salvo quando se trata de vasculhar na vida privada dos políticos e/ou de quem os contradiz. Aí têm-na até demasido comprida e prolixa. Em todo o caso, agora que a crise aperta e obriga a mudar de procedimentos, julgo não ser descabido lembrar que tivemos durante quase trinta anos uma Comissão Regional de Turismo sediada em Tomar. Sucessivamente presidida por Duarte Nuno, Amândio Murta, Madame Chambel, o deputado Relvas e o Neves das Estrelas, nunca ninguém conseguiu apurar para que servia realmente a comissão, ou quais os critérios usados para escolher os citados presidentes. Prova disso mesmo foi o eloquente silêncio aquando da sua relativamente recente extinção.
Julguei eu, e julgaram vários, que perante o evidente fracasso dos organismos regionais de turismo com sede em Tomar (Templários) e Santarém (Ribatejo), o governo PS teria em conta as causas de tais malogros e evitaria repetir as práticas que a eles conduziram. Afinal foi mais uma esperança vã. Logo na definição espacial das competências das novas entidades regionais, ficou a ideia que o turismo era apenas um mero pretexto para arranjar mais uns lugares para gente de confiança. A provar que assim era, quem podia tratou de se amanhar, idealizando áreas territoriais à sua medida. Para não irmos mais longe, Ourém (cuja importância turística é grande por causa de Fátima), resolveu passar-se para a entidade com sede em Leiria, apesar de pertencer ao distrito da Santarém. Decisão logo recompensada com a atribuição da presidência a David Catarino, até então presidente da Câmara de ...Ourém, pois claro!
Aqui em Tomar, apesar de termos alguns tomarenses de nascimento na autarquia, foram como quase sempre os oriundos de outras paragens a tentar determinar o nosso futuro. Resolveram, sabe-se lá com base em que critérios, que passaríamos a fazer parte da nova Entidade de Turismo de Lisboa e Vale do Tejo, decisão estranha numa altura em que Tomar transitou para a Região Centro e outros municípios do distrito para o Alentejo, tudo na mira dos dinheiros europeus. Adiante...
Seguiu-se a negociação política para acomodar e colocar nos lugares dirigentes representantes de Setúbal, Santarém, Tomar e Lisboa. Uma vez mais, ninguém ficou a saber quais os critérios usados, pelo simples motivo que nunca foram enunciados. Certo é que na actual direcção, de prévia nomeação política, a presidência coube ao PS, representado por Rosa do Céu, ex-presidente da Câmara de Alpiarça. A representação de Tomar, negociada com o PSD, foi entregue a Manuel Faria, com o cargo de vice-presidente. Setúbal ficou com outra vice-presidência, desempenhada por um representante da CDU.
Por estranho que possa parecer, a zona da grande Lisboa a norte do Tejo, não está oficialmente na direcção do novo organismo, nem aos nomeados pelo distrito de Santarém alguém reconhece um mínimo de capacidade ou experiência na área do turismo empresarial, afinal aquela que conta e paga impostos.
Cúmulo dos cúmulos, por uma daquelas tortuosas vias que infestam a vida política portuguesa, a sede da Entidade Regional foi fixada em Santarém, com delegações em Setúbal e Tomar. Perante isto, houve logo quem interrogasse -Se era para deixar praticamente tudo na mesma, para que mexeram no que estava?
Os habituais caciques nabantinos de trazer por casa vão alegar que sou movido pela inveja, que se trata apenas de má-língua, que está tudo satisfeito e que Tomar até ficou a ganhar. Pois! O pior é que noutros pontos do distrito a desilusão parece ser ainda maior que a minha, apesar de Santarém ter conseguido, além da já referida sede, uma escola superior de hotelaria e turismo. Com os fluxos turísticos que a capital ribatejana tem tido e terá, está-se mesmo a ver que aquilo vai ser um verdadeiro sucesso. Os futuros alunos já estarão todos colocados ainda antes de acabarem os respectivos cursos. No desemprego, claro!
Na última edição d'O MIRANTE, o seu proprietário JAE subscreve uma crónica que já aqui foi citada na nossa análise da imprensa de ontem. Dado que não é, nem nunca pretendeu ser, alguém com competência académica e/ou profissional em turismo, julgo que não será movido pela inveja ou pela obtenção de qualquer lugar à mesa do orçamento. Escreveu ele: "Até há poucos meses tivemos um político reformado na região de Turismo do Ribatejo que conseguiu parar o tempo durante quase 30 anos. mas o estatuto da anterior região de Turismo é uma brincadeira comparado com este. Lisboa não vai deixar governar Santarém.
É verdade que esta coisa das Regiões de Turismo é uma trapalhada para uns tantos ganharem um ordenado e somarem poder. Mas atenção que com o turismo não se devia brincar. E Santarém é uma cidade bem castigada pela falta de ideias e de investimentos nesta área. Lisboa é a capital e, embora tenha menos turistas por dia do que aqueles que se passeiam nas Ramblas, em Barcelona, é preciso mudar e já devia ter sido ontem." (JAE, O Mirante, 23/04/09, última página, com a devida vénia).
Neste contexto de mar visivelmente encapelado, a delegação de Tomar, retomando velhos hábitos, já iniciou a folclórica fuga para a frente. Anunciou, perante Rosa do Céu e o ministro da cultura, que vai montar um posto de atendimento aos turistas (com 300 metros quadrados!!!), no Convento de Cristo. Há coisas que não se entendem e árvores que não resistem, por manifesta falta de adequação ao terreno. Mais umas tempestados e acabarão com as raízes ao léu. Será mais uma edição nabantina de "E tudo o vento levou". Vai é levar o seu tempo, o que é pena. Mas pouco ou nada se poderá fazer por estas paragens. "O destino marca a hora."
16 comentários:
Sr. Rebelo não se faça de ingénuo! Toda a gente sabe que cargos como os das regiões de Turismo são cargos políticos, moldados para "aparatchiks" de regime. O mesmo se passa nos Centros de Emprego onde são colocadas pessoas sem a mínima qualificação qualitativa para o cargo. Veja-se o caso desta senhora Anabela Freitas!
É bom não esquecer também os Centros de Formação Profissional! Enfim, existe um rol de instituições que são um sorvedouro de dinheiros públicos que nada trazem à sociedade, mas que servem na perfeição o aparelho de estado.
Por regra e obrigatoriamente são cargos de elevado custo público em instituições inócuas que ninguém nunca saberá para que servem. São verdadeiras "Suiças" para os eleitos. Para além de chorudos ordenados há também uma procissão de mordomias principescas a juntar, desde carro, telemóvel, cartão de crédito, despesas indocumentadas a preceito, etc, etc, etc.
É o aparelho de estado a funcionar...
E não esquecer a outra procissão: a dos que se perfilam e esgadanham uns aos outros para lá entrar. Nunca vi isso à entrada duma fábrica...
OUTRO ABRIL É QUE ERA BARIL
Para quê para se cometerem os mesmos erros?
Nunca acreditei numa "revolução" de espingardas descarregadas e flores...
NÃO HÁ NENHUM JORNAL EM TOMAR QUE TENHA A CORAGEM DE PUBLICAR ESTE PRECIOSO ARTIGO?
Pelos vistos não custa nada, é só indicar a fonte.
Estou BANZADO!
Se os políticos que elegemos, não decidem, éporque não decidem. se decidem, são os malandros dos directórios políticos que decidem.
Em que ficamos?
Não querem, decerto que a cada decisão necessária de Tomar, se faça um PLENÁRIO, ou um PEQUENO REFERENDO, onde o povo que estaria presente (sempre os mesmos chicos esperto, direi mesmo) decidiriam, sem responsabilidade nenhuma.
A isso se chamaria PODER POPULAR.
Mas não foi precisamente este disparate que MARIO SOARES e outros democratas baniram de Portugal em 1975?
Deixem o baú das NÃO SOLUÇÕES DO PASSADO, nos eu devido sítio e passem à frente.
Manuel Faria não é perfeito? De acordo. É pior que muitos do que por lá passaram, tenho dúvidas. Não foi Manuel Faria que durante anos trouxe a Tomar o maior evento nacional em Cinema para a Infância e Juventude? Nõa liderou um projecto empresarial de sucesso na àrea do Jornalismo que ajudou a fazer desaparecer de Tomar, durante 8 anos, o maior trafulha autarquico alguma vez passado pela Praça da República?
Anabela Freitas não é perfeita? De acordo. Mas não é há mais de 20 anos técncia da casa? Acaso a anterior "gerente", nomeada pelo PSD ( e filha do ex-Presidente da Assembleia Vitor Botges), tinha mais experiência que ela? Tenho dúvidas. Só o facto de ter sido Directora do Centro de Emprego e simultâniamente gerente/directora de uma firma chamada "Polegar Digital", na área da formação tecnológica, que por acaso "ganhou" concurso para as Actividades da Robótica da Câmara (lembram-se), diz tudo da idoneidade que antes havia no tratamento das relações entre os serviços públicos e a actividade empresarial.
Tralha iedológica agora é um disparate.
Em Junho há eleições. Votem, como disse ontem o Cavaco.
Em Setembro há novamente eleições. Votem. E em Outubro têm outra oportunidade.
Deixe-mo-nos de desculpas e assumamos que somos nós, cada um de nós, a ter a responsabilidade de escolher quem, em cada momento, nos governa. Em Bruxelas, em Lisboa e em Tomar.
é pá, não vi o que se comentou aqui, mas para tanta coisa eliminada... o TaD deve ter tocado na quintinha de alguém!
Para anónimo das 9:15:
Ó Luis! Vamos lá a ver se nos entendemos. Desviar para canto nunca é bonito. Já deves saber que se alguém aborda aqui no blogue questões pessoais, não são seguramente os seus administradores. Também não podemos é remover comentários perfeitamente correctos, ainda que podendo carecer de fundamento nalguns casos.
Indo ao sumo da questão. Sobre emprego e formação profissional abstemo-nos por manifesta ignorância nessa matéria. Já quanto a turismo, é outra música.
O Faria é realmente bom rapaz mas em matéria de indústria turística sabe tanto como nós de física nuclear. O que nem admira porque nunca recebeu qualquer formação ou teve qualquer experiência nessa área. Mas não é a sua escolha que está em causa, pois foi uma escolha política. A questão é que tendo havido remodelação das entidades regionais de promoção do turismo, as coisas deviam ter sido feitas com outro fôlego, com outro alcance. E não foram.
Com dirigentes sem qualquer experiência do sector, começam a surgir os habituais expedientes "para apresentar serviço". A ideia de vir a instalar um posto de turismo à saída do Convento de Cristo é um monumental absurdo. Primeiro, porque há aqui no blogue quem conheça o mundo inteiro e nunca viu tal coisa -um posto de turismo num monumento património da humanidade. Depois, porque já há um posto de turismo cá em baixo, ao fundo da estrada de acesso ao Convento. Finalmente, porque tudo aquilo vai custar verbas que seriam melhor aplicadas noutras coisas, incluíndo os vencimentos dos funcionários que irão ocupar os lugares a criar, quando ainda aqui há tempo o Rosa do Céu se queixava do excesso de pessoal, que ia obrigar a uma redução drástica, visto os vencimentos representarem mais de 40% da dotação anual do organismo.
Para concluir. Com o Convento passa-se a mesma coisa. Um site a três dimensões? Seja! Animação? Seja! Mas o que o monumento precisa realmente é de horários adequados, pessoal qualificado, atendimento digno, casas de banho limpas e acessíveis, acesso para deficientes, segurança no parque de estacionamento, circuitos de visita adequados, visitas guiadas para todos os visitantes, controle de segurança à entrada, aproveitamento racional do antigo Hospital Militar, entregue aos bichos há mais de dez anos. Faz algum sentido na União Europeia que um monumento Património Mundial não disponha de guias oficiais, devidamente formados e avaliados periodicamente? As reformas precipitadas e trapalhonas só contribuem para nos encalacrar ainda mais. Mas ainda estão a tempo de emendar a mão em ambos os casos -Turismo e Convento. Ficamos aguardando.
Sebastião rima com razão!
Estranho o Sebastião responder a quem ele chama de Luis. tratar-se-á do Luis Marcelino, para tamanha intimidade?
Só pode ser.
Quanto aos argumentos invocados, estranho este não atacar a Dra.Anabela Freitas, tida como "a durona" dos socialistas locais e conhecida companheira do Adjunto do Governador Civil.
Não queremos que possa ser falta de argumentos para atacar. O mais certo é estar à espera de ver para que lado vai o carro...
Para anónimo das 20:14:
Não adianta andar a procurar meio-dia às duas da tarde. Se a escolaridade obrigatória ainda fosse o que já foi, certamente que lhe teria permitido ler esta parte do comentário: "Sobre o emprego e formação profissional, abstemo-nos por manifesta ignorância nessa matéria." Agora já está entendido?
Resta a questão do Luis, destinatário do texto. O importante é que o próprio se reconheça, o que terá acontecido pois resolveu não responder.
Sobre as suas deduções, apenas uma opinião -Maquiavel só houve um, o Nicolau e mais nenhum. E já lá vão mais de cinco séculos.
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