segunda-feira, 23 de novembro de 2009

OBRAS HÁ, COORDENAÇÃO É QUE NÃO

Goste-se ou não do governo, goste-se ou não de Sócrates, temos de concordar que procura combater a crise o melhor que pode e sabe. Neste caso, ordenou que se executassem por todo o país OBRAS ÚTEIS em edifícios públicos, como forma de ajudar as empresas a manterem o emprego. É assim que só no Convento há neste momento quatro empreitadas diferentes, a cargo de empresas diferentes. Na fotografia pode ver-se um aspecto das casas de banho públicas, situadas à esquerda, ao fundo e em baixo, de quem entra no terreiro da Porta do Sol. Edificadas nos anos 30 do século passado, estavam fechadas desde 1974. Devido, entre outras causas, a sucessivos actos de vandalismo.

Dado que o conjunto Convento Castelo pertence ao estado desde a sua nacionalização, em 1834, a sua gestão é assegurada a partir de Lisboa pelo IGESPAR-Ministério da Cultura, através de um director residente. Neste momento a direcção é assegurada pela tomarense Iria Caetano, licenciada em germânicas. A autarquia não tem, portanto, nada a ver com o que quer que seja das muralhas para dentro. E com a Mata também não, apesar de ter resolvido, não se sabe a que título, custear parcialmente as obras supérfluas que lá vão ser feitas. A tal ligação cidade- castelo, que já existe há mais de 500 anos, mas que ninguém usa.
Manda a verdade acrescentar que também nunca os nossos autarcas procuraram conseguir a gestão camarária da velha Casa da Ordem ou da sua Cerca Conventual.
Foi nestas condições bizarras, com património da humanidade a ser gerido a 120 quilómetros de distância, quando há representantes legitimados pelo voto livre do povo a 120 metros, que se resolveu proceder ao restauro dos velhos sanitários. Não espantará por isso que haja erros crassos. Acontecer-nos-ia o mesmo se fôssemos nós tomarenses a gerir as obras do Terreiro do Paço.
Na fotografia são visíveis os remendos nas velhas portas. Pergunta singela: Para evitar actos de vandalismo, e outros usos indevidos, não teria sido melhor colocar portas blindadas, com abertura unicamente por cartão magnético, à venda ao lado, numa máquina automática, naturalmente bem protegida e com câmara de vigilância ?


Outro aspecto curioso do projecto de recuperação é a construção de uma espécie de mini-ETAR, para tratar os efluentes dos sanitários. Por outras palavras, umas fossas, como se estivéssemos no campo, longe da rede de esgotos. Acontece que, a pouco mais de 50 metros dali, nas tais obras da ligação cidade-castelo, vão instalar um emissário de esgotos (um colector, se preferem) exactamente para drenar os efluentes conventuais. Porém, dado que as obras do colector são de responsabilidade camarária, enquanto que as destes sanitários são por conta do governo de Lisboa, nem Pedro sabe o que faz Paulo, nem Paulo sabe o que vai fazer Pedro. O que vale é que, por vezes, o acaso resolve muita coisa. Nestas obras das casas de banho, quando se procedia às escavações para a construção das fossas sanitárias, apareceram algumas ruínas, bem visíveis na fotografia.
Agora seguir-se-á, como habitualmente, o desfile de arqueólogos. Uns dirão que são restos do fórum augustano, outros opinarão que não senhor, que são restos de construções da época da ocupação serracena. Com um bocado de sorte até poderá aparecer um especialista a garantir que se trata do "boudoir" de Dª Catarina, mulher de D. João III, irmã da Carlos V e tia de Filipe II de Espanha, Filipe I de Portugal, neto de D. Manuel I...
Quando finalmente se chegar à conclusão lógica de que tudo aquilo não vale um caracol, pelo que se pode continuar a escavar, talvez a autarquia e o IGESPAR já tenham tido tempo para decidir ligar aqueles sanitários ao emissário dos esgotos conventuais, o que dispensará as projectadas fossas. Mas entretanto terá havido patrões e operários beneficiados. Aqueles com lucros, estes com salários, o que é bem bom em tempo de crise.
Sempre fomos assim, pelo que não há muito a fazer enquanto não resolvermos mudar, acompanhando a evolução do mundo. Quando será ?



3 comentários:

Frei Gualdim disse...

Pois é. Enquanto isso o novo vereador do turismo anda para aí a apresentar os seus conhecimentos da Ordem do avental. Ele lá sabe como é que chegou a vereador...

http://vamosporaqui.blogspot.com/

Anónimo disse...

Enquanto por cá as coisas se passam assim, para que os governos e partidos possam ter à mão lugares para colocarem os seus "boys", em França está a elaborar-se uma lei na AN para que a partir de 2010 todos os monumentos pertencentes ao Estado ou aos seus estabelecimentos públicos, passem a ser da responsabilidade do poder local, das comunidades locais

Sebastião Barros disse...

Para anónimo em 14:33

Agradeço-lhe a informação, que todavia não é totalmente correcta.
A futura lei, se for aprovada na sua versão actual, apenas permitirá que os monumentos do estado POSSAM ser transferidos para as COMUNIDADES REGIONAIS, que actualmente são 21. De momento, os presidentes destas não se mostram muito interessados nessa possibilidade.
Convém esclarecer que já existe, desde há alguns anos, uma lei que permite tal transferência, da qual contudo faz parte uma lista de munumentos não transferíveis. É apenas esta lista que a lei agora em discussão pretende anular.
Dito isto, a autarquia tomarense teria todo o interesse em arranjar estruturas e pessoal formado, para posteriormente solicitar ao governo a transferência para o poder local daquilo que, sendo de todos, está naturalmente à nossa guarda. Assim se poderiam evitar muitos erros e abrir caminhos
mais promissores para os tomarenses. Penso eu de que...
Cumprimentos,
António Rebelo