EXCURSÕES, DIREITOS E ABUSOS

Quando aqui foi abordado aquilo que consideramos ser um escândalo, um abuso de poder e um evidente delito de peculato de uso, (uma vez que se está, indirectamente, a utilizar dinheiros públicos em benefício próprio), ou seja, o caso das habituais excursões anuais, para eleitores e autarcas, tudo à custa dos contribuintes, incluindo as comezainas, houve que não concordasse com o nosso ponto de vista. Alegaram essas almas demasiado caridosas, bem ao estilo do nacional-porreirismo, que os velhotes, coitadinhos, recebem tão pouco de reforma, que se não for assim nunca poderão ir passear.
Há aqui, parece-nos, alguma confusão. Antes de mais, os tais coitadinhos não recebem pouco nem muito, mas exactamente aquilo a que têm direito, em conformidade com o que descontaram, ou até não descontaram. Sendo pouco, é todavia bem mais do que receberiam se vivessem num país não europeu. Nos USA, por exemplo, onde cada qual trata de si, não ficando ninguém à espera que o governo providencie o que quer que seja, para além da comida...
Por outro lado, em lado algum da nossa Constituição, ou de todas as outras leis que nos regem, consta o direito ao lazer, aos passeios, aos petiscos ou às excursões, à custa do Orçamento suportado pelos contribuintes. Nestas condições, dizer/escrever que os velhotes também têm direito a passear/viajar, não passa de um vulgar abuso de linguagem, de resto muito habitual entre nós, nas mais variadas situações.
Ainda assim, o que nos levou e leva a levantar o problema não foi nenhum sentimento contra os já reformados, grupo do qual também fazem parte alguns dos que aqui escrevem, mas unicamente a vontade de denunciar uma situação manifestamente imoral e eticamente reprovável. Imoral porque prejudica gravemente as agências de viagens, que pagam os seus impostos e sofrem assim uma concorrência desleal. Eticamente reprovável, porque esses passeios para encher a pança são sempre aproveitados, mais ou menos explicitamente, para "comprar" ou "mendigar" votos. E foi o que aconteceu mais uma vez este ano. Segundo escreve o nosso conceituado homólogo www.nabantia.blogspot.com durante o passeio, determinado autarca, no (para ele) normal exercício do seu cargo, lá foi dizendo ao microfone que se recandidatava e que contava com a simpatia e os votos dos ouvintes, que não se deviam esquecer. Ora isto é condenável, sem apelo possível! Se o passeio+almoço+lanche+festarola, para cerca de 800 pessoas, foi pago exlusivamente com dinheiro do orçamento municipal. Se os recursos do citado orçamento provêm dos bolsos de todos os contribuintes, e não só dos contribuintes do PSD, porque hão-de os excursionistas ser convidados a votar só em pessoas desse partido? No nosso tosco entendimento, para existir um mínimo de justiça e de equidade, devia apelar ao voto em cada autocarro um representante devidamente credenciado de cada uma das forças políticas representadas no parlamento municipal. Ou estaremos a ver mal? A justiça social, a moral, a ética, a honestidade, a equidade, não se apregoam. Praticam-se!