sábado, 4 de julho de 2009

A VARA TORTA E A SUA SOMBRA

António Rebelo
Nos anos 80 do século passado, quando eu ainda estava na política activa e escrevia, no "Cidade de Tomar", de forma agreste contra a então maioria da AD, o conhecido tomarense Fernando Nini Ferreira disse-me uma vez: -"Tu andas a querer endireitar a sombra de uma vara torta. Por isso nunca vais conseguir nada." Quase trinta anos mais tarde, reconheço de bom grado que o ilustre tomarense viu bem a situação.
Tal como eu então, o novo movimento de independentes critica severamente, com toda a razão, a actual maioria PSD. Escrevem eles, no ponto 2 do manifesto recentemente publicado: "A Câmara tem que apoiar, agilizar procedimentos, rever urgentemente os seus regulamentos e taxas para combater a perda de investimento e definir medidas concretas e reais que tornem Tomar um concelho atractivo e evoluído para investir."
Por outro lado, na reunião camarária da passada terça-feira, 30 de Junho, o vereador do PS leu e entregou uma longa declaração de voto, a qual pode ser lida integralmente (por quem tenha paciência para tal) em www.psdigital.org . Dela destacamos a seguinte passagem: "Temos, por isso mesmo grandes dúvidas sobre a solução de criação de "um estacionamento escavado na encosta e de inserção perpendicular à estrada de acesso ao Convento e à Calçada de Santo André "[Calçada dos Cavaleiros, esclarece Tomar a dianteira], para criar 34 lugares de estacionamento. Este é um projecto repisado da teimosia do anterior presidente da câmara do PSD, que como todos sabemos em cada Parque de Estacionamento que colocou o dedo, fez disparate. Aconselhava o bom senso que não se interviesse na encosta, sem se discutir devidamente o caminho a tomar relativamente ao modo de acesso primordial ao Convento."
Em ambos os casos, os que reclamam providências referem claramente factos importantes, que todavia mais não são que meras consequências de uma determinada situação de facto. E essa situação pode ser resumida da forma seguinte. Os compromissos das diferentes formações partidárias, forçam as várias gestões autárquicas a contentar diversos grupos sociais em presença. Por lado, as empresas de obras públicas, que ajudam a financiar as campanhas eleitorais e pagam assessorias a parlamentares e outros, querem um máximo de concursos públicos, única forma de rentabilizarem os investimentos feitos. E temos assim cada vez mais casos de "obras pelas obras", que o mesmo é dizer empreendimentos cuja utilidade pode ser tudo menos evidente. Em Tomar, temos alguns parques de estacionamento, a ponte do Mouchão para o antigo estádio e o paredão do Flecheiro.
Por outro lado, há que pagar favores e aproveitar para ir colocando "gente de confiança" em lugares estratégicos. É assim que a autarquia, no seu conjunto, aboleta actualmente cerca de 500 funcionários -mais ou menos um funcionário para cada 80 eleitores. É obra! E depois ainda há os professores, os serviços de saúde, as finanças, o tribunal e o quartel. Um verdadeiro exemplo de economia tutelada pelo Estado e, portanto, custeada pelos contribuintes.
Tudo isto para dizer que, tanto a reivindicação sobre as licenças, taxas e trâmites administrativos, como os votos contra as diversas obras sem utilidade óbvia e/ou de prioridade muito duvidosa, mais não são que vãs tentativas para endireitar a sombra da vara torta.
Nos dois casos, sem uma acentuada e urgente racionalização dos recursos humanos da administração local, naturalmente precedida de adequada auditoria externa, e uma vez ouvidos todos os funcionários, a câmara continuará refém da situação actual, tolhida de pés e mãos, na prática incapaz de fazer o que quer que seja em prol do progresso local. Não adianta ter ilusões, pois como gostava de escrever Vítor Cunha Rego, "As coisas são que são." A Câmara só poderá tomar medidas que impliquem redução das receitas, depois de ter conseguido diminuir as despesas. Quem vai ousar fazê-lo e perder assim milhares de votos?

3 comentários:

Anónimo disse...

O Dr.Rebelo tem, desta vez, razão, mas terá de reconhecer que a opinião do segundo grupo de independentes faz todo o sentido e é um dos problemas e a atitude do vereador do PS, tem todo o mérito de dizer PRETO no BRANCO, do disparate de construir um parque de estacionamento escavado na encosta do Castelo.

É ou não para isso que serve, também a OPOSIÇÃO?

Temos ou não nós o direito de nos pronunciarmos sobre qual a forma de aceder prioritariamente ao Convento? Será que é de alguma utilidade facilitar o acesso através do carro?

Anónimo disse...

Ou de como a serpente abafou o coilhinho!

Sebastião Barros disse...

Não se trata de determinar quem tem razão ou não; quem tem o direito ou não tem. Apenas houve a intenção de demonstrar que, em ambos os casos, se está a pretender suprimir determinadas consequências, sem antes cuidar de saber como acabar com as causas. Noutros termos, parecem estar todos preocupados com os sintomas e pouco interessados em determinar qual é a doença que os origina.
Quanto ao parque escavado de 34 lugares seria (ou será? pelo rumo que as coisas levam...) mais uma aberração, tipo gaiola do Mouchão. Que ainda ninguém conseguiu descobrir para que serve. Será um futuro mictório ultramoderno?