sexta-feira, 20 de novembro de 2009

INSÓLITOS TOMARENSES 9

Mais uma ida pedestre para os lados do Convento, proporcionou esta magnífica imagem. Numa altura em que a autarquia adjudicou as obras de melhoramento da ligação cidade/castelo através da Mata, praticamente desconhecida dos turistas, a multicentenária Calçada de S. Tiago, muito utilizada pelos ditos, está belíssima. Agora até já tem espaços verdes. É o progresso.
Cabe recordar que, quer queiramos ou não, a referida calçada integra a rede europeia dos caminhos de Santiago. Depois admiram-se quando Bruxelas demonstra não ter grande consideração por nós. Com estes exemplos, não admira.

Com aquela maneira muito portuguesa de apreciar os detalhes mas nunca o conjunto, enquanto há mais de cem anos que ninguém se preocupa com a Calçada de S. Tiago, o principal e mais curto acesso pedonal ao Convento, desde finais dos anos oitenta do século passado que começou a circular a ideia de lavar a Janela do Capítulo (eles dizem limpar, mas é de lavar que se trata realmente). Quem gosta sinceramente da janela e a conhece bem desde há mais de 50 anos, nunca percebeu porquê, embora perceba muito bem para quê. Estas tarefas extremamente delicadas são sempre lautamente pagas.
Acontece todavia que, tal como está, a obra-prima de Diogo de Arruda já durou 500 anos. Com os poros do calcário tapados por musgos e líquenes, que a têm protegido das chuvas ácidas. Será prudente remover essa pretensa "sujidade" ? Por outro lado, a obra é mais autêntica e expressiva ostentando a "patine" de cinco séculos, ou com aspecto de concluída há duas semanas ? Cuidado com as imprudências, que poderemos vir a pagar com língua de palmo, como diz o povo. O óptimo sempre foi inimigo do bom e nunca por aqui se ouviu algum turista a queixar-se da "sujidade" da janela. Eles lá sabem porquê.

Capazes de prever o futuro, mesmo a muito longo prazo, foram os arquitectos de D. Manuel primeiro, enquanto mestre da Ordem de Cristo. Entre 1509 e 1515 projectaram e executaram o expoente máximo da arte manuelina, rematado em baixo por este conjunto. Farto de arcar com o peso dos impostos, aqui representados pela árvore do poder, cujas raízes são cada vez mais vorazes, o nosso compatriota marinheiro olha para o largo, à procura de céu mais clemente. Mais precisamente para noroeste. Como ele sabia que a então desconhecida América do Norte era naquela direcção. Ele há coisas...

1 comentário:

Maria disse...

Só espero que com tanta limpeza, a janela não venha abaixo. Não se falou desse risco? Sempre a conheci assim, com o mesmo aspecto e, não estou a imaginar, vê-la limpinha. Prefiro-a assim e inteira.