quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

OUTRO BRILHANTE TRABALHO DE RESTAURO

A ideia de restaurar, conservar ou requalificar o património da cidade sem ouvir previamente os tomarenses, ou os seus representantes, já vem de longe. E ninguém parece ter-se dado conta de que o normal em época de ditadura,se torna muito estranho em democracia. Mais ainda quando os habitantes nem piam, apesar de os considerarem parte da paisagem. Assim uma espécie de ciprestes do Castelo, pinheiros da Cerca, plátanos do Mouchão ou tílias da Várzea Pequena.
Nesta foto de 1928, vê-se a capela arrabaldina de S. Gregório, com três portas, uma janela através da qual se podia ver um braço-relíquia em prata de S. Gregório Nazianzeno. No topo, a cúpula coberta a telha de canudo. Mais tarde, nos anos 40, sempre sem informar ou ouvir os tomarenses, levaram a relíquia e acabaram com a janela e a porta do lado esquerdo. Mas deixaram o telhado na cúpula.


Foi, porém, sol de pouca dura. Já depois de 1974, apareceram por aí umas luminárias, certamente bafejadas pela graça do Senhor, e zás! -Decretaram que a capela, da primeira metade do século XVI, com um portal inacabado em manuelino tosco, tinha influência árabe. Vai daí, a cúpula semi-esférica só podia ser estilo "meia-laranja", portanto sem telhas. Exactamente como os túmulos dos "marabouts" marroquinos. Bem dito, bem feito. Vá de mandar retirar as telhas, os barrotes e as ripas, para a seguir se proceder à indispensável impermeabilização. Entretanto, aproveitando a ocasião e para ficar mais típico, mandaram pintar uma faixa amarelo-ocre em forma de coleira. Os turistas devem gostar destas coisas...


O resultado de tais ideias luminosas já se começa a notar na abóbada, e agravar-se-á rapidamente, como não pode deixar de ser, uma vez que ocorre sistematicamente nos casos de infiltração.
Ouvir os eleitos locais ? Os arquitectos tomarenses ? Outros tomarenses ? Para quê ? Quem manda somos nós; isto aqui é só paisagem. E de qualquer modo estes provincianos, mal nós abrimos a boca, põem-se logo de cócoras. Por isso, falar com esta gente seria pura perda de tempo.
Má língua, eu? Ou apenas demasiado frontal e realista, coisa rara por estas bandas ?

1 comentário:

Anónimo disse...

A capela de S.Gregório não é um portento da monumentalidade como é óbvio, mas foi sempre referenciada como algo sui generis pela sua forma pouco comum. O local onde está implantada já foi mais atraente, em tempos em que a pressão urbanística não se fazia sentir dando-lhe maior protagonismo. Agora é o que se vê. Não há nada de bom que lhe aconteça. Mesmo ao lado construiram umas sentinas públicas, puseram-lhe á frente uns centros de mesa florados e, pasme-se, agora até o seu pequeno e singelo "adro" serve de casa, juntamente com as ditas sentinas, para o Sousa. Esta é uma situação que envergonha qualquer tomarense e deveria ter semelhante efeito nos "políticos" da nossa praça, verdadeiros "vintage" da nossa sociedade, os eleitos, os iluminados.
Do Sousa, coitado, já toda a gente conhece as práticas que nunca primaram pela higiene. Vê-se pelo estado do local. Quem por ali passe, de viagem por Tomar, leva uma rica recordação de Tomar, cidade templária, como os atrás referidos iluminados gostam de adjectivar esta terra.

Urge recuperar aquele espaço. Urge tratar de arranjar uma solução humana e humanizada para o Sousa. E já que aqui estou a falar da Capela de S. Gregório porque não chamar a atenção para a sua vizinha, as escadinhas da Senhora da Piedade, cujo estado lastimoso parece passar completamente despercebido às pessoas de Tomar