sexta-feira, 3 de abril de 2009

QUANDO A ESMOLA É GRANDE...

O aforismo é conhecido -Quando a esmola é grande, o santo desconfia. Pois é isso mesmo que está a acontecer em Tomar. Num ano de eleições para o governo e para a autarquia, já foram anunciados um hotel de charme + um campo de golfe, para os Pegões; um hotel de charme de 4 estrelas para o antigo convento de Santa Iria e, esta semana, + um hotel de charme de 5 estrelas, + outro de 4 estrelas e 200 quartos, + um spa, + um parque temático, tudo na quinta da Granja. Estão igualmente anunciados um outro hotel entre a Av. Nun'Álvares e o acesso à Ponte do Flecheiro, bem como um outro, de charme pois claro!, no prédio das Mouzinhas, ali no Largo do Pelourinho. Convenhamos que é muita fruta ou, em linguagem de caridade, que a esmola é demasiado grande. E os tomarenses, já escaldados com a anterior história do parque temático, anunciado pelo PSD aquando das últimas autárquicas e que nunca mais se concretizou, já estão de pé atrás.
Desta vez até houve visita guiada para dirigentes do Turismo do Vale do Tejo e outros, técnicos de turismo não especificados, descrição dos investidores, técnicos e consultores, bem como manchete no Cidade de Tomar. Não foram, todavia, esclarecidos aspectos essenciais, nem respondidas perguntas implícitas fundamentais: Trata-se de investimentos privados sem participação estatal? Trata-se de investimentos largamente subsidiados quer pelo Estado, quer pela União Europeia? Foram feitos estudos de mercado credíveis? Há garantias de ocupação média anual de pelo menos 30%, para tanto quarto a construir? Sabe-se, pelo menos, que aquém desse valor médio de ocupação, ou há milagre ou há falência?
Tudo incógnitas para apostas demasiado importantes. Assim por alto, temos 60 quartos em Santa Iria + pelo menos outros 60 nos Pegões +60+200 na Quinta da Granja+30 pelo menos nas Mouzinhas+pelo menos 80 no Hotel dos Templários, ou seja um total mínimo de 290 quartos de 4/5 estrelas na primeira fase, logo seguidos dos outros 200 de 4 estrelas, anunciados para a Quinta da Granja, 500 quartos, números redondos. Conseguir-se-á a tal ocupação média anual de pelo menos 30% = 150 quartos de 4/5 estrelas ocupados todos os dias do ano, em média? Não haverá por aqui um pouco de megalomania?
A Pousada do Castelo do Bode encerrou, a Estalagem do Vale Manso, do outro lado da barragem, também fechou. No Algarve, os hoteleiros de 4/5 estrelas, confrontados com enorme falta de clientes, aproveitam para fazer obras e dar férias antecipadas ao pessoal, enquanto esperam que passe a crise. Entretanto, no Japão, a crise já dura há mais de 10 anos e ninguém consegue prever quando e se acabará. Entretanto Jacques Attali, um dos melhores e mais escutados especialistas em prospectiva, opina que "a ostentação já não está na moda, pelo que vamos entrando num longo período de preços de saldo em todos os sectores." Entretanto, bancos, seguradoras e outras grandes empresas, vão cortando nos prémios aos gestores, nas ajudas de custo, nos cartões de crédito, exactamente tudo aquilo que permitia a proliferação dos campos de golfe e dos hotéis de charme, pois as taxas de valor acrescentado já não permitem essas "loucuras".
Como se tudo isto não fosse já bem sombrio, aqui em Tomar subsiste um velho e crónico problema -a falta de qualidade e a carência de profissionais qualificados. A comitiva que visitou a Quinta dea Granja e outros locais, era composta fundamentalmente por funcionários, cujas competências em termos de turismo e de governação de negócios estão por demonstrar. Pior ainda: O único empresário hoteleiro da zona com algum sucesso, que ainda por cima é do PSD, não fazia parte do citado grupo. Porque terá sido? O facto é tanto mais estranho quanto é certo que o projecto previsto para o prédio das Mouzinhas será um empreendimento dele. Estamos a falar de José Cristóvão, dono do Hotel dos Templários, da Estalagem Lago Azul, do Barco S. Cristóvão e de um Hotel em Luanda. Terá sido simples esquecimento de quem convidou? Ou foi o jornal que se esqueceu de referenciar a sua presença?
Sem respostas às questões colocadas, resta-nos lembrar, uma vez mais, a quem possa interessar,
que nunca ninguém conseguiu plantar meloeiros e depois colher ananases. O que se compreende, pois afinal, alguém tendo vivido sempre no fundo de um poço, julgará que o mundo é apenas aquele pequeno círculo que ele vê cá em cima...

2 comentários:

Anónimo disse...

Pois é! É muito hotel para tão pouca terra!

Anónimo disse...

Falta ainda anunciar:

1 - Um cosmódromo em Valdonas ao lado do aeródromo.

2 - Um cais de acostagem para barcos de grande calado no rio nabão ao pé da ponte do Flecheiro.

3 - Um autódromo no campo do Flecheiro no local onde ainda estão as famílias ciganas.

4 - Um arranha-céus com uma cachaporrada de andares onde se inclua o Forum de traça paulina.

5 - Um parque temático. O tema? "COMO DESTRUIR UMA CIDADE".