quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

FUI À CHOROMELA E DORMI MUITO MAL

Incitado por um leitor mais atento, fui ontem até à Choromela. Em princípio para ver obras municipais inacabadas. Trata-se de um simpático arrabalde da cidade. Um bairro periférico, se preferirem. Situado num alto, permite a quem por ali viva ou ande ver as coisas de longe e de cima. Há bons ares, sossego e segurança.
O panorama pode ser visto na fotografia acima, e temos de reconhecer que é muito bonito.


As obras de saneamento e de requalificação dos arruamentos, da responsabilidade da autarquia, continuam por acabar, ninguém sabe até quando. Parece que a empresa adjudicatária faliu. É espantoso o número de empresas de obras públicas que abrem falência e deixam obras por acabar, depois de terem embolsado a maior parte ou até a totalidade do pagamento. Como os leitores decerto sabem, a falência é aquela operação que consiste em entregar o casaco aos credores e aos trabalhadores, para pagamento de dívidas e de salários, depois de ter mudado o dinheiro e outros valores para o bolso das calças. Há excepções, naturalmente, porém cada vez mais raras. Adiante...
Agora, a câmara vai ter de arranjar maneira de conseguir fundos para concluir uma obra que teoricamente já está terminada. Mas já devem estar habituados. Afinal, aconteceu o mesmo com as obras nos arruamentos da cidade antiga, e ninguém sabe quando será terminado o pavimento do Largo do Pelourinho.
Por falar em falências, Portugal já não está muito longe desse abismo, segundo as agências internacinais de notação financeira. Quanto à Câmara de Tomar...por agora fico por aqui.
Neste enquadramento de aperto financeiro, o que se pode ver na Rua Infante D. Fernando e vias adjacentes só pode revoltar qualquer cidadão consciente. Onde já havia candeeiros modernos, plantaram outros candeeiros, como se vê na foto. Para quê ? Agora vão retirar os anteriores ? Se estas asneiras não são para roubar dinheiro aos contribuintes nacionais e europeus, enchendo os bolsos de gente menos honesta, então são para quê ? Os senhores do executivo camarário, aquando da apreciação e votação do projecto, não viram que já havia candeeiros, pelo que os novos eram supérfluos ? Quem ganha afinal com estas estranhas trocas de candeeiros, e outras ? Os moradores e os contribuintes, certamente que não.
Dos habitantes desta rua e da travessa contígua se poderá dizer, com algum sentido de humor, que ao virem habitar para uma artéria do Infante D. Fernando, que foi martirizado em Fez e depois pendurado nas muralhas de Tânger, estavam sujeitos a vir a ser igualmente martirizados. Mas os contribuintes em geral, entre os quais me incluo infelizmente, que mal fizeram a Deus para serem explorados e maltratados assim ?

Ao fundo, ou à entrada da referida Rua do Infante Santo, consoante o local de observação, vive um mártir contemporâneo -o Manel Cavalo de Pau- cidadão eleitor da minha geração, que até foi à tropa e tudo. Dorme há anos nestas ruínas. Sem água, sem luz, sem sanitários, sem vidros nas janelas, alimentando-se quando há. Simples de espírito, nunca se queixou nem se queixa. Os vizinhos, mais ou menos bem instalados na vida, também nada dizem, que se saiba. Devem achar que é natural, e continuam a dormir descansados, como se nada fosse.
Mesmo ao lado da casa arruinada, fica o Estabelecimento Prisional Militar e o Regimento de Infantaria 15. Centenas de camas livres, aquecimento, água quente, roupa lavada no caso da prisão, instalações sanitárias modernas, comida a tempo e a horas, televisão e salas de estar. E assim é que deve ser.
Em qualquer outro país da Europa Ocidental, o Cavalo de Pau já teria sido transferido para um destes estabelecimentos militares, pelo menos durante o Inverno, naturalmente com inteira liberdade de movimentos, incluindo entradas e saídas. Afinal, na prisão militar estão criminosos e até pelo menos um assassino a sangue frio, apesar disso a serem tratados com a dignidade devida a qualquer ser humano, por mais erros que tenha cometido. Só o Manel, coitado, como é simples de espírito, não roubou, não matou, não fez nem faz mal a ninguém, continua a passar fome, a ter frio, a andar mal vestido e a precisar de um bom duche quanto antes.
Se calhar porque, se o levassem para o estabelecimento prisional ou para o quartel, era capaz de vir a descobrir e revelar aos inimigos importantes segredos da defesa nacional...
Podem os leitores crer que já vi muito, na paz e na guerra, na Europa, em África, na Ásia e nas Américas; mas perante situações destas, no meu País e na minha cidade, em bem quero mas não consigo dormir sossegado.
Feliz Natal para todos. Apesar de tudo !

8 comentários:

Anónimo disse...

"a falência é aquela operação que consiste em entregar o casaco aos credores e aos trabalhadores, para pagamento de dívidas e de salários, depois de ter mudado o dinheiro e outros valores para o bolso das calças."
Nem todas as falências são como diz. Muitas devem-se de facto a dificuldades financeiras das empresas. Provocadas sobretudo por credores que não pagam ou demoram muito a pagar.
Às vezes é necessário ter algum cuidado sobre o que se diz e com as nossas certezas.

Anónimo disse...

Dizer que "É espantoso o número de empresas de obras públicas que abrem falência e deixam obras por acabar, depois de terem embolsado a maior parte ou até a totalidade do pagamento." revela ignorância.

Maria disse...

Feliz Natal para si, amigo Sebastião, se conseguir esquecer o que viu.
Também eu dormi mal. Quente e abrigada, na minha casa, ouvindo o barulho do vento e da chuva, só me lembrava de dois pobres velhotes, cujo o abrigo é uma varanda, debaixo da qual dormem. Estes e outros, tiram-me o sono e a vontade de desejar Natal Feliz, seja a quem for. Já houve tempo, em que adorava esta época, hoje irrita-me, revolta-me, doi-me.
Só quero ver o Ano acabado, para que tudo continue na mesma. Natal? O que é isso? A fome, a falta de abrigo, as guerras, as catástrofes da Natureza. Onde meteram o Natal no meio de tanta desgraça?
Um abraço e, acredite, somos dois, pelo menos, a dormir mal, pela mesma razão.
Maria

Anónimo disse...

De facto, é verdade que nem todas as empresas vão à falência pela mudança do dinheiro do casaco... para as calças....

É no entanto verdade que a maioria das empresas portuguesas, por irresponsabilidade e ganância dos seus proprietários, vão descapitalizando mês a mês as suas empresas (com vales, adiantamentos para pequenos e grandes luxos) e ao fim do ano distribuem entre si a totalidade dos lucros apurados, recusando-se a capitalizar parte deles para salvaguardar o futuro da empresa e dos trabalhadores (e aé o deles).

Quando surgem as crises começam aos gritos com o Estado para lhes dar subsídios, etc., porque não há almofada. E os trabalhadores...

Pensamentos soltos disse...

Um feliz natal po D.Sebastião , familiares e amigos, sem exepcão ao "cavalo de pau".

Anónimo disse...

Maus empresários há-os em todo o lado, assim como maus empregados! As velhas mentalidades ainda dominam o país e a consequência de 40 anos de atraso entra-nos pela casa adentro todos os dias. É a vida!
Bom Natal!

Anónimo disse...

Boa noite,

É com enorme gosto que vi que o comentário apesar de contestado, foi visto por si. Quero aqui dizer que faço isto por anónimo dado que não quero expor-me pois sei que este blogue é visto por pessoas de influencia e não só, mas também seria um erro.
Quando publiquei este comentário foi como um voto de protesto e sabendo que o Dr.Rebelo(apesar de nao conhecer pessoalmente) é uma pessoa interessada manifestei aqui a minha insatisfaçao. Essa insatisfaçao provocou desagrado em alguem que respondeu ao meu comentário, e queria pegar por aí. A pessoa que rsp ao meu comentário de protesto falou falou falou, mas ainda agora o li nao percebi o que ele disse. Só quero eu e todos os tomarenses(penso eu que sejam todos) a minha cidade melhor, construi-la a um futuro melhor e não é com exibicionismo que lá vamos.

Anónimo disse...

Desde já um bom, para o professor e sua esposa qual foi minha professora.O professor diz que dormiu mal,agora dorme-se que no verão nem isso,explico á uma senhora que tem a mania de dar comida aos cães vadidos,até os chama e depois manda-os embora.Mas e de noite eles vão para ao pé duma vivenda que tem cães presos aí sim ninguém durmia,não sei se recorda de alguém apresentar queixa contra um melro que cantava bonito lá pela manhã duas ou três vezes, aqui para os vizinhos foi uma anedonta!Já agora peço que venha ver como já poseram o gás nas casas mais baixas; faz me lembrar a casas antigas que não tinham luz e tinham cabos em toda volta da casa.Á outra coisa não se mentam com o Cavalo de pau,deram-lhe uma casa no bairro e ele não quis, o contrutor fez uma(casa) o homem nasceu aqui neste terreno aqui querer viver,é a cabeça dele que manda assim, não dá mais, mas não faz mal a ninguém coitado ainda sofre porque foi para casa velha mas (é grande)porque vizinhos (temporários)ainda lhe tiram o pouco que têm. desculpe ter queixado e desde já agradeço á camara que cá veio recolher os cães.