quarta-feira, 25 de novembro de 2009

A JANELA EXPLICADA AOS VINDOUROS - 3

Ontem mostrámos-lhe o cão e o gato, eventuais companheiros dos navegadores (ver " A janela explicada aos vindouros 2"). É agora a vez de lhe mostrar por que razão havia pelo menos um gato a bordo de cada caravela. Do lado oposto ao cão e ao gato, no ângulo superior esquerdo da janela, adossado ao pináculo, entre a corda e o feto, aí temos o nosso hóspede indesejado -um rato ! Meio dissimulado, como convém. Geralmente estes roedores entravam a bordo sem convite, usando as cordas de amarração como vias de acesso. Por isso estas cordas (a que os marinheiros chamam cabos) tinham uma série de bóias de cortiça assaz largas para impedir que os ratos as conseguissem ultrapassar. Mas mesmo assim... (Ver na mensagem anterior e na foto da janela, as ligação desta a cada um dos contrafortes (botaréus).
É claro que a esmagadora maioria dos visitantes ignora estes detalhes. Porque são minúsculos, mas também -e sobretudo- porque não há quem lhos mostre, numa evidente falta de respeito pelas obrigações do serviço público, e por todos os contribuintes, que depois ainda têm de desembolsar mais cinco euros por pessoa, para visitar aquilo que afinal é de todos. O costume -muito blábláblá, mas quanto a obras, está quieto ! Dá muito trabalho e o estado paga mal. Mas lixa-se que também é mal servido, pensarão muitos funcionários. O pior é que quem se lixa realmente são sempre os do costume... Há séculos que assim acontece.

As visitas guiadas fazem tanta falta, que até coisas à vista de todos escapam aos visitantes, naturalmente desorientados num para eles labirinto, que ignoram completamente. É o caso deste monstro, com guizos a encimar-lhe a cabeça, um focinho horrendo, olhos e dentes enormes, a vomitar agitação marítima. Exactamente ! Acertou ! O nosso conhecido Gigante Adamastor, terror dos nossos navegadores de antanho, do qual falam os Lusíadas. Não lhe parece ? Então tenha a bondade de ver a foto seguinte, que é a mesma, mas numa outra posição.


Repare na extraordinária beleza plástica (é uma opinião apenas) do duplo enrolar das vagas, que depois vêm morrer na praia, do lado direito. Este friso gigantesco, esculpido com uma extraordinária sensibilidade há cinco séculos, cercava originariamente toda a construção manuelina. Posteriormente foi muito mutilado sendo agora apenas visível nos botaréus da fachada poente e do lado esquerdo do portal sul, da Virgem (ou castilhiano, para usar o jargão pseudo-erudito de certa gente...). E quase ninguém dá por ele ! É pena, sobretudo para as crianças, que gostam tanto do Harry Potter, mas se calhar nem nunca ouviram falar do Adamastor. É por estas e por outras, que somos como somos e estamos como estamos. E com forte tendência para piorar. Haja saúde ! E pachorra, já agora...



1 comentário:

JmSA disse...

Cheguei a dar muitas visitas no convento e sempre gostei de explicar a janela do capitulo e realmente ha bastantes pormenores mencionados que nunca tinha reparado, especialmente esse do cão do gato e do rato para a próxima já sei mais alguma coisinha para dizer ;)