Geograficamente é uma evidência; olhando para o mapa da Europa, estamos cá em baixo. Mas se fosse só em termos geográficos... Desgraçadamente, na cultura, na organização social, nas estruturas produtivas, nas vias de comunicação, nas mentalidades, até parece que não fazemos parte do mesmo continente. E não será só, nem sobretudo, por causa da localização. Afinal, a Catalunha ou a Galiza também são "cá de baixo" e seria puro pretensiosismo tentarmos a comparação com essas duas regiões autónomas espanholas. Sob todos os pontos de vista, menos um -o improviso. Porque é da improvisação como método de governação que provêm quase todas as nossas maleitas.
Somos os campeões do "logo se vê", "dá-se um jeito", "havemos de nos desenrascar", "remedeia-se", "não vale a pena", "vai dar ao mesmo", "tanto faz", "correu mal", "não estava previsto"... são frases comuns, tanto na função pública, como no privado, tanto na rua como em casa. Com os excelentes resultados que todos conhecemos. E com os quais, infelizmente, somos confrontados todos os dias. Por falta de treino, por falta de formação, por falta de ensino adequado, por falta de hábitos racionais, por falta de persistência, por falta de método, por falta de estruturas, por falta de projectos vinculativos.
Veja-se o caso da política. A nível local, para não complicarmos demasiado. Que situação temos ?
-Péssima ! Quais são as perspectivas ? -As piores ! Porquê ?!?! Qual o projecto do PSD ? E do PS? E dos IpT ? E do CDS ? E da CDU ? E do BE ? E do TPL ?
Onde é que constava que, caso não obtivessem maioria absoluta, PSD e PS juntariam os trapinhos numa coligação ? Quais os reais objectivos de tal consórcio entre os inimigos da véspera?
A estafada desculpa de que é assim por todo o lado, já não colhe. Por lado porque não corresponde à verdade; por outro lado porque, mesmo correspondesse, não seria ainda assim uma situação saudável ou normal numa democracia robusta e participada.
Veja-se a ilustração supra. "O método Aubry: primeiro um programa, a seguir uma candidata ou um candidato. O debate sobre o projecto do PS está a começar: reforma fiscal, reformas e aposentações, "social-ecologia"... As eleições primárias para designar o candidato ao Eliseu (Palácio onde reside e trabalha o presidente da República) serão, em princípio, no Verão de 2011."
Para os mais arredados destas coisas, a senhora Martine Aubry, formada pela ENA, a ultra-selectiva Escola Nacional de Administração (razão porque os seus alunos são designados por "enarcas", igualmente porque dominam a administração e as grandes empresas francesas), é presidente da câmara de Lille, uma grande cidade do nordeste da França, já foi ministra do trabalho e exerce também o cargo de secretária-geral do Partido Socialista Francês, para o qual foi eleita o ano passado. É filha de Jacques Delors, segundo os especialistas o melhor presidente da Comissão Eurpeia até hoje, apesar de nunca ter frequentado o ensino superior.
Pois é uma senhora com tal perfil, tais referências e tal currículo, que decidiu desencadear o processo tendente a eleger o candidato socialista às eleições presidenciais, a realizar em 2012.
Em Portugal, as presidenciais realizam-se um ano antes, conforme é do conhecimento geral. Como estamos de preparação ? Como estamos de estruturas de preparação ? É assim que queremos apanhar de uma vez por todas o comboio europeu ? Quando é que aprendemos que ao sabor da corrente nem sequer sabemos para onde vamos, se é que vamos para algum lado ?
1 comentário:
*Millôr Fernandes lançou um desafio através de uma pergunta:*
*- Qual a diferença entre Político e Ladrão ?*
*Chamou muita atenção a resposta enviada por um leitor :*
*- Caro Millôr, após longa pesquisa cheguei a esta conclusão :
a diferença entre o político e o ladrão é que um eu escolho, o outro me escolhe. Estou certo? Fábio Viltrakis*
*Eis a réplica do Millôr :*
*- Puxa, Viltrakis, você é um génio... Foi o único que conseguiu achar uma diferença!*
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