domingo, 4 de abril de 2010

EMPREGOS E POSTOS DE TRABALHO

Um grande empresário português (J.Roquete), que está a investir cerca de 30 milhões de euros na albufeira do Alqueva, queixava-se um dia destes, numa publicação de economia, que estava com muita dificuldade para arranjar trabalhadores qualificados. Pretendia pessoal de hotelaria, para limpar quartos e casas de banho, fazer camas e cuidar dos andares, sabendo falar inglês. O problema, dizia ele, consiste em que os que aparecem ou não falam inglês, nem querem aprender, ou falam inglês mas não querem limpar quartos nem casas de banho. A tal questão do estatuto social. Como se uma pessoa valesse pelo que faz e não pelo que é. Ainda temos um longo caminho a percorrer. E vai ser, pensamos nós, uma longa via dolorosa...
A pensar nas declarações do referido empresário, e sabendo que entre nós o desemprego já ultrapassou a barra simbólica de 10 % da força laboral, demos uma volta por aí, com a respectiva máquina fotográfica.
Primeira constatação, há cidades próximas com grande falta de quem queira ocupar postos de trabalho. Nesta ilustração, colhida na nossa Rua de Coimbra, pede-se empregada para o Entroncamento. Deve tratar-se, porém, de trabalhadora. Por isso não aparece ninguém. O pessoal quer é empregos; postos de trabalho não interessam a ninguém.

Até em postos de trabalho "limpos", leves, variados e que não implicam limpar casas de banho, ou coisas do género, já há falta de candidatos. Como no caso deste anúncio, ali para os lados da Rodoviária.

Outro exemplo de posto de trabalho por ocupar. Como se trata de estar ao balcão e de pegar na bandeja para servir à mesa, vai para lá tu, que eu prefiro receber o RMI e andar no laró...

Neste caso do pasteleiro, a situação reveste-se até de alguma comicidade. Em conversa com uma empregada da padaria em causa, foi-nos dito que já apareceram e foram admitidos uns quantos candidatos. O problema é que quando arranjam namorada, como o trabalho é sobretudo de noite, vão-se logo embora. Porque será ?
Conclusão: Empregos vitalícios ? Sim ! Empregos com direitos ? Sim ! Empregos na função pública ? Sim ! Postos de trabalho vitalícios? Não ! Empregos precários ? Não ! Empregos sem direitos ? Não ! Postos de trabalho precários, sem direitos e mal pagos ? Nem pensar !
Estamos como aquelas raparigas, de antigamente e de agora, que tanto escolhem que acabam por ficar solteiras.
E viva o Rendimento Mínimo de Inserção ! E vivam as dádivas da Cáritas ! E vivam as instituições de ajuda aos desvalidos ! Enquanto houver quem pague, haverá sempre quem receba. Mas esquecem-se quase sempre de retribuir...ou até de agradecer. E até aparecem de telemóvel na mão, mp3 e cigarro na boca, sinais evidentes de que as coisas nem vão assim tão mal...

(Naturalmente que este escrito não engloba de modo algum os que realmente necessitam e têm todo o direito a receber a nossa ajuda solidária -os desempregados transitórios, as crianças em idade escolar, os idosos, os realmente inválidos, os doentes e os notoriamente incapazes. Quanto aos outros, o trabalho nunca fez mal a ninguém e os sacrifícios divididos por todos custam muito menos a suportar. Desde sempre se ouviu dizer "Vão trabalhar malandros !"

10 comentários:

aldeõesbravos disse...

Eu preciso é de dinheiro qual trabalho, por isso vejo os bancos de jardim cheios de fulanos a receber á minha conta e de outros, ainda dá para escolher. Isto assim até parece que não ta mau.

Anónimo disse...

É perigoso quando alguém que nunca passou pela situação de desemprego, se põe a fazer considerações sobre a vida dos outros. É muito perigoso!

Sebastião Barros disse...

Onde é que conseguiu a informação de que o autor do texto nunca passou pela situação de desemprego ? Olhe que passou e foi antes do 25 de Abril, quando não havia subsídio, nem 13º nem 14º, nem o RMI ou RSI. E até no estrangeiro, passaram-se meses e meses antes de conseguir encarreirar...
Geralmente, só quem tem experiência é que consegue escrever sobre as coisas "com um ver claramente visto". Incomoda não é ? Acontece quase sempre com a verdade.

Unknown disse...

Esforçou-se e fez a sua licenciatura com boas notas tendo sido uma das melhores do seu curso. Foi o que lhe valeu para obter um lugar de caixa no supermercado.

Anónimo disse...

DOUTOR REBELO VOU CONTAR-LHE ALGO QUE ENRIQUECERÁ A SUA CRÓNICA.
NO POLITÉCNICO DE TOMAR EXISTEM ALGUNS ALUNOS QUE ENTRARAM PELOS "MAIORES DE 23" E QUE CIRCULAM POR LÁ COM CHORUDAS BOLSAS ATRIBUÍDAS PELOS RESPECTIVOS SERVIÇOS SOCIAIS A RONDAR OS 500 EUROS/MÊS. ALGUNS ATÉ SÃO CASAIS SABIA?
MAIS DIZEM À BOCA CHEIA QUE SÓ LÁ ANDAM PARA MAMAR A BOLSA POIS O CURSO É PARA SE IR FAZENDO. ALGUNS ACUMULAM PENSÓES DE REFORMA E INVALIZEZ ACIMA DOS 1500 EUROS E DEPOIS O SEU MÉRITO ACADÉMICO É COMPENSADO COM BOLSAS CHORUDAS.
ORA COM ESTA RALÉ PARASITÁRIA ESPALHADA POR TODO O LADO NÃO HÁ PAÍS NEM POLITÉCNICO QUE AGUENTE.

Anónimo disse...

Olá

Concordo. O português é naturalmente preguiçoso.
Eu sou engenheira florestal, já trabalhei na área mas quando não aparece agarro qualquer coisa. Neste momento e desde à 2 anos sou auxiliar de acção educativa (estado) e tenho também um part-time num lar de 3ª idade onde faço limpezas, mudo fraldas, etc. Nos fins de semana dou explicações.No entanto conheço muito boa gente a viver do rendimento minimo e de esmolas com perfeita capacidade para trabalhar.
Eu não seria capaz nem posso. Espero que nunca me falte saúde para trabalhar.
cumprimentos
mjoao

Sebastião Barros disse...

Amigo Caiano:

Saudamos o seu regresso aqui ao blogue, onde será sempre bem acolhido, pois é conhecida a qualidade da sua prosa e a frontalidade das suas ideias.
Se ler o comentário logo a seguir ao seu, constatará que o mal por si denunciado está, infelizmente muito difundido. Não conheço dados portugueses, mas em França mais de 60 % dos cidadãos pensam que os seus filhos vão viver pior do que eles.
Que fazer então ? Quanto a nós, continuar a agir no sentido de melhorar a esfera produtiva. Porque sem ela... E preparar a juventude para a luta pela vida, o que implica o abandono das facilidades e das balelas sobre igualdade de oportunidades.Mais do que nunca, "quem não sabe é como quem não vê" e mundo cada vez é menos acolhedor para invisuais por opção de vida.

Anónimo disse...

O Prof. acha mesmo que se os empregos oferecidos fossem "trabalho decente e legal" seria necessário anunciá-lo na porta?
Nada disto lhe suscita reservas??
O Prof.Bruto da Costa fala e escreve disto como ninguém.
Leia-o. Entenderá , que todos fazemos parte de um sistema, onde o capitalismo liberal e agressivo impera, e onde os pobres são absolutamente necessários para que ele cresça e domine as mentes ( a sua já está, a minha ainda não) para que todos pensemos que a solução estará na aceitação da humilhação e da nossa condição de pobres,(seremos pobres porque não poderemos ser outra coisa...) da subserviência aos grandes interesses económico-financeiros,(quanto ganha ( sem custos)um capitalista investindo na bolsa e nos rendimentos das offshores, em vez de criar emprego?)
Porque raio há-de ele criar empresas, indústria, comércio?
A esta lógica, só se contrapõe outra: a mansidão de um Povo que se pretende agachado, ´de rastos, e que conta com alguns como o senhor Prof. Rebelo - muitos infelizmente -, que lhes servem fielmente os objectivos, porque lúcidos, conhecedores e esclarecidos sobre as pretensões, os aplaudem, em vez de olharem para baixo, para os mais fracos, lhes darem a mão e a voz, e antes os enxotam e alteiam a sua para que se resignem à ordenança do poder , se ajoelhem e peçam talvez ainda, perdão por serem pobres, e por viverem afinal à conta do Estado e deles! Em resumo se submetam ao estatuto de servos de uma Gleba!
Para reflectir, se entender haver matéria de interesse.
Cumprimentos,
Alice Marques

Anónimo disse...

Caro Prof.Rebelo:
O desemprego, a fome e a miséria são uma realidade assustadora. São-no particularmente em Tomar.
A única indústria crescente aqui em Tomar, é mesmo a indústria da pobreza.
Das caridadezinhas, dos misericordiosos, dos solidários dos pobrezinhos, das cáritas e por aí fora.
Num Estado verdadeiramente solidário, essa gente, que gere e faz crescer a pobreza, estimulando-a, estaria antes a pagar impostos (que não paga) em vez de fugir para as offshores, para depois aplicarem algumas migalhas nos desgraçados que ficam sem emprego e com as casas para pagar,e os filhos para alimentar e contar apenas com um subsídio que é insuficiente e muito regateado pelos que têm a sorte de ter um emprego com salário, ou uma reforma assegurada, como o Prof.Rebelo.
Visto assim, a solidariedade é um valor que parece necessário apenas para se afirmar nas rezas confirmar nos ofertórios das missas. Na prática, o corrente, o normal, é a conversa do Professor Rebelo: os desempregados não trabalham porque não querem, e esta horda de gente tem os subsídios e a boa vida (...até têm telemóvel..) paga por” eles. “Ele” são os beneméritos que nos pagam.
E ao lado deles as santas Instituições de caridade engordam, e multiplicam-se, por isso mesmo.
Não vejo muitas referências aqueles que despedem , que não pagam salários decentes, que mantêm apenas trabalho precário e mal pago, que não pagam os impostos devidos, que fecham empresas porque os lucros da bolsa dão mais do que qualquer indústria ou actividade, são eles que "exportam" os capitais para as offshores, são eles que trocam a dignidade das pessoas pelos seus interesses pessoais. Reside nesta classe de gente, o grande problema da pobreza em Portugal.
O Prof.Rebelo defende, ao deixar implicito que devemos , os desempregados que pagámos impostos e Segurança Social,(ao longo de dezenas de anos, aceitar um trabalho pago miseravelmente, desclassificado, apenas porque temos um rótulo: desempregado.)
Pois eu acho que não devo. Tenho dignidade, ou já não posso tê-la?
Acho que o Estado, deve ter para comigo um dever de solidariedade transitório, que não deverá ser eterno, obviamente.
Diz o Prof Rebelo que sabe do que fala, quando se pronuncia sobre o desemprego. Pois eu, que já fui empregada trabalhadora nos "outros tempos" digo-lhe quese sabe esqueceu alguns pormenores que na análise do tema, não são dispiciendos:
-No passado, as regras eram más. Mas as que existiam, eram cumpridas. Porque eram fiscalizadas. E os prevaricadores punidos.E diferenciados aqueles uns dos outros. Sabia-se quem eram. Hoje não. Somos todos uns preguiçosos!
-Empresários a dever ao fisco e à Caixa de Previdência era transitório. Ou pagavam ou fechavam. Marmeladas como as de hoje, não havia. Perdões fiscais também não.
-Empresários que requisitam trabalhadores aos centros de Emprego,para trabalhar durante o período experimental (dantes de 15 e 30 dias, hoje 90.... ) mandam-nos embora aos 3 meses , a seguir requisitam outros. Não pagam nada, às vezes nem o salário, quanto mais direitos. Têm sempre anúncios no Centro de Emprego, e nas vidraças das montras. Nunca estão” servidos” de empregados. T~em sempre falta.
“Naquele tempo” não faziam muitas assim. (eu não sou saudosista, nada, nada…)

Há pessoas que se esquecem que um desempregado , também tem família, amigos e uma vida para viver com dignidade! Que um pobre também a tem e deve ser respeitado!
(continua)

Sebastião Barros disse...

Ora aí está um debate saudável e que se espera profícuo. Têm naturalmente razão os nossos comentaristas, enquanto deliberadamente (?) não forem ao funda da questão. Que nos parece ser esta: Na verdade o capitalismo é um sistema execrável, que tanto propricia a riqueza de uma minoria como gera a pobreza da maioria, sobretudo na sua recente e detestável variante financeira, que nada produz para além dos lucros dos capitais especulativos. Até aqui estamos todos de acordo, não é verdade? Prossigamos então. Até à última década do século passado, havia na Europa um sistema alternativo, ou que se julgava tal. Implodiu, em condições ainda hoje por explicar na totalidade. Subsiste na Ásia, onde infelizmente tem aspectos ainda mais asquerosos do que os antes assacados ao capitalismo (Sei do que falo. Visitei demoradamente a China, o Vietnam, o Laos, o Camboja, o Nepal, o Butão, a Tailândia, a Birmânia e a Índia.Também estive 15 dias em Cuba, num circuito por todo o país, iniciado em Santiago, ao lado da Guantânamo. Só me falta ir ao "paraíso" da Coreia do Norte.)
Estando na mesma situação da generalidade dos países capitalistas (Em Washington, Nova Iorque ou Montreal vi mais SDF do que em Lisboa), e não havendo, pelo menos que eu saiba, solução alternativa, somos forçados a regressar à fulcral pergunta leninista: QUE FAZER ?
Abordar os grandes problemas nacionais e mundiais enquanto o esterco se acumula à nossa porta, é uma hipótese muito praticada. Arranjar maneira de limpar quanto antes o esterco à frente da porta é outra, parece-me que muito mais útil, pois se cada qual fizer outro tanto, em pouco tempo se limpará a rua, a cidade, o país, o continente, o mundo. Dito de forma mais directa: E se nos uníssemos para resolver os problemas da cidade e do concelho, antes de mais nada ?