sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

NA IMPRENSA INTERNACIONAL

Ao ouvir ou ler a chamada grande informação, fica-se com a ideia de que o pior já passou, apesar da crise persistir e estar para durar. Percebe-se. Os jornais são poucos e dependentes, o mesmo acontecendo com as televisões e as rádios. Há que ganhar a vida, o que nem sempre é fácil ou agradável. Vejamos então o que escreve um grande jornal, realmente independente porque pertence aos redactores e aos leitores.
O editorial (a posição do próprio jornal) de ontem do Le Monde tem por título "O TESTE GREGO". Resolvi rebaptizá-lo de forma a torná-lo mais apelativo. Façam o favor de ler com calma e de pôr essas cabeças a funcionar, para não enferrujarem:
CONTINUAMOS A SER OS PEDINTES DA UNIÃO EUROPEIA
"Foi nas cidades da Grécia clássica que apareceu a dívida pública, quando Atenas, Delos e outras recorreram aos empréstimos para financiar as suas guerras. É talvez um outro momento importante na história do endividamento que a Grécia se prepara agora para nos proporcionar -a primeira bancarrota de um país da zona euro.
Com efeito, as agências de notação financeira, encarregadas de avaliar a cada momento a solvabilidade dos
devedores, acabam de prevenir os investidores contra a deriva das contas públicas gregas. A agência Fitch até baixou a nota da dívida grega a longo prazo de A- para BBB+. Por outras palavras, a probabilidade de vermos a Grécia encontrar-se na impossibilidade de reembolsar as suas dívidas é elevada.
Nada de surpreendente nesta nesta degradação. O novo governo socialista grego, saído das eleições do princípio de Outubro, acaba de multiplicar por dois a estimativa do défice, feita pelo anterior governo de direita, elevando-a para 12,7% do PIB. Para além da amplitude de tal revisão, é a opacidade das contas do país que incomoda os meios financeiros.
Antes da criação do euro, os dirigentes da Bundesbank (banco central alemão) tinham alertado várias vezes para o risco que implicava, segundo eles, a adesão dos países da Europa do Sul, designados pejorativamente como as nações do "Club Med" (grande organização francesa de viagens e turismo, especializada em aldeias de férias, que possui e explora em Portugal Pedras d'El REi, no Algarve). De nada serviu. As razões políticas prevaleceram sobre as económicas, tendo a zona euro acolhido no seu seio a Grécia, berço da civilização ocidental, mas igualmente génio das artimanhas contabilísticas, a chamada "contabilidade criativa".
Somos agora forçados a reconhecer que os argumentos alemães de então (falta de competitividade, atraso industrial, estruturas arcaicas) não eram inteiramente infundados. Presentemente, é pelo acrónimo pouco lisonjeiro de PIGS (porcos, em inglês) que os meios financeiros internacionais designam os países europeus de alto risco -PORTUGAL, IRLANDA, GRÉCIA, SPAIN.
Teoricamente, o Tratado de Maastricht proibe qualquer forma de ajuda a um estado da zona euro em situação de bancarrota. Na prática, vê-se mal como é que os países da Europa do Norte e o Banco Central Europeu poderiam recusar-se a auxiliar um país em cessação de pagamentos, sob pena de desencadear uma grave crise de confiança em relação ao euro. Falta saber como reagirão os contribuintes alemães, holandeses ou franceses, quando lhes aumentarem os impostos para salvar os gregos ou os portugueses. A moeda europeia terá então o seu primeiro "crash test", ou seja a demonstração da sua capacidade para resistir aos grandes acidentes."
Eric Fottorino, Le Monde
Tradução, adaptação e notas de António Rebelo
(Os negritos são do tradutor)
Nota final: Como decerto ouviram ontem nos telejornais, o governo irlandês reduziu os vencimentos da função pública em 10%. Por cá, os sindicatos da função pública, com o seu habitual realismo económico, reivindicam aumentos de 4,5% . E o governo Sócrates aumentou o salário mínimo. Continuamos a acreditar em milagres, é o que é !

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