RESULTADOS DEMASIADO EVIDENTES

"Tentar enfiar Lisboa pelos olhos dentro" ou "tentar meter o Rossio na Betesga", são expressões populares bem conhecidas, apesar de actualmente em desuso, para expressar a ideia de que nos querem forçar a acreditar em enormidades. Exactamente o que acaba de acontecer com uns resultados provisórios de uma sondagem local, mandada realizar por quem, desde há alguns anos governa de facto o PSD/Tomar.

É desde logo muito estranho que, pela primeira vez, apareçam nos blogues, sem qualquer solicitação prévia, resultados de uma consulta popular custeada por um partido. Segue-se que, salvo os seus mentores, ninguém conseguiu ainda apurar que organismo fez a sondagem, quando, como, qual foi a amostragem, etc. etc. . Apenas se publicou que foram validados 600 e tal questionários. É demasiado pouco. E não respeita a legislação em vigor, a qual obriga a publicar sempre um quadro técnico, antes das conclusões.

Aquando das recentes europeias, os eleitores puderam constatar que mesmo as empresas até então credíveis em termos de sondagens, falharam estrondosamente. Nestas condições, que esperar de uma consulta efectuada em moldes por identificar, por uma entidade ainda não conhecida?

Os resultados publicados padecem de três óbices, qualquer que tenha sido o método usado para os conseguir: são demasiado oportunos, demasiado convenientes e demasiado equilibrados. São demasiado oportunos, pois embora ainda bastante afastados do acto eleitoral a que se reportam, caem que nem sopa na mel para confortar a ameaçada inclusão de Miguel Relvas na lista de candidatos a deputados. Como é do conhecimento geral, há no PSD pressões crescentes junto da sua líder para excluir Passos Coelho das referidas listas, de forma a não encorajar o aparecimento de mais baronatos. Neste contexto, se até quem obteve 30% dos votos na última eleição para presidente do partido tem o lugar em risco, que pode esperar o seu estratega, e amigo de longa data, Miguel Relvas?

Bastante oportuna, por conseguinte, em tal contexto, a aludida mini-sondagem forneceu também resultados demasiado convenientes, no nosso entendimento. A indicada maioria absoluta para o PSD vem acalmar a actual maioria autárquica (onde o silêncio e recato de Corvêlo de Sousa começam a provocar demasiadas interrogações, dentro e fora do partido), confortar as tropas e sossegar os eleitores, sobretudo os rurais, que os urbanos já estão mais habituados a certas manobras. Além de oportunos e convenientes, os resultados conseguidos foram igualmente muito equilibrados. Atribuiram dois vereadores e o segundo lugar ao PS e uma acentuada descida dos IpT, precisamente aquilo a que LuisFerreira, habitual parceiro de Miguel Relvas no condomínio do poder, mais aspira -ultrapassar eleitoralmente Pedro Marques, seu ódio de estimação.

Mas desiludam-se os diversos protagonistas. Não só "a coisa" parece ter sido mal alinhavada, com fio demasiado grosso e de cor contrastante, como alguns figurantes já começaram a dizer o que sabem. Segundo alguns, que se manifestaram sem sequer terem sido questionados a tal respeito, a apregoada sondagem poderá ter sido tudo menos isenta. As pessoas interrogadas por telefone foram alvo de todos os truques possíveis, no sentido de se obterem as respostas convenientes, que o mesmo é dizer favoráveis aos dois partidos do usual condomínio do poder, tanto a nível local como nacional. Tal prática vem demonstrar, mais uma vez, que os nossos políticos tendem a afastar-se cada vez mais da realidade sociológica envolvente, vivendo satisfeitos nas suas redomas. Até que um dia...

A título de exemplo, ainda ontem um comentador anónimo, (consultar comentários ao post "Chifrudos e renegados"), mas perfeitamente identificado pelo estilo e pela argumentação, teve o desplante, o arrojo, o descaramento, a falta de vergonha e de recato, para escrever que, caso se apresentasse como cabeça de lista do PS, António Rebelo obteria o mesmo resultado de Carlos Silva em 2005. Carlos Silva é um cidadão honrado e devotado ao PS, mas não merecia ser envolvido em tal comparação implícita, a qual evidencia bem a desorientação que já se amparou daquela casa, a mais de três meses do acto eleitoral. Vai ser bonito vai!!!